Do Blog de Josias Será aberta a votação final do Renangate no Conselho de Ética do Senado.
Uma articulação subterrânea reunindo oposicionistas e governistas insurretos consolidou confortável maioria contra o voto secreto.
Dos 15 senadores que integram o colegiado, pelo menos dez já se comprometeram a erguer barricadas contra a última manobra Renan Calheiros, para tentar fugir ao processo de cassação.
O presidente do Senado encomendou à assessoria jurídica da Casa um parecer segundo o qual a decisão do Conselho de Ética sobre o processo contra Renan só pode ser tomada por meio de votação secreta.
O grupo anti-Renan deliberou que vai fulminar no voto qualquer tentativa de impor o sigilo à apreciação do relatório que recomenda a cassação do mandato do senador por quebra de decoro parlamentar.
Vai funcionar assim: se Leomar Quintanilha (PMDB-TO), presidente do Conselho de Ética, insistir no voto fechado, será confrontado com um requerimento a ser apresentando por um dos dois signatários do relatório favorável à cassação de Renan –Renato Casagrande (PSB-ES) ou Marisa Serrano (PSDB-MS).
No documento, o relator vai requerer que a decisão sobre a modalidade de votação seja transferida para o plenário do conselho.
Pelo regimento, Quintanilha, um ativo membro da milícia parlamentar pró-Renan, não pode esquivar-se de levar a voto um requerimento respaldado pela maioria do conselho.
E o voto aberto prevalecerá por pelo menos 10 dos 15 votos disponíveis no conselho.
O placar deve se repetir na aprovação do relatório da dupla Casagrande-Marisa, que empilha um sem-número de transgressões ao decoro cometidas por Renan.
A costura do voto aberto foi concluída na noite desta terça-feira (28).
Tonificou-se a partir de uma novidade que revelou a forma desabrida com que Renan Calheiros está se valendo do cargo de presidente da Casa em benefício próprio.
O secretário-geral-adjunto da Mesa Diretora do Senado, um funcionário de carreita chamado Marcos Santi, renunciou ao cargo.
Santi justificou o gesto como uma reação à pressão exercida por Renan e seu grupo para que a assessoria do Senado produzisse o parecer favorável ao voto secreto.
Disse que a interpretação expressa no relatório da consultoria jurídica resulta de uma encomenda feita para beneficiar Renan.
A notícia fez deteriorar-se no Conselho de Ética a situação política de Renan, que já não era boa.
Leomar Quintanilha foi aconselhado a desistir da idéia de se valer do parecer feito sob medida.
Foi alertado de que, se insistir, arrostará uma derrota acachapante no conselho.
Cogita-se inclusive convocar o funcionário Marcos Santi para um depoimento no Conselho de Ética, diante das câmeras da TV Senado.
Está prevista para esta quinta-feira (30) a leitura e votação dos relatórios finais do Renangate.
Serão dois.
O de Casagrande e Marisa, favorável à cassação, e o de Almeida Lima (PMDB-SE), que pede a absolvição do presidente do Senado.
Renan sabe que vai perder.
São os seguintes os votos contabilizados como favoráveis à aprovação da tese da quebra de decoro: 1) Renato Casagrande, 2) Marisa Serrano, 3) Marconi Perillo (PSDB-GO), 4) Eduardo Suplicy (PT-SP), 5) Augusto Botelho (PT-RO), 6) Demóstenes Torres (DEM-GO), 7) Heráclito Fortes (DEM-PI), 8) Adelmir Santana (DEM-DF), 9) Romeu Tuma (SP) e 10) Jefferson Peres (PDT-AM).
Renan se bate pelo voto secreto por acreditar que, protegidos pelo anonimato, senadores como Tuma, Adelmir e Heráclito poderiam animar-se a votar pela absolvição.
Daí o esforço pela manutenção da votação aberta.
Sentindo o cheiro de queimado, a milícia parlamentar a serviço de Renan já cogita pedir vista do relatório adverso ao comandante da tropa.
O que protelaria a decisão do conselho.
A manobra, por inútil, serviria apenas para prolongar o calvário que rói a autoridade e a legitimidade do presidente do Senado.