Por Edílson Silva Poucos temas políticos no Brasil carregam consigo tanta carga de emoção quanto o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.
A luta contra este projeto tem sido feita de forma apaixonada, dos tribunais à beira do Rio.
O motivo tem a ver com o fato de que equivocar-se no trato com o Velho Chico pode gerar danos irreversíveis e conseqüências catastróficas ao meio ambiente.
O cenário de aquecimento global torna o tema ainda mais dramático.
O projeto, orçado inicialmente em cerca de R$ 6 bilhões, mas que segundo especialistas pode chegar ao final da obra em cerca de R$ 20 bilhões, contraria o acúmulo de conhecimento adquirido ao longo das últimas décadas por renomadas entidades e pesquisadores, que atestam com folga de argumentos que as soluções para os problemas de escassez de água no semi-árido estão no próprio semi-árido, como a utilização das águas das chuvas, construção de cisternas, entre outras medidas, a custos imensamente inferiores aos propostos no projeto do governo Lula e de forma ecologicamente sustentável.
A legislação brasileira que trata dos recursos hídricos garante que as comunidades das bacias hidrográficas têm o poder de decidir sobre os projetos envolvendo suas respectivas bacias.
As comunidades da bacia do São Francisco são contra este projeto, e defendem em primeiro lugar a revitalização do Rio.
Mas o governo desrespeita a legislação e as populações.
Para tentar passar tamanha irracionalidade e justificar seu caráter anti-democrático, o governo utiliza-se de mentiras e marketing.
Afirma que o projeto levará água de beber para mais de 10 milhões de pessoas do semi-árido nordestino, e que os que são contrários ao projeto não querem matar a sede desses milhões.
O governo tenta assim criar um conflito artificial entre regiões.
O que o governo Lula esconde da população é que a água servirá para abastecer fábricas, fazendas de camarão e agricultura irrigada, que pela capacidade gigantesca de consumo de água, não seriam contempladas com os projetos voltados prioritariamente para água de beber.
E é exatamente isto que está em jogo.
Vão sangrar o Rio São Francisco até a morte para garantir água para indústrias e negócios capitalistas de ocasião.
Pior, a água para beber não chegará sequer a 25% da população que o governo diz que atingirá.
E tem mais.
Como se trata de uma obra bilionária, a corrupção está impregnada no projeto.
A Gautama, empreiteira corrupta desvendada na Operação Navalha da Polícia Federal, é uma das grandes beneficiadas com o projeto.
Outras empreiteiras, que não foram contempladas nas licitações, estão com ações judiciais buscando reparar ilícitos no processo de escolha das empresas.
Em meio a tudo isso o povo luta como pode para defender o Rio São Francisco e tudo o que ele representa.
Ações judiciais, greve de fome, passeatas, debates e ocupações às margens do Rio são algumas das ações que vêm sendo implementadas.
Esta semana, uma caravana formada por movimentos sociais de defesa do meio ambiente, técnicos, especialistas, professores universitários, representantes do Ministério Público, saíram de Belo Horizonte e percorrerão 15 cidades brasileiras alertando a população e autoridades e buscando apoio contra o projeto de transposição.
Trata-se, portanto, de uma questão ambiental de altíssima relevância não só para as populações desta bacia, mas para o conjunto do nosso ecossistema, razão pela qual é assunto do interesse de todos, e todos podem ajudar, participando e solidarizando-se com as inúmeras iniciativas que vêm sendo tomadas, juntando-se aos protestos e pressionando parlamentares.
Ainda há tempo de salvar o São Francisco desta ação que visa privatizar suas águas, colocando em risco a sua própria existência e a qualidade de vida das gerações futuras.
PS:Edílson Silva é Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao Governo do Estado em 2006 e escreve às sextas para o Blog do Jamildo.