O superintendente regional do Incra em Pernambuco, Francisco José Nascimento, envia na próxima segunda (3 de setembro) aos engenhos da antiga Usina Catende, na mata sul do Estado, uma equipe de funcionários que vai averiguar as denúncias formuladas por cerca de 800 famílias de agricultores contra a cooperativa Harmonia.

A decisão foi acertada ontem (terça, 29) em reunião entre o superintendente do Incra, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Catende (Sintaf), Manoel Amaro da Silva, e o diretor jurídico da entidade, Erivaldo Melo, que também é advogado das 800 famílias.

O acordo garantiu a desocupação da sede do Incra no Recife, na Avenida Rosa e Silva, Aflitos, que havia sido tomada por cerca de 300 agricultores.

Eles chegaram no início da tarde da terça e deixaram o órgão poucas horas depois, no início da noite.

De acordo com o diretor jurídico do Sintaf, cada uma das 800 famílias em questão quer ter a posse de sua própria terra.

E, assim, poder se desvincular do modelo coletivo de reforma agrária, defendido pelo síndico da massa falida da antiga usina, Marivaldo Andrade.

A Usina Catende teve sua falência decretada em 1995.

Desde então, a massa falida vem sendo administrada, teoricamente, pelos próprios trabalhadores.

Para isso, foi criada a Cooperativa Harmonia, que recebe dos agricultores a cana produzida nos engenhos e repassa à usina sob responsabilidade do síndico da massa falida.

DENÚNCIAS O problema, segundo Erivaldo Melo, do Sintaf, é que o modelo coletivo não está funcionando.

Os atrasos no pagamento dos trabalhadores são constantes.

Algumas famílias não recebem há cerca de um ano.

Para completar o quadro, os agricultores estariam sendo induzidos a tomar empréstimos através do Pronaf (Programa Nacional da Agricultura Familiar), cujos valores seriam entregues à coopertiva para fazer os pagamentos em atraso.

Ou seja: a cooperativa quita os repasses atrasados, mas quem acaba pagando os empréstimos são os trabalhadores.

Essa manobra e outras irregularidades já haviam sido denunciadas aqui no Blog, no início de julho, pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco, Laan Izidoro.

No último final de semana, o Blog também publicou com exclusividade que o juiz da 18a vara Cívil da Capital, Sílvio Romero Beltrão, está questionando a existência da cooperativa Harmonia, sob o ponto de vista das vantagens para os trabalhadores.

Nas terras da Usina Catende, desapropriadas no final do ano passado em favor do Incra, vivem cerca de 4.300 famílias.

As 800 que já manifestaram o desejo de se verem livres da cooperativa ocupam 13 dos 23 engenhos desapropriados.

Para Erivaldo Melo, se o Incra intensificar sua presença na área, as demais famílias vão acabar unindo-se no enfrentamento à cooperativa. “Não se tem notícia de eleição para a presidência da Harmonia.

Os trabalhadores não sabem como ela funciona”, acusa o diretor jurídico do Sintaf.

Com a decisão de visitar a área na próxima semana, o Incra parece que começa a se mover para esclarecer o as denúncias.

Veja o que já publicamos sobre o assunto, aqui.