Da Editoria de Cidades do Jornal do Commercio Cento e oito médicos dos principais hospitais de emergência da rede estadual entregaram cartas pedindo exoneração de seus cargos ao Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), ontem à tarde.

A maioria dos requerentes (60 deles) é de traumato-ortopedistas e os demais são clínicos e cirurgiões.

Os 14 traumato-ortopedistas do Hospital Otávio de Freitas (HOF) levaram o pedido de demissão diretamente à Secretaria de Saúde e já não trabalham neste fim de semana, o que deve gerar superlotação nos Hospitais da Restauração e Getúlio Vargas.

Os demais demissionários devem ir se afastando na próxima semana, respeitando os prazos previstos em cada contrato.

Outros 35 neurocirurgiões já haviam comunicado afastamento no mês passado e saem no próximo dia 31.

Além da defasagem salarial, os médicos alegam não aceitar mais as precárias condições de trabalho.

O presidente do Simepe, Mário Fernando Lins, afirma que não vai contra a classe e, embora pretenda chamar os médicos para avaliar cada caso, encaminhará todas as cartas de exoneração à Secretaria de Saúde no início da semana. “Os médicos estão desestimulados, essa é a vontade deles e temos de respeitá-la”, afirmou.

O sindicalista fez questão de frisar que a maior reivindicação é a oferta de condições de trabalho dignas, ficando o reajuste salarial em segundo plano.

O piso salarial de um médico é de R$ 1.400 e eles reivindicam um reajuste para R$ 2.161.

Na última terça-feira, a Secretaria de Admnistração propôs um acréscimo de R$ 100 à gratificação dos plantonistas, fato que seria o estopim para a crise.

Traumato-ortopedista do Hospital da Restauração, Leonardo Gouveia, 28 anos, reconheceu que todo médico almeja o serviço público, por ser uma vitrine e proporcionar grande aprendizagem. “Mas não temos conseguido atender devidamente a sociedade.

Faltam macas, medicamentos, equipamentos, alimentação.

Os pacientes ficam contra nós, alguns até tentam nos agredir. É muito desgastante”, justificou.

Apesar do cenário, ele não descarta a possibilidade de os demissionários reverem sua posição. “Seria possível, se o governo parasse de nos provocar, oferecendo um aumento de R$ 100, enquanto anuncia a construção de um hospital de R$ 30 milhões.

Tenho certeza que, mesmo se dobrarem o salário, muitos colegas não voltam”.

Na próxima segunda-feira, os cirurgiões das grandes urgências se reúnem no Hospital da Restauração para avaliar se entregam os cargos em conjunto.

A idéia é dar o prazo de uma semana para o governo oferecer alguma proposta.

As Secretarias Estaduais de Saúde e Administração enviaram nota à imprensa, onde consideram precipitada a decisão dos médicos, uma vez que as negociações estão em andamento, havendo reunião marcada para este sábado (21), na qual serão apresentadas novas propostas.

O comunicado ressalta que o governo está investindo R$ 58 milhões na reforma e aquisição de equipamentos para grandes emergências e que as secretarias “estão abertas ao diálogo e dispostas a atender, na medida do possível, às reivindicações dos médicos do Estado”.

Nega que tenha sido oferecido aumento de apenas R$ 100 e faz um apelo para que os médicos garantam assistência à população.