Quando o patológico se torna normal Por Carlos Eduardo Santos, no Pe Body Count A violência em nosso Estado parece não mais assustar as pessoas que nele vivem.
Esse é meu medo, o patológico parece que se tornou normal.
Vamos a um exemplo recente.
De folga, ontem, decidi ir à Praia de Boa Viagem, como costumo fazer quando não estou trabalhando, pelo menos, nos últimos quinze anos.
Para mim, que freqüento essa praia a tanto tempo, sempre considerei um local seguro.
Longe dos arrastões de Ipanema e Copacabana.
Minha preocupação sempre foi chegar à praia.
Mas já na areia, essa preocupação passa, pelo menos em parte.
Ao chegar no calcadão vi carros da imprensa.
Pensei logo no pior.
Ataque de tubarão.
Mas um flanelinha tratou logo de me dar a notícia em primeira mão. “Acabaram de tombar um aí no Acaiaca.” O guardador de carros se referia ao biscateiro Adeílton José Pessoa Júnior, 36 anos, que às 10h de um sábado de sol havia levado dois tiros quando conversava com amigos na areia da praia.
Cinco disparos haviam sido dados.
Por pouco outras pessoas não foram atingidas.
Cheguei ao local poucos minutos depois.
Parecia que nada havia acontecido.
A frieza do flanelinha para contar o que havia acontecido ali parece que tinha contagiado a todos.
Ninguém cometava, ninguém se indignava.
Presenciar um tiroteio, mesmo que seja num cartão postal da cidade, parece já fazer parte da rotina dos recifenses.
Apenas comprovei o que já sabia.
O patológico se tornou normal.