Por Luciano Siqueira O número de mortos deve ultrapassar 180, entre as pessoas que embarcaram em Porto Alegre com destino ao aeroporto de Congonhas, São Paulo, e as que se encontravam no edifício da TAM Express e no posto de combustíveis próximo e foram atingidas pelo acidente.
Vidas humanas.
Angústias, alegrias, decepções, esperanças, planos e sonhos bruscamente interrompidos.
A dor dos familiares, dos amigos, dos companheiros de trabalho.
A consternação de todos nós. É a maior e mais estarrecedora das tragédias.
Há outra, que também emerge associada e em paralelo - não é exagero caracterizá-la dessa forma.
A tragédia da mídia – que cumpre a missão de informar, mas não resiste à glamorização da cobertura jornalística.
Canais de televisão disputam as “melhores” imagens, jornais se esmeram nas manchetes mais contundentes.
O “show da vida” midiático se superpõe à catástrofe que ceifou vidas e marcará para sempre quase duas centenas de famílias.
Mortos e familiares merecem respeito, que lhes falta da parte de muitos.
Porque importa o espetáculo da notícia.
A que se acrescenta a corrida desenfreada por identificar culpados.
Nem o piloto da aeronave escapa às especulações feitas por “especialistas” convocados às pressas para alimentarem o noticiário de rádios, TVs e sites.
Também importa, segundo a cobertura jornalística de alguns órgãos, criar um clima de insegurança, senão de pavor, entre os usuários das companhias aéreas e de aeroportos.
Insegurança e confusão: “uma tragédia anunciada”, afirmam alguns, sugerindo que a pista de Congonhas já apresentava problemas graves que não recomendariam a sua utilização por aeronaves de grande porte; “os acidentes se sucedem e nada é feito”, protestam outros, como que desconhecendo que o espaço aéreo brasileiro (mesmo com a chamada crise dos controladores de vôo que se arrasta há cerca de um ano), continua sendo considerado (e as estatísticas o comprovam) um dos mais seguros do mundo.
O bom senso – algo raro numa situação dramática como esta – recomenda respeito aos mortos e atenção aos seus familiares; resgate da caixa preta e coleta de todos os dados possíveis para uma rigorosa investigação das causas do acidente e ulterior tomada de providências; e uma informação objetiva, equilibrada e esclarecedora sobre o que se passa na aviação comercial brasileira.
Para que à dor de todos nós possa se somar a consciência coletiva dos problemas a enfrentar. *Vice-prefeito do Recife, escreve às quartas para o Blog de Jamildo.