Por Antonio Tozzi Miami (EUA) - Causa estranheza e até mesmo desconforto a eterna cantilena de que a mídia é golpista e quer derrubar o presidente eleito Lula, eleito com a maioria dos votos do povo brasileiro, blá, blá, blá…

Por isto, a Executiva Nacional do PT estaria discutindo neste final de semana ações para coibir aquilo que julgam ser uma injustiça para com o presidente eleito e aprovaram “uma resolução política em que convoca a militância, os detentores de mandatos e instâncias partidárias a enfrentar a mais nova ofensiva da direita, articulada com setores da mídia, contra o PT e o governo Lula”.

Ora, isso cheira à censura, no seu grau mais puro.

Ou seja, quem criticar o governo do atual presidente da República já é taxado de direitista, golpista, a serviço do capitalismo ianque e outras bobagens do gênero.

Em primeiro lugar, o PT quer se dar uma importância que não tem no cenário político brasileiro.

A única estrela que brilha (sem trocadilho) é a de Lula.

O que existe de verdade é o lulismo e os petistas vão a reboque da popularidade do presidente.

Mas, voltando ao tal “documento”, não dá para aceitar este tipo de pressão, típico de regimes totalitários, nos quais não se pode criticar próceres do governo e do partido que está no poder.

Interessante notar que os tais veículos “de direita, que estão a serviço do capital”, eram saudados como dignos representantes da liberdade de imprensa quando criticavam os governos anteriores.

A hoje execrada revista Veja publicou uma entrevista antológica com Pedro Collor de Mello, irmão do então presidente da República que serviu como detonador do processo que gerou a renúncia de Fernando Collor de Mello.

Exemplos similares foram registrados nos mais diversos veículos “de direita”.

O Estado de S.

Paulo, quando sob censura no regime militar, publicava versos de Camões para não se subjugar às ordens dos censores da ditadura.

Enfim, todos os veículos acusados demonstraram galhardia na defesa de sua liberdade de expressão e criticaram veementemente quem esteve no poder, como, aliás, sói acontecer em qualquer regime democrático.

O ex-primeiro ministro inglês Tony Blair deixou o governo irritado com a imprensa inglesa, que não o perdoou por ele ter se alinhado com o presidente George W.

Bush e os Estados Unidos na aventura iraquiana.

A Inglaterra teve ainda fator preponderante por ter produzido evidências que depois se viu não serem assim tão evidentes da presença de terroristas no Iraque.

O próprio Bush enfrenta uma crítica feroz da imprensa americana.

Ele é criticado em artigos, matérias, editoriais, charges, filmes, documentários, entrevistas, etc.

Evidentemente nem ele nem seus seguidores gostam disto, mas jamais o Partido Republicano se atreveria a tornar público um documento pedindo uma ofensiva contra os meios de comunicação do país.

O que é feito nos EUA é a contraposição de opinião.

Isto é, a Fox e todo o grupo de comunicação de Rupert Murdoch serve como uma espécie de porta-voz dos republicanos e/ou conservadores e do governo, a fim de neutralizar a pressão vinda dos outros veículos.

No Brasil, de certa maneira, isto também ocorre.

As revistas Cartas Capital, Caros Amigos, o site IG e jornalistas como Paulo Henrique Amorim, Mino Carta, Paulo Ferreira e outros também assumem sua posição de defensores incondicionais do atual governo brasileiro e ninguém, em sã consciência, pensa em calar a voz deles.

Num regime democrático, a coisa funciona desta forma.

Quem concorda com o ponto de vista deles que siga suas posições ideológicas, quem discorda que leia os colunistas que melhor se coadunam com seu modo de pensar.

O que não dá mesmo para aceitar é que, em nome de um grupo político, seja tomada uma medida de força contra aqueles que pregam não estar sendo feito um bom governo para o povo brasileiro.

O direito à opinião sempre deve ser respeitado, seja ele contra ou a favor, porque só assim construíremos o alicerce para continuar sendo uma nação livre.

PS: Tozzi foi repórter do Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo.

Vive nos EUA desde 1996, onde foi editor na CBS Telenotícias Brasil e no canal de esportes PSN.

Atualmente é editor da revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA.