Por Roberta Rivin, Graça Azevedo e Glória Azevedo, moradoras da Cidade Alta.

O Sítio Histórico de Olinda é terra de ninguém.

Lá, de quinta a domingo, impreterivelmente, estudantes, trabalhadores indistintos e idosos sofrem com os estrondosos barulhos dos sons que imperam na Cidade Alta.

Nem a Lei do Ruído nem a voz dos moradores, protestando pela tolerância dos decibéis, tem vez, em Olinda.

Os sons são diversos: o famoso Clube Atlântico, que nunca ouviu falar em sistema acústico – situado no pé da Cidade Alta -, promove suas ilustres festas todos os fins de semana distribuindo do forró ao metálico para tirar o sono de qualquer um.

Junta-se aos tambores, que começam a soar na quinta e só param no domingo, quando o Sítio Histórico repousa da barulheira (e sujeira) causada pelo público assíduo do desordenado Alto da Sé.

A falta de respeito na Cidade Alta começa lá mesmo.

Alguns moradores se valem da ausência do Poder Público para abusar do volume, ignorando solenemente a existência da vizinhança.

Ontem, o nobre Centro Luiz Freire – vizinho da Prefeitura – promoveu, em plena quarta-feira, uma festa com orquestra que estrondou as ladeiras da Cidade Alta.

Um contraditório jeito de homenagear a luta pelos direitos humanos.

Sábado passado, uma festa de arrasar quarteirão, na Rua do Bomfim, ensurdeceu as ruas vizinhas e deixou de pé os que esperam por uma noite de sono mais longa, depois da semana inteira de trabalho.

O policial de plantão do posto do Amparo se ocupa do barulho lá de cima para divertir seu ócio.

Ouviu, registrou a queixa no 190 e disse, mecanicamente: “agora é só esperar”.

De fato.

Nós, estudantes, trabalhadores, idosos, esperamos até às 5h da manhã para fechar os olhos, quando o som da casa resolveu se calar.

Fica, agora, a indagação: para que serve o protocolo da queixa 1842399, registrado às 2h39 da madrugada?

Para que servem a Lei do Ruído e o 190 ?

E a prefeitura?

Ah, seu prédio com a beleza imponente das janelas e das fachadas enobrece e enfeita a vista dos turistas que passeiam pelas ladeiras da Cidade Alta Patrimônio Histórico da Humanidade.

E para reverenciar esses títulos, o Poder Público atua com rigidez.

Basta um morador desavisado bater um prego na fachada da sua casa ou tentar mudar a cor do muro para os fiscais de plantão aparecerem rapidamente, proibindo, multando e relembrando a legislação do eminente Patrimônio Histórico.

A lei que protege os títulos de Olinda é cumprida sem demora.

A lei que protege os moradores é ignorada, cada fim de semana com mais veemência.

Cadê o órgão municipal pra fiscalizar a Lei do Ruído?

Cadê o Ministério Público, fiscal da lei?

Não se importa com a cidade-irmã?

E a ilustre prefeita Luciana Santos, até quando vai fechar os olhos para os desmandos da Cidade Alta?

Ah….do alto do 11◦ andar do seu apartamento, na orla do Bairro Novo, barulhos só dos ventos de agosto e das ondas do mar.

Pena que os moradores do Sítio Histórico não têm a mesma sorte!