Aliado político do presidente brasileiro enfrenta julgamento por corrupção Por Alexei Barrionuevo No Rio de Janeiro Um escândalo de corrupção que paira como uma nuvem negra sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva há dois anos intensificou-se nesta semana depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil decidiu em votação submeter o ex-ministro-chefe da Casa Civil a julgamento devido a acusações de corrupção.
Os ministros do STF votaram unanimemente na última segunda-feira a favor de transformar em réu José Dirceu de Oliveira e Silva, o mais próximo aliado do presidente a ser julgado no esquema que envolvia a compra de votos.
Depois disso, na terça-feira (28/08), os ministros decidiram por nove votos favoráveis e um contra aceitar a acusação de que ele seria o “líder da organização criminosa”.
Dirceu, que muitos consideram o arquiteto da ascensão de Lula ao poder, renunciou ao gabinete em junho de 2005, após ter sido acusado de liderar um esquema para pagar membros do Congresso a fim de que estes apoiassem o Partido dos Trabalhadores.
Os ministros também decidiram na segunda-feira submeter Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do partido de Lula, a julgamento devido às denúncias de corrupção.
Cada um dos réus poderá ser condenado a até 12 anos de prisão caso for considerado culpado.
Esta foi a primeira vez em que o Supremo Tribunal brasileiro votou favoravelmente à imposição de penas criminais contra autoridades políticas de alto escalão. “Não há dúvida de que este é um momento histórico para o tribunal”, afirmou Lúcia Hippolito, analista e professora de ciências políticas que mora no Rio de Janeiro. “Os dias de impunidade para os privilegiados parecem ter acabado”.
No Brasil poucos políticos acusados de corrupção vão de fato para a cadeia.
O Supremo Tribunal se recusou anteriormente a acusar criminalmente o presidente Fernando Collor de Mello, depois que este renunciou ao cargo em meio a um processo de impeachment em 1992.
Segundo foi revelado à época, Collor operava um caixa dois secreto multimilionário.
Lula, um ex-líder sindical, se distanciou do escândalo em 2005, e foi reeleito um ano depois, ainda que políticos da direita e da esquerda tivessem descartado a sua possibilidade de vitória.
Os ministros ainda estavam decidindo na terça-feira que acusações exatamente serão feitas em julgamento contra os dois homens e os outros 38 indivíduos que foram considerados réus no esquema de corrupção, mas eles informaram que dentre as acusações consideradas estão as de apropriação indevida de verbas, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e fraude.
Embora o partido de Lula tenha admitido o uso de verbas ilícitas para o financiamento das campanhas eleitorais dos seus membros e dos aliados no congresso entre 2002 e 2004, o Partido dos Trabalhadores negou que o dinheiro tenha sido utilizado para o pagamento de propinas a parlamentares.
O atual escândalo estourou em maio de 2005, quando um funcionário graduado dos Correios foi flagrado em uma gravação em vídeo pedindo propina a uma potencial empreiteira em nome de um dos importantes aliados políticos de Lula.
O funcionário alegou que outros nomeados políticos que ocupavam cargos em agências estatais estavam envolvidos em esquemas similares para beneficiar os partidos aliados de Lula.
O presidente conseguiu evitar danos políticos resultantes do escândalo de corrupção, bem como das acusações de outras aparentes demonstrações de incompetência.
No mês passado, um acidente aeronáutico em São Paulo que matou 199 pessoas revelou a vasta gama de problemas que aflige o sistema de aviação do país.
Vários políticos e analistas afirmaram que o presidente não tomou providências suficientes após um outro acidente mortífero ocorrido apenas dez meses antes.
Mas o elevado índice de aprovação de Lula continua praticamente não sendo afetado.
Hippolito disse acreditar que as acusações feitas nesta semana poderão prejudicar o presidente porque elas trazem o escândalo para a porta de Lula.