Por Edilson Silva* Este texto é uma obra de ficção.

Qualquer semelhança envolvendo nomes de pessoas e situações é mera coincidência. - Dilma, que burburinho é esse aí na rua? - É a tal onda de vaias, Presidente.

Normal. - Essa juventude…

Já fui jovem um dia.

Bons tempos, mas logo passa. - Mas são aposentados e pensionistas, Presidente. - Neste caso só pode ser problema existencial coletivo.

Ninguém normal chega à terceira idade querendo mudar o mundo. - Estão com faixas afirmando que o senhor massacra os idosos… - O quê?!

Eu já sabia! É a turma do “cansei”.

São velhinhos de direita, golpistas.

Essa gente não sabe o valor de um prato de comida.

Nunca antes neste país os aposentados e pensionistas tiveram tanto empréstimo consignado para gastar à vontade, para viajar, se divertir e comprar seus remédios caros. - Que tal uma declaração respondendo a esta provocação? - Isso, Dilma!

Escreva aí que a saúde pública em nosso país está próxima da perfeição e… - Não, Presidente! - O que foi, Temporão? - Já mandamos aquele projeto para o Congresso, o das Fundações Hospitalares.

O discurso agora no segundo semestre é o da falência da saúde, se não a gente fica sem argumento. - Já ia me esquecendo… - Presidente, ligação telefônica na linha exclusiva. - Oba!

Deve ser o Bush, passa aí… - É o Chaves, Presidente. - Caracas!

Cara inconveniente, com essa conversinha de socialismo.

O que eu quero com o Chaves é só o segredo da reeleição ilimitada.

Diz que não estou.

Pô!

Cadê o Walfrido que ainda não chegou? - Está no Congresso, cuidando da liberação da CPMF. - Ah, claro!

Trinta e cinco paus pra eu, como diria o maninho.

Se essa grana não entrar a gente tá… - Não faça isso, Presidente!!! - O que foi agora, Tarso? - Tem uma janela aberta! - Putz!

Sai daí Marco Aurélio!

Fecha logo isso, Dilma! - Fechada, Presidente. - Já pensou?

Outra cena daquelas é tudo que a mídia golpista quer.

Aqui pra eles!

A janela está fechada mesmo, né? - Relaxa, Presidente, tá tudo bem… - Marta, a última vez que você saiu com essa conversa deu no que deu.

Você e o Waldir juntos eram nitroglicerina pura, o pavão e o jabuti no meio do incêndio.

Tirei ele, e você ficou, então relaxa você, de preferência com a boca bem fechada. - Ih!

As vaias aumentaram, Presidente. - Como estão abusados!

Só porque fechamos uma janela? - Parece que não, Presidente.

Vem alguém ali…

Epa! É o Renan! - Renan?

Qual Renan?! - Ele mesmo.

Está vindo pra cá. - Enlouqueceu!

Quer me derrubar! - Ele telefonou ontem e disse que queria ter um particular com o senhor e… - E o quê?!

Comigo mesmo, não!

Não posso dar sopa pro azar. - Mas ele sabe de muita coisa… - Dilma, querida, nestes dias até a diretoria do meu Corinthians está desabando.

Corre com este danado daqui! - Mas como, Presidente? - Marina, tu que conhece desse negócio de meio ambiente, natureza, vaca, laranja, que é tudo criação de Deus, vai lá embromar o sujeito.

Não deixa ele entrar, senão a imprensa vai encarnar na minha figura. - Mas Presidente, e aquele assunto? - Que assunto? - Aquele do Rio Madeira.

Vai dar rolo… - E a gente já não dividiu o IBAMA pra resolver isto? - Mas está complicado… - Se der rolo eu digo depois que não sabia.

Vai lá segurar o Renan! - Mas não é só isso. É muita pressão: transgênicos, etanol… - Aí já não é assunto seu, Marina.

Você agora é ministra da agricultura, é?

Seu assunto neste exato momento é me livrar do Renan.

Vai lá! - Mas tem também a questão da transposição, das usinas nucleares… - Pronto!

Agora você virou super-ministra e tá acumulando os ministérios da Integração e das Minas e Energia.

Marina, se o Renan bater nesta porta tu volta pro lugar do Sibá! - O Walfrido chegou, Presidente. - Walfrido!

E aí?

Como foi lá? - O de sempre, Presidente.

Tá tudo dominado! - Beleza! - Mas tivemos que livrar os vira-casacas na reforma política.

Fidelidade flex! - E pensar que um dia eu julguei mal esses picaretinhas tão queridos…Então, peladinha no domingo? - Sem o Lorenzeti fica difícil, Presidente.

O novo churrasqueiro é osso duro. - O churrasco do aloprado era bom mesmo, né?

A gente muda o cardápio.

Deixa o churrasco mais pro final do ano. - Fechado. - Franklin, já dá pra sair pesquisa pra 2014? - Acho que ainda não, Presidente.

Pega mal. - Então coloca no forno mais uma pesquisazinha daquelas, caprichada. - É pra já, Presidente.

Mando os resultados antecipados pro Mino? - Claro.

Chame ele pra pelada também. - Pois não, Presidente. - Pronto.

Reunião encerrada, mas deixa a janela fechada. *Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao Governo do Estado em 2006 e escreve às sextas para o blog do Jamildo / JC.