O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) vai dar ainda mais carga à oposição ao Governo Lula agora, no segundo semestre da Legislatura.
Em entrevista exclusiva à repórter Ana Lúcia Andrade, da editoria de Política do JC, ele falou sobre a organização desse embate, reconhece que o PSDB tem feito muito discurso e pouca prática nessa tarefa, e também critica os partidos da aliança (PMDB/DEM/PSDB) na atuação pelo interior do Estado.
Sobre sucessão 2008, ela já admite que poderá lavar as mãos no processo de escolha do candidato do PMDB à Prefeitura do Recife.
Leia a entrevista completa: JC - Que balanço o senhor faz desse primeiro semestre no Congresso Nacional?
JARBAS - Esperava muito mais do Congresso.
Primeiro, que se tomasse a iniciativa de discutir e votar a reforma política.
Discutir nem tanto, porque essa discussão já está aberta e se arrasta há muito tempo.
Em segundo lugar, que Lula enviasse alguma coisa das reformas: ou a tributária, ou a trabalhista, ou a complementação da da Previdência.
Lula se apegou ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), deu ênfase nesse conjunto de obras que ele quer desencadear, e a gente nem teve iniciativas do presidente da República, a não ser medidas provisórias, nem a Câmara e o Senado agilizaram a reforma política.
Nessa altura essa reforma já foi para o espaço.
Essas modificações teriam de estar prontas até o início de outubro porque ano que vem é de eleição.
Uma coisa importante no Senado foi o pacote anti-violência.
Mas continua se arrastando nas duas casas.
Foi uma iniciativa do senador Antônio Carlos Magalhães (que faleceu na sexta-feira), uma coisa bastante louvável, ele pediu que se reunisse na Comissão de Justiça todos os projetos em tramitação que tratassem de violência, criou uma comissão de cinco senadores para isso, deu um prazo e o cumpriu, e agora está entre aqueles projetos que todos conhecem: os que ficam presos por conta de medidas provisórias.
Eu diria que foi frustrante nos aspectos de produtividade.
JC – Mas o senhor tinha mesmo esperança de que a reforma política avançasse?
JARBAS – Tinha.
Fui nessa expectativa.
Eu próprio tinha eleito para mim como uma coisa prioritária.
Mas o que está muito claro pra mim é que o Congresso não quer votar.
O presidente da República tem uma parcela de responsabilidade nisso.
Essa semana ele voltou a dizer que a reforma era muito importante mas não evidencia isso (na prática).
Os líderes não exteriorizam essa intenção do presidente.
Não vamos colocar na conta de Lula o fato negativo da não aprovação da reforma. É injusto.
Mas quando um presidente não quer, não se mobiliza, não tem reforma.
Então, se aquela que eu achava que era a mãe das reformas não foi feita, nem as outras tiveram nenhuma tramitação, é uma coisa muito ruim para o País.
JC – Quando o senhor diz que está claro que o Congresso Nacional não quer votar a reforma política o senhor está dizendo o quê?
JARBAS – Por interesse próprio.
Não quer cortar na carne, não quer largar privilégios, quer continuar mantendo partidos de aluguel.
O Brasil é o único País do mundo que tem essa imoralidade, essa aberração das coligações para as eleições proporcionais.
Se vota em José e elege Pedro, vota-se em Antônio e elege Joaquim.
No fundo isso tudo serve para desmoralizar a classe política, o Congresso Nacional, as casas legislativas, que já estão de maré baixa há algum tempo.
Não que a reforma política iria resolver tudo.
Mas abriria um novo horizonte com a fidelidade partidária, a cláusula de desempenho, o financiamento público…
Evidentemente que daria um outro status ao Congresso.
JC – O senhor se frustrou muito com o retorno ao Congresso?
JARBAS – Me frustrei muito na proporção em que achava que, pelas coisas que aconteceram na Câmara no ano passado (escândalos de mensalão, mensalinho…), o Congresso estaria consciente de que era fundamental a reforma política.
Fiz uma previsão errada.
A gente vai para o plenário votar indicação de ministros, de diretores de agências reguladoras…
JC – Já que o senhor reconhece que a reforma política desandou, qual será sua prioridade para o segundo semestre?
Vai continuar voltado para os temas nacionais?
Como o senhor retorna ao Congresso Nacional?
JARBAS – Eu acho que a reforma política não pode sair de pauta.
Ela não vai vigorar para essa eleição mas a gente tem que insistir.
Mas reconheço que é uma luta que se tornou mais dura e mais ingrata porque ano que vem é ano eleitoral.
Mas não quer dizer que ela fique fora da pauta.
Em segundo lugar, temos que priorizar as reformas.
Um país não pode se modernizar se não fizermos as reformas trabalhista e tributária e complementar a da Previdência.
JC – Essa oposição ao presidente Lula, que o senhor procura organizar com o PSDB, como é que vai se expressar a partir de agora?
JARBAS – Eu tenho lutado, desde que cheguei no Congresso.
O que eu quero é dar organicidade.
Tenho perseguido essa questão de organizar a oposição.
Alguém tem de ficar responsável por algumas coisas…
JC – Quem o senhor tem do seu lado nessa compreensão e com essa determinação?
Porque o PSDB, alguns tucanos mesmo reconhecem, ainda não ocupou o espaço que deveria ter na oposição a Lula.
O senhor concorda que o PSDB está tímido no exercício da oposição?
JARBAS – Eu não diria tímido. É a questão da prática, do exercício. É muito mais uma questão de organicidade do que de vontade de fazer oposição.
Eu tenho visto no Senado discursos duros (dos tucanos) com relação à prática governamental, às ações do governo.
Eu não vejo é organicidade nisso.
Eu tenho uma dificuldade porque sou um dissidente no meu partido.
Não vou à reunião do partido, não vou porque é uma questão minha mesmo…
JC – Isso dificulta organizar a oposição?
JARBAS – Dificulta porque eu não falo pelo PMDB.
Eu vou para as reuniões do PSDB, do Democratas, mas não participo de reunião da minha bancada pois toda ela, ou sua grande maioria, é defensora de Lula.
Então sozinho, já que não tenho a credencial de líder, não sou líder formal de nada, é difícil para mim estar convocando todos.
Mas tenho insistido que eles façam isso.
Tenho conversado com José Agripino (líder do Democratas no Senado), com Arthur Virgílio (do PSDB).
JC – Diante dessa dificuldade, como o senhor pensa em praticar essa oposição, ou ela vai ficar restrita aos discursos?
JARBAS – Não.
Eu acho que a oposição não vai ficar só nisso, em discurso de A, B ou C.
Ela tem que ter organicidade.
Temos que eleger um senador só para tomar conta da Petrobrás, outro para acompanhar as aparições de Lula, as baboseiras que ele diz no dia a dia, outro para tomar conta do PAC, outro para levantar as medidas provisórias, é isso que tem que ser feito, esse sentido de organicidade.
Do jeito que estou lhe dizendo, eu digo a eles, às pessoas que têm liderança no Congresso.
JC - Pois é, o senhor é sozinho no PMDB, mas PSDB e Democratas têm bancadas.
Por que o projeto não andou ainda?
JARBAS – Não andou porque faltou conversa.
A gente começou a conversar no final do semestre.
Mas estamos no começo da legislatura ainda.
Vamos ver se anda agora.
Eu me ressinto muito das coisas desorganizadas.
E não vou querer que as coisas se moldem às minhas práticas de organicidade.
Essa coisa de se reunir, de conversar, de trocar idéias.
Não encontrei isso no Senado.
Não encontrei uma oposição organizada a Lula.
As pessoas vão fazer discursos no plenário quando a gente poderia ter uma ação muito melhor em favor do País.
Se a gente está ali é porque não acredita que esse governo está fazendo as coisas.
Então se a gente não acredita tem que ter organicidade.
Não pode ficar só exteriorizando o que cada um pensa (individualmente).
JC – E a sucessão de 2008, o senhor deixa mesmo para discutir no ano que vem?
Essa situação do seu partido, de dois postulantes à Prefeitura do Recife, imagina como resolver esse problema?
JARBAS – Não.
Tem dois postulantes e tem que ir para o voto, saber como é que vai ser feito isso.
JC – O senhor está dizendo que é favorável à escolha através de prévias?
JARBAS – Não.
Estou dizendo que o partido tem que decidir qual o colegiado que vai decidir isso (o candidato).
Se é a executiva.
A executiva é um colegiado muito reduzido.
Então que decida qual colegiado vai decidir: se é a executiva mais o diretório mais os delegados…
JC – E as viagens que começou a fazer pelo interior: qual seu sentimento sobre a oposição, como as pessoas estão acompanhando seu mandato?
JARBAS – Não viajei no primeiro semestre porque havia uma necessidade maior de marcar presença no Senado, conhecer o Senado que eu não conhecia.
Resolvi que no segundo semestre eu tenho que compatibilizar essas coisas.
Numa reunião que houve da executiva do PMDB com os deputados, pedi para o partido ter uma ação mais presente no Estado.
E já falei com Sérgio (Guerra) e Mendonça (Filho) para que se faça alguma coisa no interior.
Andar, fazer encontros, saber como a população está vendo nosso desempenho na Assembléia Legislativa, no Senado, na Câmara. É importante a gente fazer isso.
JC – O senhor entende que está faltando também no Estado uma organicidade na oposição?
JARBAS – Muito.
Tanto a gente peca no Senado como aqui.
Está faltando uma presença maior no Estado.
JC – Essa ausência é resultado de quê?
A aliança ainda está sob o impacto da derrota eleitoral ou é o tempo natural de começo de governo?
JARBAS – Tem um pouco da derrota.
Mas tem uma coisa, que é uma prática política não elogiável, de os partidos só funcionarem em época eleitoral.
Nessa época os comitês são cheios.
Por que não se faz algo, se pelo menos não nesses moldes, parecido?
Fica ruim não ir ao interior, não promover encontros, tem que ouvir as queixas, os elogios.
Eu tenho me batido por isso internamente.
Tanto no meu partido quanto nos outros que andam com a gente, os democratas e os tucanos.