Por João Valadares Da editoria de Cidades do Jornal do Commercio O Hospital de Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, na Paraíba, que de acordo com o governo de Pernambuco é bem equipado e vai receber pacientes graves do Estado, funciona precariamente e encontra-se superlotado.

A notícia de que a Paraíba iria receber doentes pernambucanos assustou os médicos paraibanos, a maioria em greve há nove dias.

O problema é tão grave que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da Paraíba (Samu) denunciou que pacientes estão sendo rejeitados nas emergências por falta de vagas.

Até as 17h de ontem, ninguém havia sido transferido de emergências do Recife para a Paraíba.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, seis pessoas chegaram a ser levadas de ambulância a João Pessoa, mas sem passar pelo Recife.

Saíram dos municípios de Condado, Itambé e Igarassu, e a Central de Regulação de Leitos os encaminhou direto ao Humberto Lucena.

Na unidade, cirurgias foram suspensas na manhã de ontem porque não havia material para realizar os procedimentos.

Sem identificar-se, o JC conseguiu entrar nas dependências da unidade de saúde e constatou, durante duas horas, o caos.

Todos os leitos estão ocupados.

Das seis salas do bloco cirúrgico, apenas quatro estão ativas.

Em duas, há colchões para os funcionários dormirem.

Não há leitos suficientes nem para atender os pacientes paraibanos.

Muitos aguardam numa fila para serem submetidos a cirurgias.

Uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) foi improvisada.

No local, supervisionado apenas por um médico, 11 pacientes graves, grande parte vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC), aguardavam para conseguir uma vaga na UTI. “Se mandarem pacientes de Pernambuco para cá, vão morrer nos corredores.

Não tenha dúvida.

Não há estrutura. É uma grande irresponsabilidade.

Aqui é um caos e estamos atendendo no limite máximo”, informou o traumato-ortopedista Rômulo Soares, que atua no hospital desde a fundação, em 2001.

Na unidade de saúde, com 300 leitos, apenas um aparelho de raio-X funciona.

Três estão quebrados.

Em um deles, é possível observar uma mensagem no papel: aguardando orçamento desde julho de 2005.

Uma máquina utilizada para guiar o cirurgião durante a operação, orçada em R$ 200 mil, também está encostada.

ESPERA Ontem, uma senhora de 86 anos deixou de ser submetida a uma artroplastia de quadril porque não havia prótese. “A gente está suspendendo cirurgias por isso”, contou o médico Roberto Correia de Lima.

O paciente João Francisco da Silva, 92, agonizava na enfermaria à espera de cirurgia. “Estava tudo marcado, mas foi cancelado.

Não avisaram o motivo”, comentou a acompanhante.

Na sala ao lado, Heleno da Silva, 60, também não tinha data certa para ser operado.

Nas enfermarias, bandejas de alimentação estavam depositadas no chão.

Algumas delas antes mesmo de o paciente iniciar a refeição.

O médico Ricardo Cardozo não acreditava na notícia de que o hospital iria atender os pacientes de Pernambuco. “Como pode?

Não se resolve o problema de um Estado jogando os pacientes para cá.

O tiro vai sair pela culatra”, relatou.

Na terça-feira, o secretário de Saúde de Pernambuco, Jorge Gomes, assegurou que o hospital era bem aparelhado e tinha plenas condições de atender os pacientes graves de Pernambuco.