Da Folha de S.
Paulo O Palácio do Planalto espera a reação de grupos pró-governo em contraposição ao “Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros” -também chamado de “Cansei” e lançado ontem em São Paulo por entidades e personalidades ligadas a políticos do PSDB.
A Folha ouviu no Planalto que o presidente Lula e sua equipe ainda não conseguiram entender o objetivo do “Cansei”, que oficialmente é liderado pela OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) e surgiu após o acidente aéreo.
Os coordenadores do “Cansei” dizem ser apartidários.
Não é essa a avaliação do Planalto, mas o presidente e seus assessores preferem ainda não se manifestar publicamente a respeito.
A expectativa é a de que sindicatos ou mesmo o PT se oponham ao grupo.
Um dos criadores da iniciativa foi João Dória Jr., que ajudou a arrecadar fundos para a campanha presidencial do tucano Geraldo Alckmin.
MUXOXO O psicanalista Tales Ab\Sáber, crítico do PT e do governo, avalia que há de fato uma crise.
Mas, segundo ele, o “Cansei” não tem condição de dar uma resposta a ela: “Esse grupo é impotente.
Não há interesse real em transformar o Estado. É um muxoxo que não muda a realidade, porque os grupos que estão nele são ligados aos tucanos.
Eles isolaram a política da sociedade, produziram essa sensação de impotência de que tudo é complexo demais para ser mudado”.
O cientista político Leôncio Martins Rodrigues, professor aposentado da USP e da Unicamp e amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, avalia que o movimento enfrentará dificuldades.“A temática não comove tanto a população mais pobre, mas reflete o sentimento da classe alta e da classe média alta.” Maria Victoria Benevides, professora da USP e ex-integrante da Comissão de Ética Pública do governo Lula, lamenta que mobilizações desse tipo só surjam quando um setor da sociedade é atingido. “Infelizmente, outras tragédias não causam comoção nem mobilizam os setores que têm mais peso e mais voz”.