Ministro da Saúde de FHC, o cardiologista Adib Jatene disse ao Blog do Josias, nesta tarde, que, no seu formato original, a CPMF era “vinculada à Saúde”.

Depois, tornou-se apenas “mais uma fonte do Tesouro”.

Conta que pediu demissão, em novembro de 96, porque o governo reduziu o orçamento da Saúde depois que o Congresso aprovou a CPMF. “Puxaram o meu tapete”, lamenta.

A CPMF foi desvirtuada?

Não é mais o que eu tinha proposto.

Uma parte continua indo para a Saúde.

Mas tornou-se mais uma fonte do Ministério da Fazenda, como é a Cofins, a CSLL e qualquer outro tributo.

Como era a proposta original?

Foi aprovado no final de 2006.

Era vinculado à Saúde.

Duraria dois anos.

Depois, foi modificado.

A alíquota passou de 0,20% para 0,38%.

Na minha época, a área econômica não acreditava que eu conseguiria aprovar no Congresso.

Depois, não acreditavam que a arrecadação seria importante.

A coisa se mostrou diferente.

Eles acharam ótimo.

E virou fonte para o Tesouro.

Como se comportou o PT na votação da CPMF?

Ah, o PT fechou questão contra.

O Eduardo Jorge, que era deputado na época, foi o único petista que votou a favor.

E sofreu advertência do partido.

Eu cheguei a falar com o Lula e com o José Dirceu.

Falou com o Lula uma vez?

Tive duas reuniões com ele.

Fiz um esforço danado.

Havia outros petistas dispostos a aprovar.

Mas eles fecharam questão contra (gargalhadas).

O senhor ri?

O que você quer que eu faça?

Nada como um dia atrás do outro.

Sua saída do governo FHC teve relação com a CPMF?

Teve relação direta.

Eu disse ao presidente Fernando Henrique que precisava de recursos.

Ele pediu para falar com o Pedro Malan [ministro da Fazenda].

O Malan me disse que, em dois ou três anos, daria o dinheiro que eu precisava.

Não podia esperar tanto tempo.

Propus a volta do imposto sobre o cheque, que se chamava IPMF e havia sido extinto em 94.

O presidente disse: \Você não vai conseguir aprovar isso.\ Respondi: Posso tentar?

Ele autorizou.

Pedi o compromisso dele de que o orçamento da Saúde não seria reduzido.

A CPMF entraria como o adicional.

E ele: \Isso eu posso te garantir.

Depois da aprovação, a Fazenda reduziu o meu orçamento.

Voltei ao presidente.

Disse: no Congresso, me diziam que isso ia acontecer.

Eu respondia que não, porque tinha a sua palavra.

Se o senhor não consegue manter a sua palavra, entendo a sua dificuldade.

Mas me faça um favor.

Ponha outro no meu lugar.

Foi assim que eu saí, em novembro de 96.

Se arrepende de ter criado a CPMF?* Não.

Consegui a aprovação, que ninguém acreditava.

Se depois me puxaram o tapete não é culpa minha.

Fiz a minha parte.

Era um gestor.

Não tinha recursos.

Fui buscar.

Se depois me tiraram o recurso, a responsabilidade não é minha.

A Saúde continua precisando de dinheiro?

Claro que sim.

O orçamento da Seguridade neste é de R$ 370 bilhões –30% deveria ir para a Saúde.

Dá R$ 111 bilhões.

Mas o orçamento da Saúde é de R$ 46 bilhões.

A diferença é de R$ 65 bilhões.

Diz-se que o problema da Saúde é de gestão.

Isso é uma bobagem.

O problema é de falta de dinheiro.