O alagoano Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado, ainda tenta dar um “jeitinho brasileiro” no mar de lama em que ele mesmo se jogou.
Em pleno recesso parlamentar, distribuiu o que ele chamou de “O Dossiê Ignorado” entre senadores e jornalistas.
Josias de Souza, da Folha Online, recebeu e atestou: “Em nova defesa, Renan usa dados velhos e ignora a Polícia Federal”.
Veja a matéria completa do Blog de Josias: “Renan Calheiros (PMDB-AL) aproveita o recesso parlamentar para tentar reverter a atmosfera de suspeição que lhe rói o prestígio.
Nos últimos dias, enviou a um grupo de senadores e jornalistas uma nova peça de defesa.
Chama-se “O Dossiê Ignorado”.
A despeito do nome, não contém um mísero dado desconhecido.
Além de batido, o “dossiê” de Renan é seletivo.
Mostra o que convém e esconde o que remanesce sem resposta.
Por exemplo: incorpora, em anexo, as seis folhas resultantes da perícia feita em sua documentação pela Secretaria de Controle Interno do Senado.
Mas não faz desconhece as 20 páginas da vistoria que a Polícia Federal realizou no mesmo papelório.
As duas perícias foram encomendadas pelo Conselho de Ética.
Foram feitas em escassas 48 horas.
O trabalho do Senado, mais superficial, limitou-se a atestar a “autenticidade” dos papéis apresentados por Renan.
A análise da PF, embora preliminar, detectou 20 “inconsistências” nas transações bovinas do senador.
E pediu prazo de 20 dias para aprofundar a averiguação.
No último sábado (21), a PF recebeu parte da documentação a ser perscrutada.
Pediu mais papéis.
Deve recebê-los até quinta-feira (26).
Só então começará a contar o novo prazo.
O “dossiê” de Renan foi elaborado pela banca advocatícia Eduardo Ferrão-Baeta Neves, contratada pelo senador.
Sustenta, em essência, que a representação do PSOL contra Renan “é sustentada por recortes de notícias”, enquanto “a defesa do senador é sustentada por documentos”.
Anota: “Essa defesa tem sido ignorada”.
São listados no documento dados que, longe de ser ignorados, foram fartamente noticiados.
A principal tese repisada no texto é a de que Renan dispunha de recursos próprios para bancar a pensão alimentícia da filha nascida da relação extraconjugal com a jornalista Mônica Veloso.
Não precisaria, portanto, servir-se nem a recursos da Mendes Júnior nem de Cláudio Gontijo, diretor da construtora.
No capítulo “Provas Contábeis”, o “dossiê” de Renan volta a mencionar a origem do dinheiro do senador.
Sua principal fonte de renda seria a venda de bois: R$ 1,9 milhão entre 2003 e 2006. É justamente sobre essas transações que se debruçaram os peritos do Instituto de Criminalística da PF.
Levantaram-se dúvidas eloqüentes.
A “nova defesa” de Renan não contrapôs nenhum dado capaz de afastar os questionamentos.
São três os principais questionamentos levantados pela PF: 1) ausência de notas fiscais que comprovem a venda de 244 cabeças de gado no ano de 2004; 2) divergências entre as notas fiscais e GTAs (Guia de Trânsito Animal, documento exigido para o transporte dos bois); 3) indícios de inidoneidade nas empresas que, segundo Renan, adquiriram bois de suas fazendas.
Pelas contas preliminares da PF, resultou sem comprovação a venda de 1.060 bois.
Em dinheiro, corresponde a cerca de R$ 1 milhão, mais da metade do faturamento que o presidente do Senado diz ter tido com os seus negócios agropecuários.
O silêncio do dossiê de Renan sobre esses questionamentos pode ser um prenúncio da disposição do senador de questionar o aprofundamento da perícia da PF.
O documento da polícia vai fundamentar a decisão do processo contra o senador no Conselho de Ética, que volta a trabalhar em 1º de agosto, depois do recesso.
Em privado, Renan e sua tropa de choque afirmam que, sem autorização expressa do STF, a PF não pode investigar o presidente do Senado.
Ouvido pelo blog, o ministro Tarso Genro (Justiça) diverge desse entendimento.
Afirma que a PF está apenas atendendo a uma solicitação da Mesa do Senado, por provocação do Conselho de Ética.
A análise dos documentos não constitui, na opinião de Tarso, uma investigação clássica.
Daí a desnecessidade de autorização do Supremo”.