João Valadares Do PE Body Count Estive pela manhã na comunidade dos Coelhos, no Centro do Recife.
Meu objetivo era fazer uma reportagem sobre a promessa da prefeitura em retirar o pessoal das palafitas.
Pois bem.
Entrei num barraco e, em pouco tempo, a casa estava cheia de moradores.
Ninguém queria reclamar das condições de moradia.Todos queriam mesmo era denunciar o recorrenre abuso de policiais militares da Radiopatrulha e da Companhia Independente com Apoio de Motocicletas.
São relatos de tortura, espancamento, assédio e, acreditem, até roubo.
A casa ficou pequena para tanta gente.
Tivemos que organizar os depoimentos.
O episódio mais recente ocorreu ontem à noite.
Um policial da Cipmotos, devidamente encapuzado, tirou a roupa de uma jovem de 18 anos e a espancou.
Na frente de todos.
Fizemos a fotografia para comprovar as marcas da violência.
De acordo com relatos de mais de dez moradores, ela estava indo para a casa e o policial pensou que a garota estava querendo esconder a droga. “Eu disse que não tinha nada e ele tirou minha roupa e começou a bater em mim.
Estou toda marcada”, contou.
O mais grave é que a menina passou todo o dia de ontem tentando prestar queixa na Corregedoria da Secretaria de Defesa Social e não conseguiu. “Rodamos o dia todo de um lado para o outro.
Não fui atendida.
Eles são amigos dos policiais e, por isso, não querem que eu preste queixa.
Ainda vou tentar denunciar.
Não tenho medo.
Toda semana, a gente de bem apanha da polícia aqui de graça” Uma senhora de 68 anos me chamou num canto e fez a seguinte pergunta: “Meu filho, me diga uma coisa.
Os policiais homens podem revistar meninas?
Pergunto isso porque eles já revistaram minha neta.
Ela tem 13 anos.
Pegaram em tudo que é lugar da menina.
Ela chegou chorando em casa.” Outras garotas ouviram nossa conversa e confirmaram a atitude dos policiais. “Eu mesmo já fui revistada.
Eles pegaram nos meus seios e em outro lugares.
Fui correndo para casa.” Um homem que vende guarda-chuva nos sinais para sobreviver diz que já mudou os hábitos. “À noite, vem por outro caminho.
Eles já me bateram muito.
Levam o dinheiro que eu consigo com muito esforço. É um absurdo.
Uma vez disse que iria denunciar o abuso e eles prometeram voltar e acabar com tudo.” Ele continuou o desabafo. “Moramos aqui porque não temos para aonde ir.
Eles pensam que todos nós somos bandidos.
Eles invadem as nossas casas sem mandado judicial.
Eles dizem que moramos em barracos e, por isso, podem entrar.
Trabalho honestamente e não suporto mais levar tapa na cara e ter meu barraco invadido e revirado.
Eles levam todo o nosso dinheiro.
Diz que é dinheiro de droga.
Um deles já chegou a apontar uma pistola para a cabeça do meu filho”, revelou.
Fica a denúncia.