Da Editoria de Política do JC, em 14.10.2006 A desapropriação das terras de 23 dos 48 engenhos da Usina Catende, no município do mesmo nome, na Mata Sul de Pernambuco, não foi uma ação eleitoreira do presidente Lula (PT) para beneficiar a sua campanha e a do candidato a governador Eduardo Campos (PSB), que é apoiado pelo petista. É o que garante o próprio socialista, que ontem participou da solenidade de assinatura do decreto. “O processo já tinha sido iniciado há dois anos quando estas terras foram consideradas de utilidade pública.

Se dependesse da vontade política, teria ocorrido antes.

Demorou por uma questão burocrática.

Em breve, os outros engenhos também serão desapropriados e as famílias terão a posse das terras”, disse o ex-ministro da Ciência e Tecnologia.

Cenas deste ato público, no entanto, devem ser utilizadas no guia eleitoral da Frente Popular porque a medida do governo federal representa o reconhecimento de uma luta apoiada pelo avô de Eduardo, o ex-governador Miguel Arraes.

Ele se identificava com a iniciativa dos canavieiros que, depois da falência da usina, em 1995, não queriam perder os empregos.

Era comum ver Arraes visitando os engenhos, mesmo depois que deixou o governo, e participando das solenidades promovidas pelos trabalhadores.

Mesmo antes de se transformar em um projeto de assentamento, a Usina Catende já é alvo de projetos produtivos dos próprios trabalhadores rurais que vivem na área, como os de bovinocultura de leite, piscicultura, fabricação de ração animal (como um subproduto do açúcar), plantio coletivo de café e milho e adoção da fruticultura.

As famílias que já moram nas construções ao redor dos engenhos é que deverão ser assentadas no local.

A Usina Catende começou a operar no final do século 19.

Na década de 20, do século seguinte, foi comprada por Antônio Ferreira da Costa Azevedo, conhecido como o tenente.

Viveu o seu apogeu entre as décadas de 40 e 50.

Quatro décadas depois, começou a pior fase, que culminou com sua falência em 95.

Unidos, os canavieiros conseguiram, na Justiça, administrar a massa falida de forma cooperada com a empresa Harmonia.

A usina é uma das principais fontes de emprego e renda para os mais de 140 mil habitantes de cinco cidades da Região: Catende, Palmares, Água Preta, Jaqueira e Xexéu.