Por Jayme Asfora* Em 16 de julho de 1950, a derrota brasileira para o Uruguai por 2 x 1 na final da Copa do Mundo calou o Estádio do Maracanã.

Fez-se um silêncio ensurdecedor que entrou para a história.

Em 13 de julho de 2007, outro Maracanã lotado vaiou seis vezes uma só pessoa.

Fez-se um barulho que calou o presidente e também entrou para a história.

Nunca, e em nenhum outro País, um chefe de Estado deixou de, solenemente, declarar a abertura oficial de jogos olímpicos ou pan-americanos.

Mas Lula não o fez.

Vaiado, preferiu o silêncio.

O que as câmeras de TV registraram para as Américas foi um momento de puro constrangimento e reflexo de um sentimento que se tem generalizado de inconformismo dos brasileiros.

E antes que alguma voz levante para falar em “orquestração”, não acredito que um público de 90 mil pessoas seja formado apenas de “maria-vai-com-as-outras”.

O que tivemos ali foi um protesto forte e sonoro contra todo e qualquer caso de corrupção que tenha sido descoberto nos últimos quatros anos e meio.

Um protesto contra o mensalão e contra o amigo Renan.

Contra Marta – e seu relaxa e goza – e contra Severino, considerado um injustiçado pelo presidente um dia antes, no Recife.

Estamos falando de um protesto que veio de uma classe média insatisfeita e esquecida.

Que não é contemplada pelo bolsa-família e nem tão pouco pelos juros altos.

Que vê milhões indo pelo ralo, enquanto a carga tributária só aumenta.

Que não acredita na inocência do presidente do Senado e menos ainda na incrível capacidade do governo de agir como se nada estivesse acontecendo.

Esse Maracanã de vaias deve servir para que o governo, e principalmente o presidente, reflita sobre que rumos devem ser dados ao País.

Se Lula ficou “triste” com o que recebeu, indignados estamos todos nós ao vermos, diariamente nos jornais, as manobras realizadas para salvar a pele de quem está próximo ao presidente.

Seja um José Dirceu ou um Antônio Palocci.

Ao mesmo tempo, não vemos esse esforço todo para que seja votada a reforma política que poderá, sem dúvida, mitigar os riscos de novos casos de corrupção.

O mesmo País que fez uma bela festa para receber os jogos pan-americanos, também aproveitou para mostrar que está atento a cada passo, a cada manobra, a cada escândalo e a cada punição.

Criatividade e alegria.

Foi isso que levamos às Américas no dia 13 de julho de 2007.

Mas também mostramos que o Maracanã que cala é o mesmo que vaia.

E como vaia. * Jayme Asfora é presidente da OAB-PE e escreve para o blog às quintas.