Da Folha de São Paulo Prima-irmã do PT e uma das principais fornecedoras de quadros para a administração federal, a Central Única dos Trabalhadores ameaça carimbar como “contrários aos trabalhadores” deputados e senadores que apóiem alguns dos principais projetos do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Levarão essa pecha os parlamentares que não responderem a contento uma enquete sobre 15 temas, preparada pela CUT como parte da mobilização que a entidade promoveu na semana passada, em Brasília - onde boa parte de seus ex-dirigentes e fundadores já está instalada há alguns anos, a começar pelo próprio presidente da República.

Nem o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), principal bandeira do segundo mandato, sai ileso.

Para a central, o projeto que limita o crescimento dos gastos com pessoal nos três Poderes, uma das propostas prioritárias do pacote, deve ser simplesmente retirado do Congresso.

O mesmo destino é defendido para o recém-anunciado projeto que recicla idéias do tucanato e cria as fundações estatais de direito privado, apresentado pelo ministro Paulo Bernardo - um antigo companheiro de lutas no sindicato dos bancários, hoje instalado no Planejamento- como saída para as deficiências de gestão na administração pública.

Algumas posições cobradas dos deputados e senadores são menos específicas, mas muito mais ambiciosas.

Os pró-trabalhadores, de acordo com a CUT, devem trabalhar por “mudanças na política econômica, com redução dos juros e do superávit primário”.

Também precisam defender “aumento real de salário para todos os trabalhadores”, ainda que seja difícil imaginar como o Congresso Nacional poderia promovê-lo. “Salientamos que aqueles parlamentares que não responderem à enquete serão computados e amplamente divulgados em materiais da CUT como “contrários aos trabalhadores", orienta comunicado da central às sucursais estaduais encarregadas de aplicar o questionário.

Artur Henrique, presidente da central, não vê contradição entre o apoio a Lula -limitado à campanha eleitoral, ressalta- e o combate a propostas de seu governo.

A CUT é autônoma, afirma, independentemente de um de seus antecessores, Luiz Marinho, ocupar hoje a Previdência, depois de ter passado pelo Trabalho.

O sindicalista não quer classificar o governo como “contrário” ou “favorável” aos trabalhadores. “Há propostas do governo que são contrárias aos trabalhadores e há propostas que são favoráveis”, responde.

No último caso, o único exemplo claro na enquete é o veto presidencial à chamada emenda 3, que protegia os contratos de prestação de serviços por profissionais liberais na condição de pessoa jurídica.