*Por Cesar Sanson O presidente Lula não se cansa de afirmar que o país se encontra em seu melhor momento e que o crescimento econômico está em ascensão e será duradouro.
Diz o presidente: “O Brasil vive o seu melhor momento desde que a República foi proclamada”.
Assiste-se a um ufanismo sem precedentes.
Talvez apenas semelhante àquele da época dos militares em que se dizia que ‘ninguém segura esse país’.
O ufanismo se explica pelo sentimento paradoxal de que os mais pobres e os mais ricos estão contentes.
Os pobres porque consomem mais, acessam linhas de créditos mais facilmente e são assistidos por programas sociais.
Os ricos porque continuam ganhando muito.
Entretanto, uma análise mais rigorosa da sociedade brasileira mostra que a desigualdade social não dá sinais de reversão em sua base estrutural e, pior, não há nada no país que aponte para o debate de um projeto de nação que tenha como objetivo reverter essa desigualdade estrutural.
A conjuntura manifesta-se ainda mais complexa quando se vê que a parcela mais lúcida do movimento social percebe as incoerências do governo Lula, mas a sua base social identifica-se com o presidente.
O discurso ufanista do governo Lula de que o país está crescendo solidamente não se sustenta.
Nos últimos dias foi divulgado o PIB do trimestre.
O país cresceu 4,3%.
O indicador foi uma frustração para o governo.
O próprio Lula reconheceu que o PIB é “mais ou menos” e cobrou dos seus ministros a causa de desempenho tão baixo.
Comparativamente, no mesmo período, o PIB argentino cresceu 8%.
A Argentina vem crescendo desde 2003 em média 9% ao ano, já o Brasil patina faz 25 anos com um PIB que permaneceu por duas décadas em torno de 2,5%.
Na verdade o país acostumou-se com a mediocridade.
Falta ousadia.
Porém, o dado mais preocupante, para além do baixo crescimento do PIB, é o fato de que está em curso no país um processo de desindustrialização.
O Brasil chegou aonde chegou, mesmo aos solavancos, em função de sua forte industrialização.
Seria impensável o Brasil de hoje sem o seu modelo de ‘industrialização via substituição de importações’ que se desenvolveu a partir da década de 1930 e recebeu um novo impulso em meados da década de 1950.
Um exemplo do significado do estrago social da desindustrialização pode-se ver na crise do setor calçadista.
Milhares de trabalhadores desempregados e sem perspectiva de vida.
A perversidade desse processo consiste no fato de que o Brasil até pode continuar crescendo, porém sem gerar empregos. É o que já se vê com a crescente commoditização da economia nacional, a partir da importância que ganha na pauta de exportação produtos de baixo valor agregado.
Um dos exemplos que vai nessa direção é a aposta no etanol.
Poucos ganham muito com esse modelo, mas a maioria esmagadora não ganha nada.
A grande questão que se coloca é se estamos assistindo a uma desindustrialização temporária ou irreversível.
Já não há dúvidas que a indústria de ponta perde espaço no país.
Um dado significativo indica que a participação na produção total de setores mais sofisticados encolheu 16% nos últimos dez anos.
A tendência é agravada pela valorização do real, que estimula a produção e a exportação de commodities e a importação de bens.
Hoje, cerca de 70% da indústria está concentrada em produtos de ‘baixa’ ou ‘média-baixa’ tecnologia.
A tendência é agravada nos últimos anos com o real valorizado que estimula a produção e a exportação de commodities e de outros produtos básicos e favorece a importação de produtos acabados mais elaborados.
O tecido industrial brasileiro está perdendo densidade.
Na análise de Marcio Pochmann constatam-se sinais de \esclerose precoce\ na indústria.
O impacto, na opinião do economista se faz sentir na estrutura ocupacional do país. “Assiste-se ao avanço simultâneo do padrão asiático de emprego da mão-de-obra.
Ou seja, a geração de ocupações com contida remuneração, intensa rotatividade e elevada jornada de trabalho.
Na nossa avaliação, o debate da desindustrialização indica que o Brasil encontra-se numa encruzilhada.
Ou avança na perspectiva de constituir uma política industrial sólida, o que lhe permite criar condições satisfatórias de inclusão social e inserção não periférica na economia globalizada, ou se transforma num exportador de commodities agrícolas e de mercadorias maquiadas, o que desestrutura o mercado de trabalho brasileiro com conseqüências imprevisíveis para o conjunto da sociedade. (*) Pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores.
Análise conjunta com Instituto Humanitas Unisinos (IHU).