Da Agência Estado Um presidente da República que prega as virtudes da democracia e exalta a elementar regra da alternância do poder e demonstra apenas incômodo com os desdobramentos do julgamento do mensalão, no Supremo Tribunal Federal. “Quem errou pagará pelo erro”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista publicada no jornal “O Estado de S.
Paulo”.
Irritado com os comentários de que deseja espichar sua permanência no Planalto ao defender uma Constituinte exclusiva para votar a reforma política, Lula diz que nem com o povo na rua aceitaria um terceiro mandato. “Quando um dirigente político começa a pensar que é imprescindível, que ele é insubstituível, começa a nascer um ditadorzinho.” Lula revelou que não será um espectador da sucessão: “Tenho posição política, tenho partido.
E quero subir em palanque”, anunciou.
Não disse qual, sob o argumento de que, quando tomar essa decisão, uma “flecha” será apontada para a cabeça do indicado.
Mas, para desespero do PT, pregou candidatura única da base que dá sustentação ao governo, em 2010.
Presidente, o sr. já pediu aos partidos aliados que se entendam sobre as eleições municipais do ano que vem e que o ideal seria ter um candidato único da base para 2010.
Mas o PT, no 3.º Congresso, que começa esta semana, em São Paulo, vai destacar a necessidade de ter um candidato próprio à sua sucessão.
A base pode implodir?
LULA - Seria prudente que nós aprendêssemos algumas lições que a vida ensina.
Muitas vezes, a disputa se dá por interesse pessoal de um indivíduo, que quer marcar posição sendo candidato a alguma coisa.
Se ele tem sucesso, ótimo.
Se ele não tem, todos ficam com o prejuízo de uma derrota eleitoral.
Tenho ponderado aos presidentes dos partidos da base que seria importante que eles conversassem e começassem a mapear a possibilidade de alianças políticas nas prefeituras das capitais e das cidades mais importantes do País.
Se as direções não conversam antecipadamente, permitem que o jogo eleitoral e o interesse iminentemente municipal determinem a política local e o conflito nacional.
Onde é possível construir aliança política para disputar, por exemplo, 2008?
Onde é possível ter candidaturas próprias?
Esse gesto pode facilitar a candidatura em 2010.
Esse candidato não será necessariamente do PT?
LULA - Se a gente tiver juízo, a gente constrói essa candidatura única.
Ser do PT ou não ser do PT é um problema que o partido vai ter de decidir.
Eu acho improvável que um partido do tamanho do PT decida não ter candidato.
Assim como é bastante provável que todos os outros partidos da base apresentem candidatos.
Mas é importante que o PT esteja disposto a conversar, e que a gente construa a possibilidade de ter uma candidatura única da base.
Qual é o perfil ideal desse candidato único?
LULA - É aquele que dê continuidade à política que estamos plantando agora.
Quando a gente assume um compromisso da importância de colocar R$ 504 bilhões para produzir melhorias na vida dos brasileiros até 2010, isso vai formar uma carteira de obras no Brasil que, se você não deixar isso parar mais, você tem a chance de, em pouco tempo, dar ao Brasil todo o melhoramento que o Brasil precisa, desde saneamento básico até portos, aeroportos, gasodutos e rodovias.
Se você trunca a política social, ela perde a eficácia.
Se continuar todo ano aumentando um pouquinho, você consolida um país com uma classe média forte e uma classe média baixa, mas com poder de sobrevivência com dignidade.
Essa combinação é que vai transformar o Brasil em um país definitivamente justo.
E os nomes?
LULA - Eu evito citar nomes porque, em política eleitoral, quando você cita um nome com antecedência você está, na verdade, queimando esse nome.
Primeiro você queima internamente com os possíveis pré-candidatos.
Depois, queima na base aliada com candidatos de outros partidos.
E, finalmente, os adversários e a imprensa colocam uma flecha direcionada para ele 24 horas por dia.
Então, penso que o nome deve ser mantido sob segredo de Estado.
Nesses 12 anos, até ganhar a eleição em 2002, qual foi a grande mudança?
LULA - Não acredito na palavra insubstituível.
Não existe ninguém que não seja substituível, ou que seja imprescindível.
Quando um dirigente político começa a pensar que é imprescindível, que ele é insubstituível, começa a nascer um ditadorzinho.
Acho que eu só cheguei à Presidência da República por conta da democracia deste país.
Foi a democracia que permitiu que um operário metalúrgico, utilizando todos os instrumentos democráticos e vivendo as adversidades, chegasse à Presidência.
Então, eu tenho de valorizar isso.
Um dia eu acreditei que era possível chegar à Presidência pelo voto.
E não eram poucos os estudiosos que me diziam que seria impossível, pelo voto, chegar lá.