Da Folha de São Paulo Mesmo com o tom mais conciliador assumido no plenário no fim da semana passada, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), continua fazendo ameaças veladas aos colegas para intimidá-los e tentar derrubar eventual pedido de cassação de seu mandato.
Em conversas reservadas, Renan revela aos poucos supostos fatos depreciativos contra senadores que defendem as investigações contra ele.
Um deles é o senador Jefferson Péres (PDT-AM), o primeiro a pedir seu afastamento do cargo.
Nos bastidores o presidente do Senado se refere a Peres como “flor do lodo” e diz que ele foi acusado de gestão fraudulenta de uma empresa na década de 50.
A lógica de Renan seria mostrar que os senadores que o atacam de forma mais veemente têm telhado de vidro. “Eu fui diretor de uma siderúrgica no Amazonas, e a empresa faliu.
Como não pôde recolher o Imposto de Renda e os encargos sociais dos empregados, toda a diretoria foi denunciada por apropriação indébita.
O juiz federal absolveu todos os diretores porque a União devia à siderúrgica mais do que o imposto que a empresa deixou de recolher”, afirmou Péres.
Ele reagiu aos ataques do presidente do Senado. “Isso só piora a situação do senador Renan Calheiros e mostra o lado feio de seu caráter”, afirmou Péres. “Se o senador Renan Calheiros levantar isso, eu posso processá-lo por calúnia”, disse.
Em relação ao líder do DEM, senador José Agripino (RN), Renan passou da ameaça velada à tentativa pública de intimidação no plenário do Senado na semana passada.
Da tribuna, fez referência a concessões de rádio e TV de Agripino e a uma dívida com o Banco do Nordeste. “Meu pai recebeu há 20 anos a concessão da TV Tropical, que é retransmissora da Record, e de cinco rádios.
Ele morreu e isso foi deixado para a família.
Não há nada de errado nisso.
Parlamentar não pode ser dirigente de empresa de comunicação, mas pode ser sócio”, declarou Agripino.
O presidente do Senado recuou apenas do tom explícito de ameaça que adotou no início da semana e afirmou na quinta que não pretende ser “algoz” de ninguém.
Avaliou que criar um clima aberto de terror na Casa não vai ajudá-lo a se salvar.
Apesar disso, o recado dado a Agripino na terça-feira surtiu efeito e serviu de exemplo para os demais.
Senadores dizem que Renan teria na cabeça um dossiê contra vários deles.
Como presidente da Casa, ele tem acesso à prestação de contas dos R$ 15 mil mensais da verba indenizatória, que serve para reembolsar despesas dos senadores com gastos nos Estados, como combustível e divulgação do mandato, e autoriza viagens em missões oficiais, que são custeadas com dinheiro público.
Essa seria outra forma de constranger os colegas.
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) já foi um dos alvos de Renan.
Ele reconhece que viajou no ano passado com uma assessora para os EUA, com passagens e diárias pagas pelo Senado, para participar de reunião da ONU, mas nega que a funcionária seja sua namorada e disse que é praxe da Casa levar assessores em viagens.