O jornalista Ricardo Boechat e o cientista político pernambucano Antonio Lavareda travaram um debate interessante na BandNews FM, nesta semana que passou, sobre corrupção.
Segundo Boechart, numa ação inédita, 1.800 funcionários chineses confessaram envolvimento em ato de corrupção durante uma campanha realizada pelo Governo Chinês, no mês de julho passado, para estimular esse tipo de atitude: a confissão.
Os funcionários aproveitaram a oferta, válida apenas em julho, de clemência do Governo, para se retratar.
Isso, lá na China, onde a corrupção resulta em pena de morte.
Uma equipe especial de inspetores percorreu o país, perguntando aos funcionários se aceitavam esse tipo de anistia, indulto e tal, em troca da confissão dos atos que cometeram.
Questionado pelo jornalista, se esse modelo surtiria efeito aqui no Brasil e qual é a vantagem, no caso, do Estado que oferece perdão apenas em troca da confissão, o cientista político afirmou que seria muito difícil essa situação dar certo aqui no Brasil. “A probabilidade de confissão tem a ver com a expectativa de punição, com a dita punibilidade.
Se você não tem uma expectativa de punição elevada, você não é conduzido a um comportamento desse tipo, de admitir, como nessa pesquisa curiosa que o Governo fez, perguntando aos funcionários se eram corruptos ou não.
De fato, na China, eles têm a pena de morte, procedimento drástico aí, e sob o incentivo da pena de morte, no ano passado, mais de 97 mil funcionários terminaram sendo punidos por corrupção.
Para ser mais exato, 97 mil e 260 funcionários dos 70 milhões de membros do partido comunista, que trabalham no Governo, foram punidos na China por corrupção, ano passado”, explicou Lavareda.
Lavareda destacou que O desenvolvimento econômico é afetado pela corrupção, assim como a imprensa livre que é consumida por uma grande parcela da população ajuda a diminuir o nível de corrupção. “Países como China como a Coréia do Sul, Tailândia e Índia têm atacado de diferentes maneiras o problema da corrupção, que afeta sim o desenvolvimento dos países.
E essas nações que eu relatei tem tido trajetórias de crescimento expressivo, o que não é o caso do Brasil”, comparou.
Lavareda disse que uma parcela elevada de participação de mulheres no Governo também diminui a taxa de corrupção, assim como menor restrição legal aos negócios e menores taxas de inflação. “O fato é que a China está enfrentando sim essa questão da corrupção e, embora no último ranking de transparência internacional, ela ainda apareça empatada conosco”.
O ranking ao qual Lavareda se refere destaca a China com uma nota muito baixa - 3,3 - e em septuagéssima posição, igualzinha a posição do Brasil. “Aqui para nós é importante que comecemos uma ação efetiva, do que apenas as iniciativas da polícia federal”, lembra o pesquisador e sociólogo Antonio Lavareda.