Desce do palanque, governador!
Por Edílson Silva* E lá se vão sete meses de governo e as estruturas de marketing do candidato Eduardo Campos continuam montadas.
Será que o candidato não se deu conta que já é governador?
Uma nova leva de outdoors está pelas ruas, com Eduardo Campos ao lado de Lula, exibindo as cifras do PAC para Pernambuco.
Foto de campanha, as cores da campanha, o clima da campanha.
Acontece que o humor do povo não é o mesmo da campanha, até por que a campanha, para o povo, já acabou.
Penso que o governador e sua equipe devem estar pensando em seguir a trilha aberta por Jarbas Vasconcelos, quando da sua vitória sobre o governador Arraes em 1998.
Jarbas derrotou Arraes por cerca de 1 milhão de votos de diferença, assumiu o governo montado numa máquina milionária de propaganda, fez uma gestão medíocre e conseguiu a reeleição 4 anos depois.
A história poderia se repetir?
Vejamos as principais condições semelhantes: vitória da oposição; larga margem de diferença de votos; Inocêncio Oliveira no campo aliado; o PAC cumprindo o papel do dinheiro da venda da Celpe.
Acontece que existe uma diferença que faz toda a diferença.
O povo que elegeu Eduardo Campos, dando-lhe uma esmagadora vitória, não foi o mesmo que elegeu Jarbas Vasconcelos.
A esmagadora vitória representou também uma esmagadora derrota da gestão anterior, um balanço muito negativo do conjunto da gestão Jarbas, neoliberal e truculenta até a medula.
A bomba chiando caiu no colo de Mendoncinha.
A votação bem abaixo das “pesquisas” do “imbatível” Jarbas Vasconcelos para o Senado, contrastando com o excelente desempenho do meu colega articulista neste blog, Luciano Siqueira, do PC do B, também candidato ao senado, atestam esta tese.
O governo caia pelas tabelas e não suportava um debate franco, olho no olho.
Eduardo Campos teve a esperança do povo e o desespero de um serviço público maltratado por pelo menos 12 anos de radicalismo neoliberal canalizados para a sua candidatura.
Aproveitou como pode e de forma irresponsável o apoio de Lula, foi beneficiado com o vampiro-gate envolvendo Humberto Costa, prometeu mundos e fundos, combateu no verbo os tempos neoliberais e encheu-se de aliados “interessadíssimos” no bem-estar do povo pernambucano.
O castigo, que vinha a cavalo, chegou de avião, como diz a poesia do Fundo de Quintal.
A primeira barreira de contenção nos movimentos sociais, formada por “sindicalistas” vendidos dos partidos da base aliada, não foi suficiente para represar a maré de cobranças das promessas de campanha.
A educação caminha para dois meses de greve.
A saúde tem os médicos pedindo demissão por absoluta falta de condições.
Os quartéis da PM estão cozinhando uma erupção abertamente.
A Polícia Civil também reclama e quer a sua justa parte.
A resposta de Eduardo Campos ao estado de caos que se aprofunda resume-se a marketing e utilização da “Justiça” para enquadrar seus ex-eleitores.
Decreta as mobilizações ilegais e manda aplicar multa diária.
Isso é básico, mas parece que os assessores do governador ainda não sabem: a superestrutura jurídica da sociedade está submetida à correlação de forças na base estrutural da sociedade e à possibilidade das pessoas submeterem-se a ela.
Quando a Lei não corresponde à realidade da sociedade, ela se torna letra morta.
Como obrigar um professor a trabalhar com um salário base de R$ 259,00?
Quem conhece as emergências dos hospitais públicos sabe que nossos médicos são verdadeiros heróis, salvam vidas em condições absolutamente adversas, fazendo um trabalho que a rigor é impagável.
Pense o que significa para um pai de família entrar numa viatura policial e encarar esta sociedade, cheia de problemas, desigualdades, homens e mulheres desesperados?
Há maus professores, médicos e policiais, claro que sim.
Mas até o céu, ambiente celestial, produziu Lúcifer, que ao ser expulso de lá levou consigo nada menos que 1/3 dos anjos.
Imagine se num quartel da PM não há demônios.
Estamos aqui falando da esmagadora maioria dos excelentes servidores públicos, que hoje, a rigor, pelo salário que ganham, estão fazendo é trabalho social, quase voluntário.
Ao invés de provocar as Varas da Fazenda para julgar greves ilegais e aplicar multas sobre sindicatos, o governador deveria exigir destas Varas a execução imediata das dívidas incalculáveis que sonegadores têm com o Estado.
Deveria fortalecer o Fisco, dar estrutura de guerra para a auditoria, incentivar a área de fiscalização com bons salários e metas de produtividade bem recompensadas, para acabar com essa Zona Franca ilegal.
Deveria acabar também com as renúncias fiscais, como a que foi dada recentemente pelo seu governo para a AMBEV.
São nestas ações que estão parte significativa das soluções.
A herança maldita, inegável, precisa pelo menos começar a acabar.
Mas nem isso.
Eduardo Campos parece que resolveu pedi-la em casamento, quando o povo esperava que ele a enterrasse.
O governo atual tem se mostrado uma grande fraude.
Não se trata de incompetência administrativa, trata-se de opção política neoliberal, covardia diante do poder econômico e rabo preso com interesses estranhos aos da maioria do povo Pernambucano.
O que restou ao governador, em tão pouco tempo, foi o palanque eleitoral fora de época. *Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao Governo do Estado em 2006 e escreve às sextas para o Blog de Jamildo