Programa reduz força de vereadores e líderes A principal mudança do Orçamento Participativo (OP) na gestão João Paulo (PT) em relação ao programa que o antecedeu, o Prefeitura nos Bairros, lançado por Jarbas Vasconcelos (PMDB) na década de 1980, é a quebra da hegemonia de líderes comunitários como interlocutor entre Prefeitura e população. “A dinâmica do OP que a gente queria trabalhar era a dinâmica de massa, não só de lideranças”, explica o secretário João da Costa.

As mudanças começaram em 2004.

De lá para cá, em vez do prestígio da liderança junto ao prefeito, passou a valer a mobilização da comunidade para definição da obra.

A prova disso é o que ocorreu nos bairros vizinhos do Jordão e do Ibura, na Zona Sul do Recife.

José Joaquim Filho, delegado do OP na comunidade Esperança, no Jordão, reclama desde 2001 a construção de um muro de arrimo em uma barreira nos fundos de sua casa, que coloca também em risco seus vizinhos.

Ele mobilizou os moradores da área para escolherem a obra como prioritária no dia da votação do OP.

Mas perderam para os vizinhos do Ibura, que tiveram mais votos. “A prefeitura então manda lonas para cá”, queixa-se.

Para buscar mais inserção, esse ano o OP teve, pela primeira vez, votações via internet.

Nessa modalidade não foi necessário participar de reuniões plenárias para debater quais as prioridades para cada região.

O processo de votação também foi simplificado.

Antes, a população ia às plenárias regionais e votava em temas prioritários (saúde, educação) e depois na obra, dentro do tema mais votado.

Em 2007, votou-se apenas na obra entre as 10 mais lembradas pela população, e em urnas eletrônicas.

A participação no OP dos moradores dos bairros de maior concentração de renda é pequena.

Segundo João da Costa, como a classe média tem outros instrumentos para pressionar o poder público, não se interessa pelo programa. “Eles procuram um político amigo, a imprensa, o Ministério Público e, historicamente, eles sempre tiveram, e têm, melhor acesso aos gestores públicos”, afirma.

Cristina Henriques, presidente da Associação de Moradores do Pina, Boa Viagem e Setúbal, confirma essa versão, ao mesmo tempo que critica o programa. “Quando buscamos alguma coisa, fazemos requerimentos diretos aos secretários.

Se for o caso, denunciamos a ilegalidade ao Ministério Público.

Não temos tempo de mobilizar as pessoas para as plenárias do OP.

E também acho que eles fazem um esforço muito grande para pouco resultado prático”, analisa.