O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) “desceu a lenha” no Lula presidente, mas chega a elogiar o Lula sindicalista no seu artigo semanal para o Blog de Noblat, intitulado “Simbolismo e Liderança”. “Migrante nordestino, corajoso e lutador que superou barreiras sociais.

Tinha-o, e ainda o tenho, como um homem de boa índole, que em termos gerais deseja o bem do povo”, disse FHC, que foi presidente da República de 1995 a 2002.

Leia abaixo trecho do artigo de FHC e aqui a íntegra. “O presidente Lula só faz autocrítica indiretamente, sem assumir responsabilidade pelas decisões que toma.

Apenas lamenta “a quantidade de coisas que eu falei e falava porque era moda falar, mas que não tinha substância para sustentar na hora em que você pega no concreto”.

No exercício do governo, sempre que pode, se refugia nas frases vagas, na cobrança genérica de responsabilidades, no jogar toda culpa no passado e se contenta com elogios fáceis a si mesmo, do tipo “nunca neste país…” Em parte a retórica presidencial é certa: nunca houve tantos escândalos e, o que é pior, nunca qualquer outro presidente passou tanto a mão na cabeça dos envolvidos (“não se comprovou nada, são aloprados e não criminosos, errar é humano”).

De conseqüências ainda mais funestas do que a atitude leniente, talvez seja a falta de compreensão histórica do governo e de seu líder.

No afã de aumentar a popularidade e de iludir quem não tem acesso à melhor informação, governo e presidente assumem como próprio o que herdaram.

Pouco importa, se for para o Brasil continuar avançando.

Mas importa sim, e muito, que estejam desperdiçando uma oportunidade histórica excepcional para que o Brasil dê um salto de qualidade, assegurando em benefício desta e das gerações futuras.

Aqui sim cabe a frase: nunca neste país houve maior apagão ideológico e maior desídia frente ao interesse público.

O que vemos é um quadro de paralisia governamental, de desconexão, de imprevidência e de incompetência, recheada com uma retórica irresponsável.

Digo com lástima, sinceridade e franqueza: jamais imaginei que chegássemos a tal ponto de degradação.

Fui testemunha da ação inovadora de Lula no sindicato e corajosa na política, quando ainda não era o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nunca o considerei, nem naquela época, um líder excepcional, pois faltava-lhe firmeza para contrapor-se à opinião da maioria ocasional, mas o tinha por um símbolo: migrante nordestino, corajoso e lutador que superou barreiras sociais.

Tinha-o, e ainda o tenho, como um homem de boa índole, que em termos gerais deseja o bem do povo.

Mas me decepciona vê-lo desperdiçar a oportunidade que tem nas mãos.

Opus-me aos que, em 2005, cogitaram de propor o impeachment, não porque faltassem argumentos jurídicos nem porque quisesse vê-lo sangrar aos poucos, mas porque acreditava, como continuo acreditando, que o conteúdo simbólico de sua liderança é um patrimônio do país que não deve ser destruído.

Lamento vê-lo agora destruir por suas próprias palavras e atos o capital de credibilidade que conquistou.

Presidente: em nome da sua e da história de nosso país, não se rebaixe à vulgaridade em nome da popularidade, resguarde-se de dizer tantos impropérios que machucam o bom senso, a solidariedade e a democracia.

Por favor, tenha um pouco mais de grandeza, de que tanto necessitamos!”