Vale a pena ler a avaliação do jornalista Elio Gaspari, na Folha de São Paulo deste domingo (22), sobre a tragédia de Congonhas e seus reflexos.

Para ele, “o cartel dos aeroportos gerou o caos”.

Assim como boa parte do Brasil, ele também concorda que o presidente Lula (PT) - “Nosso Guia” - demorou a se tocar do tamanho do problemática aérea.

Mas Gaspari tem esperanças e diz que desta vez foi diferente.

Vejam: “As medidas na sexta-feira por Nosso Guia vieram tarde, mas são um passo para enfrentar o descalabro do aeroporto de Congonhas.

Tudo indica que, pela primeira vez, o assunto foi tratado sem a decisiva interferência do cartel de aerocratas da TAM, da Gol, da Infraero e da Anac.

Em vez de reclamar, as empresas podem oferecer aos seus passageiros uns 20 pontos de embarque em ônibus para Guarulhos e Viracopos.

Neles, poderiam até adiantar o check-in.

A aviação comercial brasileira e a administração aeroportuária entraram em colapso porque a bagunça dá lucro.

Basta que se reflita sobre um dispositivo do Código Brasileiro de Aeronáutica, de 1986.

Ele determina que, em caso de morte de um passageiro, a companhia deve indenizá-lo até um limite de 3.500 Obrigações do Tesouro Nacional, ou OTN.

Esse papel não existe mais. É uma peça de arqueologia financeira.

Virou BTN e hoje se chama TR.

Numa conta, a indenização pode valer R$ 14 mil.

Noutra, R$ 125 mil.

Trata-se de um dispositivo iníquo e anacrônico que só sobrevive porque tudo o que se refere à aviação comercial passa pela manipulação dos interesses de uma aerocracia privada e pública.

Felizmente, os tribunais atropelaram essa maluquice, mas o fato de ela ainda estar por aí mostra como colecionam-se absurdos.

A pista de Congonhas é curta, o aeroporto está engarrafado, as empresas submetem os passageiros ao overbooking e nada resta à patuléia senão relaxar e gozar.

Os três grandes desastres da TAM e da Gol mataram 445 pessoas.

Para conseguir indenizações adequadas, seus familiares tiveram que contratar advogados, ir à Justiça e, em muitos casos, aceitar acordos.

As vítimas da TAM que batalharam na Justiça americana conseguiram compensações até três vezes superiores.

Em Pindorama, a maior indenização paga pela empresa, por ordem do juiz, foi de R$ 800 mil.

Só numa atividade que desrespeita os clientes em benefício da patranha um presidente de empresa pode fazer o que fez o doutor Marco Antonio Bologna, da TAM.

Na quarta-feira ele disse que o Airbus estava em “perfeitas condições”.

Na quinta-feira, confrontado com informações que tinha, mas não revelava, Bologna confirmou que havia um defeito no sistema que ajuda a frear o avião.