A colunista Eliane Cantanhêde, da Folha de S.
Paulo, faz uma análise sobre o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o abacaxi que ele tem para descascar à frente da pasta. “Os Desafios de Jobim” Diz-se que Nelson Jobim é meio esquentadinho, mas não louco a ponto de rasgar dinheiro.
Pois parece que ele começou a rasgar dinheiro na noite de terça-feira, quando aceitou o Ministério da Defesa.
O argumento dos seus amigos mais próximos, a começar do ex-deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), era que o desafio era imenso, mas, se Jobim conseguisse estabilizar o setor aéreo, que está fora de prumo, seria “consagrado”.
Jobim, ex-ministro da Justiça de FHC e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, é lembrado para a vaga desde o primeiro mandato de Lula.
Sempre recusou, como tinha acabado de recusar agora.
Mas foi mais um a cair na lábia de Lula e na força de atração do poder.
Agora, seus desafios são inúmeros, disseminados, dificílimos.
Ele precisa restituir a escala de comando do setor aéreo, desorganizado pela inépcia de Waldir Pires, pela politicagem na Anac, pelas denúncias de corrupção na Infraero, pelas idas e vindas da Aeronáutica, que foi desautorizada e humilhada por Lula pelo menos duas vezes.
Vai ter, também, de enfrentar as empresas aéreas, que saíram completamente do controle pela quebra da Varig, aliada ao crescimento da demanda e à bagunça no governo.
E vai ter um problema pontual de bom tamanho: as investigações sobre a possibilidade de sabotagem no Cindacta-4, de Manaus, que parou os vôos internacionais na madrugada de sábado, com efeito cascata sobre os vôos domésticos –e, portanto, fonte de novo caos.
Jobim, portanto, vai ter que anotar na sua mesa de trabalho algumas palavras-chaves: desmando, corrupção, sabotagem, ganância.
Misturar tudo e ver o que é possível fazer, para dar uma resposta rápida à população.
Por mais que os xiitas lulistas digam que as pessoas que andam de avião não valem nada nem representam nada, elas são cidadãos e cidadãs que pagam impostos, votam, trabalham, produzem e estão desesperadas com essa situação.
No meio de tudo isso, estará também pairando sobre a cabeça do novo ministro da Defesa uma palavrinha-chave muito complexa: desmilitarização.
Sinceramente, depois de tudo isso que estamos todos assistindo, é bem possível que ocorra um movimento inverso: aprofundar a militarização do setor aéreo.
Pelo menos, uma coisa é certa: militar não combina com insubordinação nem com bagunça.
Quer dizer: nunca antes neste país combinava.
Agora, tudo é diferente.
E ele, Jobim, não pode esquecer que Defesa não é apenas setor aéreo. É também Aeronáutica, Marinha, Exército, com toda uma discussão internacional sobre estratégia de defesa, com toda a guerra civil das capitais, especialmente Rio de Janeiro, e com toda uma chatice sem fim sobre soldos e reequipamento.
Como diria o amigo Sigmaringa, Jobim pode se consagrar, sim.
Mas corre o sério risco de morrer de saudade do Ministério da Justiça e do Supremo.
Ou, principalmente, da sua calma e rica vida na advocacia privada.