Por Sérgio Montenegro Filho Da editoria de Política do JC Com suas principais bases eleitorais do Sudeste e Sul do País – na maioria formadas por setores da classe média – enfraquecidas pelas sucessivas crises políticas do primeiro mandato, na disputa de 2006 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva redirecionou suas ações para as classes mais pobres, priorizando, inclusive, os chamados bolsões de pobreza localizados no Nordeste.
Com programas assistenciais como o Bolsa Família, Lula veio em busca do suporte que lhe garantiria a reeleição.
Ao depositar suas fichas na região, o presidente ajudou a pavimentar a vitória de sete governadores aliados - Jaques Wagner (PT-BA), Marcelo Déda (PT-SE), Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), Eduardo Campos (PSB-PE), Wilma de Faria (PSB-RN), Cid Gomes (PSB-CE), Wellington Dias (PT-PI) - e, de quebra, formou uma oposição “suave” nos dois únicos Estados comandados por adversários - Jackson Lago (PDT-MA) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Mas se no ano passado Lula garantiu uma hegemonia política no Nordeste, agora ele tem pela frente a missão de consolidar essa força e assegurar a longevidade de poder dos seus aliados.
Para isso, já vem se desdobrando nas costuras políticas e no reforço aos cofres dos Estados.
Especialistas de várias universidades nordestinas advertem que, embora inegavelmente mais fortes, os alicerces políticos construídos em 2006 só se solidificarão nas próximas disputas eleitorais, em 2008 e 2010.
Até la, tudo vai depender do comportamento do governo federal e da condução política e administrativa que cada governador adotará em seu próprio Estado.
Ninguém se arrisca a afirmar que o candidato do presidente Lula poderá sair do Nordeste.
Com o cenário ainda frágil, avaliam que cada líder político deve se voltar para a consolidação do poder local.
Um dos casos de maior evidência está na Bahia.
Após a vitória do petista Jaques Wagner, seguida do desaparecimento do senador Antônio Carlos Magalhães (DEM), o nome do governador foi alçado à condição de presidenciável por setores petistas.
Mas para o professor de Ciência Política Paulo Fábio Dantas Neto, da UFBA – especialista no confronto entre carlistas (aliados de ACM) e petistas – o processo, mesmo com a vitória de Lula, está em aberto, sem grupos hegemônicos. “Até o final dos anos 90 só havia o carlismo na Bahia.
Hoje o espaço é dividido, mas o tira-teima só acontecerá em 2010, quando veremos o poder de competição dos dois grupos”, diz. “Até lá, os petistas têm que fazer um governo diferenciado do PFL para se consolidarem como alternativa ao carlismo e garantir a reeleição”, conclui.
ALIANÇA CEARENSE Após as eleições do ano passado, outro nome que voltou ser cotado como presidenciável foi o do ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes, que já tentou por duas vezes chegar ao Palácio do Planalto.
Deputado federal pelo PSB, ele é irmão do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), eleito com o apoio de Lula e o respaldo do senador Tasso Jereissati.
Presidente nacional do PSDB e um dos mais duros opositores de Lula no plano nacional, Tasso trocou o palanque do então governador tucano Lúcio Alcântara – que disputava a reeleição – pelo do PSB, por uma questão de sobrevivência.
Depois de dominar a política cearense por duas décadas, o senador viu sua hegemonia ameaçada pelos irmãos Gomes.
E promoveu uma miscelânea de palanques, sem qualquer resquício ideológico ou partidário. “Tasso e Ciro se complementam no Ceará.
Tasso é da elite longeva, cuja hegemonia acabou mas que ainda detém a força econômica do coronel reciclado.
Ele se alia à capacidade de trânsito com a esquerda e à coragem que vê em Ciro”, explica o cientista político Josênio Parente, professor da UFC e UECE.
Segundo ele, quando Ciro Gomes notou que estava perdendo espaço na aliança local com Tasso, tratou de recuperar terreno.
Para isso, rompeu com o PSDB e foi buscar a ajuda de Lula, que terminou saindo como o grande favorecido no processo. “Tasso teve que romper com o antigo aliado Lúcio Alcântara (PSDB) para ficar com Cid Gomes, mas se quiser evitar o avanço do PSB no Ceará, terá que recompor o PSDB local a partir de 2010”, analisa Parente. “Já Ciro quer ser presidenciável pela terceira vez, mas sabe que só tem chances com o apoio de Lula”, completa.