Por Sérgio Montenegro Filho A crise aérea é um problema que mexe com todos os setores da vida nacional.

Isso é inegável.

Sofre o governo, sofrem as empresas e sofrem muito mais os passageiros.

Sofre até quem não usa avião.

Mas como o olhar tem visão periférica, há quem consiga enxergar algum lucro político em tudo isso para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Explica-se: não é do feitio de Lula preparar sucessores.

Na verdade, ele nunca quis fazê-lo, talvez temendo perder a hegemonia que detém no PT desde a sua fundação.

Os que tentaram ameaçá-la - muito poucos, diga-se - saíram chamuscados.

Caso, por exemplo, do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que em 2002 se atreveu a propor a realização de prévias no partido para escolher o candidato a presidente.

Foi fragorosamente derrotado e espezinhado.

Quase perdeu a chance de renovar o o mandato no Senado.

Agora, já pensando no seu futuro político quando deixar o Palácio do Planalto, Lula tenta garantir o “menor dano”.

Traduzindo: Como não pretende criar uma cobra para mordê-lo depois que deixar a Presidência, calmamente ele avalia todas as possibilidades que dispõe para garantir um candidato governista que não lhe cause problemas.

Mas ao contrário do que pensa a maioria dos dirigentes do PT nacional - que colocam como condição essencial a exigência de que o sucessor seja um petista - Lula age de forma pragmática.

Figuras como a ministra Marta Suplicy e o governador baiano Jaques Wagner, ambos do PT lulista, são sempre citadas como alternativas.

Assim como aliados do PSB, a exemplo do deputado federal Ciro Gomes.

Lula, no entanto, procura um nome, e não uma sigla.

E esse nome pode estar no PMDB.

Chama-se Nelson Jobim.

Senão, vejamos: mesmo com toda a crise, o presidente tinha enorme dificuldade em demitir Waldir Pires do Ministério da Defesa.

Pela própria história de lutas do petista, um dos mais respeitados da cena política nacional.

Em pleno apagão, Lula ainda resistia.

A hesitação acabou quando surgiu a oportunidade de ter Jobim no comando da pasta.

O presidente o convidara por duas vezes e ele recusou.

Na terceira investida - que contou com a ajuda do ministro Gilmar Mendes, do STF, e até do governador tucano José Serra (SP), adversário do Planalto - o peemedebista topou o risco.

A ligação com Jobim, porém, é mais antiga.

Em 2002, quando disputava a sua quarta eleição presidencial, Lula confessou sua admiração pelo então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Dois anos mais tarde, quando o ex-deputado gaúcho foi alçado à presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), as relações se estreitaram.

Lula não escondia de ninguém a opinião de que Jobim era simpático ao seu governo.

A atração foi tamanha que ele cogitou uma aliança com o PMDB em 2006, quando se preparava para disputar a reeleição, na intenção de ter Jobim como seu vice, em substituição a José Alencar, então adoentado e sempre um incômodo.

As negociações entre PT e PMDB foram abortadas depois que o partido se dividiu e a maioria migrou para o palanque tucano, embora uma parte tenha optado por um apoio informal à reeleição do petista.

Agora, com praticamente todo o PMDB sob seu controle, graças ao governo de coalizão - um eufemismo criado para definir o “acordão” político que montou com o partido, a quem contemplou com uma fatia bem maior de cargos na administração federal - Lula retoma o sonho de se aliar a Jobim.

Mas há uma condição para o namoro político continuar firme.

O ministro da Defesa vai ter que mostrar serviço diante da maior crise que se abateu sobre o segundo mandato do petista, se quiser continuar nas boas graças do “príncipe”.

De temperamento mais forte e com mais iniciativa que seu antecessor, Jobim teria o perfil adequado - na opinião de Lula - para apagar o incêndio nos aeroportos Brasil afora.

O que Waldir Pires não fez.

Diante do cenário político favorável, que o próprio Lula vem construindo desde que venceu a segunda eleição, se o peemedebista se sair bem na missão que tanto hesitou em aceitar, poderá receber o grande prêmio e consolidar um antigo sonho do PMDB: o retorno ao Palácio do Planalto.