Da editoria de Política do Jornal do Commercio Em sua primeira entrevista para avaliar a crise na saúde e na educação, o governador Eduardo Campos (PSB) responsabilizou ontem as gestões dos ex-governadores Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Mendonça Filho (DEM) pelos problemas que resultaram na greve dos professores e nas demissões dos médicos.

Mais uma vez, ele se referiu à herança maldita que diz ter recebido.

Para garantir o ano letivo dos estudantes e o atendimento nas emergências, assegurou que vai tomar todas as “atitudes possíveis” sem confronto e com diálogo.

Abaixo, os principais trechos.

CRISE NA EDUCAÇÃO “Temos uma greve na educação que nós negociamos exaustivamente, chegamos a fechar com o sindicato três propostas, sindicato que ontem (anteontem, terça 31) teve uma última assembléia.

Nossa decisão foi mandar para a Assembléia Legislativa o projeto que acordamos na mesa para que aqueles professores, que é a imensa maioria e que está tendo aula, não fiquem prejudicados com essa conquista e tantas outras medidas que foram anunciadas pelo secretário Danilo Cabral (Educação)”.

CRISE NA SAÚDE “Não temos um movimento grevista, temos uma outra forma que os médicos encontraram de protestar diante de uma situação que nós encontramos.

Até porque foi em fevereiro que eu recebi as entidades médicas me dando conta que havia R$ 70 milhões de débitos que nós encontramos.

Não foram nos sete meses (de governo) que se gerou essa situação.

A nossa disposição absoluta é para o diálogo e nossa preocupação permanente é a de garantir à sociedade o direito à saúde pública, que é bancada com recursos da população.

Estamos tomando todas as providências necessárias para que a população seja atendida, seja na rede pública ou na privada, com a decretação do estado de emergência e com a contratação de serviços complementares”.

AS FINANÇAS “Esse é um governo que abriu as contas públicas pela primeira vez.

Sentou com a mesa de negociação proposta pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), colocou todas as contas na mão do Dieese (órgão sindical) e dos sindicatos de maneira transparente.

Pactuamos com o governo federal o chamado plano de ajuste fiscal.

Abriu-se com isso a possibilidade de termos R$ 106 milhões este ano para o conjunto das categorias.

Enquanto isso, o conjunto das demandas que está reprimida por tantas anos, como a falta de atendimento aos servidores, são de R$ 109 milhões/mês.

Isso tudo para que se veja o esforço que há entre o que se tem e o que se reivindica.

Nós, de forma franca e tranqüila, conversamos com todas as categorias e só temos problemas em duas áreas importantes.

Queremos cuidar da população e ao mesmo tempo negociar o que é possível”.

MEDIDAS INDIGESTAS “O que nós temos que fazer é efetivamente atender a população.

Vamos ter aula e garantir o ano letivo deste ano.

Tomamos todas as providências.

Vamos procurar com a ajuda dos municípios e dos profissionais que estão trabalhando – os médicos e os que não são médicos – manter os hospitais e a rede complementar para atender a população.

Temos que apelar para o diálogo e o entendimento.

Nunca se viu um movimento na área de saúde começar por um ponto tão delicado como o da emergência e o do trauma.

Devemos conversar e ver a população.

Passamos dez dias e dois finais de semana atendendo a população com grande empenho de nossa equipe.

Estamos dispostos a atender e a dialogar”.

A NEGOCIAÇÃO “A negociação na vida é permanente.

Sempre conversamos e dialogamos.

Simplesmente chegamos ao que nos foi pedido pelos dois sindicatos.

A proposta da educação foi construída na mesa com a direção do sindicato.

A proposta dos médicos foi construída nesse fim de semana com a intermediação da Assembléia Legislativa e do nosso pessoal.

Quando chegaram na assembléia (da categoria) a proposta sequer foi debatida”.

OS SINDICATOS “Não quero entrar em nenhum tipo de discussão (falta de representatividade) que venha dificultar o diálogo.

Em hora nenhuma, eu usei qualquer adjetivo ou vou usar em relação ao dirigente sindical.

Ele tem a responsabilidade dele e eu tenho a minha.

Em nome da minha responsabilidade, trato todos eles com muita civilidade e, sobretudo, os professores e médicos.

Tenho tanto respeito que, em hora nenhuma, vou me propor a aprovar na mesa aquilo que não poderei cumprir ou o que o Estado não poderá pagar”.

PARTIDARIZAÇÃO “Sabemos que todo movimento na política e na vida de uma sociedade é político.

Esses movimentos vêm de um acumulado que nós recebemos de déficits na saúde.

As próprias entidades estiveram comigo em fevereiro.

Um mês depois a gente apresentou um projeto de investimento de R$ 58 milhões, botamos várias contas do SUS (Sistema Único de Saúde) em dia, o Samu estava atrasado há 11 meses, os hospitais de pequeno porte estavam atrasados há oito meses, recursos de medicamentos de uso continuado estavam sem ser liberados, provocando um desabastecimento.

Essa foi uma situação relatada pelas próprias entidades e que nós enfrentamos em seis meses, e o acúmulo dessas demandas não atendidas não podem ser resolvidas em sete meses. É humanamente impossível.

Não tenho recursos no Estado.

A nossa disposição é de agir, valorizando a educação e a saúde dentro de todo o nosso mandato”.

OS GREVISTAS “Acho que há pessoas que em momentos como esse tentam tirar proveito da situação.

A sociedade é quem vai julgar o papel que cada um está jogando.

O nosso papel é o de garantir o serviço e manter o diálogo franco, mas o governo decide, tem decisão.

Na área da saúde, discutimos o fim de semana inteiro e estão aqui as medidas que precisam ser feitas.

Enquanto os sindicatos e alguns profissionais tomam determinadas atitudes, nós temos que tomar atitudes não de confrontação, mas de manutenção, na medida do possível, dos serviços necessários para a população”.

A HERANÇA MALDITA “Não fundei a saúde pública em Pernambuco.

Tenho sete meses (de governo).

O Hospital da Restauração, que é o mais novo deles (dos hospitais estaduais), foi fundado em 1969.

Estamos enfrentando os problemas, contratamos uma serviço de consultoria para rever todos os processos da saúde.

Lançamos edital de compra de equipamentos para o HR e de medicamentos, revisamos contratos e reduzimos os preços para sobrar dinheiro para os salários.

Só na prestação de serviço da saúde reduzimos 25%, mantendo o mesmo serviço.

Essas questões todas estão sendo tratadas em sete meses”.

INFILTRADOS “Prefiro não entrar nesse debate…

Meu foco é para que os meninos tenham aula e as pessoas sejam atendidas na saúde.

Não vou perder tempo nessa disputa pequena que fere a história política de Pernambuco”.

O LIMITE FINANCEIRO “Chegamos ao nosso limite.

Dentro dele, se tiver alguma outra forma que venha a atender a demanda dos servidores, estamos abertos a receber a sugestão”.

DIÁLOGO “Temos muito respeito por essas duas categorias, demonstramos ao longo desses sete meses nossa disposição para o diálogo.

Eles sabem que as situações nas escolas e na saúde não foram produzidas nesses sete meses.

Ao mesmo tempo peço serenidade e tranqüilidade para que a gente respeite a população e possa construir caminhos para todos.

Na vida pública, nunca deixei de dialogar, compreender, ouvir e reconhecer argumentos.

Tenho compreensão que devemos construir um caminho que vai resolver essa situação, buscamos resolver a nossa parte. 65% das crianças tiveram aula integral no primeiro semestre.

Para todos os outros que tiveram as aulas paralisadas, elas serão repostas até 15 de janeiro.

Garantimos aos pais que os meninos terão o ano letivo”.

MINISTÉRIO DA SAÚDE “Desde que chegamos, pedimos ajuda ao Ministério da Saúde.

Quando assumi, eles (os médicos) entregaram um documento, falando da situação do Procape (urgência cardiológica).

Cinco meses depois eu estava no Procape conseguindo um credenciamento (SUS), uma ajuda para elevar o teto para que a gente possa conseguir recursos.

Temos um déficit de R$ 7,5 milhões/mês do SUS.

Há uma crise no financiamento do SUS no Brasil.

Temos esse pleito.

Nesse momento, estamos negociando a ampliação desse teto em Brasília em função do recálculo do PIB (do Brasil). É provável que tenhamos mais R$ 500 milhões para o conjunto da saúde no Brasil.

Nós teremos uma parte desses R$ 500 milhões para responder ao déficit desse teto que encontramos no SUS.

O apoio que o Ministério pode nos dar é ampliar o teto financeiro.

Temos uma parceria com o ministério muito boa.

Ele (o ministro José Temporão) tem nos ligado diariamente para saber da situação”.