Da Folha de S.

Paulo O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, único da mais alta corte do País a votar contra na acusação de formação de quadrilha contra o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e outros acusados, teria dito que “a imprensa acuou o Supremo” durante o julgamento.

E acrescentado: “a tendência era amaciar para o Dirceu”.

Lewandowski teria falado ao telefone com um interlocutor de nome Marcelo e a conversa, que ocorreu por volta das 21h35 de anteontem, foi testemunhada pela jornalista Vera Magalhães, que relatou o fato no Painel da Folha de hoje.

Segundo a jornalista, Lewandowski jantava, acompanhado, no recém-inaugurado Expand Wine Store by Piantella, na Asa Sul, em Brasília.

O ministro conversou ao celular, caminhando pelo jardim externo do restaurante, onde havia algumas mesas - uma delas ocupada pela jornalista.

A menção à imprensa parecia se dever à divulgação, na semana passada, pelo jornal O Globo, do conteúdo de trocas de mensagens pelo computador entre ministros do STF, principalmente de uma conversa entre Lewandowski e a colega Cármen Lúcia.

Os dois partilharam dúvidas e opiniões a respeito do julgamento, especulavam sobre o voto de colegas e aludiam a um suposto acordo envolvendo a aposentadoria do ex-ministro Sepúlveda Pertence e a nomeação - que veio a se confirmar - de Carlos Alberto Direito para seu lugar.

Lewandowski chegou a relacionar o suposto acordo ao resultado do julgamento.

Na conversa ao telefone, o ministro opinou que a decisão da Corte poderia ter sido diferente, não fosse a exposição dos diálogos.

Em seu voto divergente no caso de Dirceu, Lewandowski disse que “não ficou suficientemente comprovada” a formação de quadrilha no que diz respeito ao ex-ministro. “Está se potencializando o cargo ocupado (por José Dirceu) exatamente para se imputar a ele a formação de quadrilha”, afirmou.

Enrique Ricardo Lewandowski foi o quinto ministro do STF nomeado por Lula, em fevereiro do ano passado, para o lugar de Carlos Velloso.

Antes, era desembargador do Tribunal de Justiça de SP.

No geral, o ministro foi o que mais divergiu do voto de Barbosa: 12 ocasiões.

Além de não acolher a denúncia contra Dirceu por formação de quadrilha, também se opôs ao enquadramento do deputado José Genoino nesse crime, no que foi acompanhado por Eros Grau.