Da Veja O laudo do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal que apontou inconsistências na evolução patrimonial do presidente do Senado, Renan Calheiros, foi entregue na noite desta terça-feira ao Senado.
Como havia adiantado a edição de VEJA desta semana, o laudo – que analisou documentos entregues por Renan – demole o frágil mais alardeado álibi do senador, que pretendia demonstrar ter os recursos financeiros necessários para pagar suas despesas pessoais sem ter de recorrer aos préstimos de um lobista de empreiteira.
Os saques, que o senador apresentou como prova, não batem com os valores nem com as datas de entrada de dinheiro na conta da jornalista Mônica Veloso – com quem Renan teve uma filha.
Conforme os peritos, não há uma só prova de transferência direta de Renan para Mônica, como um cheque ou valor retirado da sua conta, depositado ou transferido diretamente para a conta da jornalista.
Os documentos não provam sequer que Renan vendeu, como alega, os 2.200 bois, ou que faturou 1,9 milhão de reais com suas atividades rurais em quatro anos.
Isso porque ele entregou como provas notas fiscais que não batem com as guias de transporte de animais (GTAs), nem nas quantidades nem nos valores, ou nas datas.
Renan não comprovou sequer a entrada do dinheiro na sua conta como fruto dos negócios bovinos.
Até a quantidade de vacinas dá diferença do tamanho do rebanho.
Com 38 páginas e vários anexos, o laudo revela que os documentos entregues à perícia – notas fiscais de venda de bois, recibos, guias de transporte de animais e declarações de renda desde 2002 – são autênticos.
Mas aponta indícios de falsidade ideológica que, para os peritos, precisam ser investigados em profundidade em diligências policiais, seja a pedido do próprio Senado, ou por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
O laudo foi entregue lacrado para ser aberto nesta quarta-feira pelos senadores, que decidirão os próximos passos.
Uma cópia do laudo será entregue ao STF também nesta quarta, onde foi aberto pelo Ministério Público Federal inquérito para investigar suspeitas de enriquecimento ilícito, uso de documentos falsos, prevaricação e crime financeiro que pesam contra o senador.
Segundo autoridades que tiveram acesso ao trabalho dos peritos, a impressão é que Renan maquiou o patrimônio para justificar o pagamento da pensão, mas faltou cuidado na hora de fechar as contas às pressas.
O presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), informou que, a partir desta quarta, dará cinco dias para Renan apresentar defesa.
Em seguida, abrirá prazo para os relatores darem seu parecer.
A previsão é que o processo possa ser julgado no fim de setembro.
Se o conselho aprovar parecer pela cassação, ele seguirá para o plenário, onde precisará dos votos de 41 senadores, a maioria absoluta.