Por Edílson Silva O Presidente Lula esteve em Recife ontem (12 de julho) para re-anunciar o PAC, agora na versão estadual.

Os supostos investimentos no Estado serão da ordem de R$1,673 Bilhão.

O PAC, até aqui, tem se mostrado apenas um poderoso instrumento de marketing político-eleitoral, alicerce para palanques e comícios fora de época.

Já escrevemos em outros momentos que este plano traz pouco dinheiro novo em relação ao que já estava previsto em orçamentos já votados pelo Congresso Nacional, e que o “grosso” dos investimentos são para viabilizar corredores de exportação, estratégia distante da construção das necessárias e inadiáveis soberanias que precisamos conquistar.

Contudo, o PAC traz, no seu pára-choque, supostos investimentos em moradia, saneamento, urbanização.

E quem é louco de falar contra investimentos nestas áreas, ainda mais em Pernambuco?

O problema é que onze entre dez políticos vivem falando em educação, saúde, moradia, segurança, cidadania, etc.

A questão não está, portanto, no conteúdo das promessas, mas na sua veracidade.

O PAC sofre do mesmo mal.

Fala-se disso aos quatro ventos, há seis meses pelo menos, no entanto, nada ainda saiu do papel.

Lula já alertou ontem que as obras em infra-estrutura urbana poderão atrasar ainda mais, por causa da burocracia, que, segundo ele, não sabe “botar ovo” como as galinhas.

Pediu mais paciência.

Para a infelicidade geral da nação, a burocracia do Ministério da Fazenda e do Banco Central não só botam muitos ovos, como botam ovos de ouro, para os banqueiros.

Só em 2006 foram R$ 275 Bilhões transferidos para os cofres da agiotagem oficial.

Uma verdadeira granja que funciona em escala industrial.

Portanto, os supostos investimentos na infra-estrutura urbana são em tese positivos, mas, mesmo que se concretizem, são irrisórios diante do gigantesco mecanismo de concentração de renda operado pela área econômica do governo.

Ao redor do Presidente, na referida cerimônia, um bocado de Vossas Excelências, das pequenas e das graúdas.

Com tanto dinheiro sendo anunciado, isso é uma temeridade.

Para Olinda foram anunciados R$ 280 milhões.

Segundo Lula, a prefeita Luciana Santos (PC do B) terá que comprar um avental daqueles de vendedoras de “pastel”, cheio de bolsos, para guardar tanto dinheiro.

Brincadeira de mau-gosto de Lula.

Acho que ele não sabe que Luciana Santos é um dos maiores exemplos de descontrole social em Pernambuco.

Tudo indica que ela já comprou o tal avental há muito tempo.

Em Olinda o Conselho de Previdência não funciona por ingerência da prefeitura.

O Conselho Municipal de Saúde tem as Conselheiras de base demitidas pela prefeitura, por exigirem transparência na utilização dos recursos.

O Conselho do extinto FUNDEB, que agora virou FUNDEF, está cheio de graves pendências.

A prefeitura tenta criar um novo sindicato entre os servidores, de chapa branca, por que não consegue calar e nem cooptar o sindicato autêntico.

O exemplo de Olinda nos mostra que o Ministério Público e a Polícia Federal, que andam cumprindo o papel exercer o “controle social” sobre os agentes públicos, terão muito trabalho pela frente.

Mas a visita de Lula serviu também para mostrar um outro lado do PAC.

Do lado de fora do auditório principal do Centro de Convenções de Pernambuco, algumas centenas de manifestantes protestavam contra as “autoridades” presentes, blindadas contra o povo organizado.

Lula Cabral, prefeito do Cabo, enfrenta uma greve dos servidores há várias semanas.

Luciana Santos, de Olinda, enfrenta uma greve de mais de 30 dias e a fúria dos moradores da Ilha do Maruim, que foram desalojados de suas casas com a promessa de novas moradias desde 2004 e até hoje não foram atendidos.

O governador Eduardo Campos também enfrenta uma dura greve no setor de educação e também manifestações dos trabalhadores da Compesa, além dos concursados da Secretaria de Educação que ainda não foram efetivados.

João Paulo, prefeito do Recife, só não estava com os professores da PMR na porta do auditório por que sofreu uma recente derrota na tentativa de castigar a categoria com o pagamento dos dias de greve durante o recesso escolar.

Os servidores da UFPE também estavam presentes, protestando contra o congelamento salarial por 10 anos imposto pelo PAC aos servidores federais e contra a Lei anti-greve de Lula, que visa exatamente evitar que os servidores se organizem para lutar contra este congelamento salarial criminoso.

Ou seja, do lado de dentro do auditório, cercado por um robusto esquema de segurança, estava o Brasil do “nunca antes nesse país”, do marketing, o Brasil que está “melhorando”.

Do lado de fora, a dura realidade do povo.

Estive presente nesta manifestação, enquanto militante do meu partido, o PSOL.

E lá fui abordado por um antigo colega de militância, hoje contratado por umas das prefeituras de “esquerda” de nosso Estado.

Ele me disse que teríamos que reconhecer que as coisas estavam mudando pra melhor no Brasil, e que tínhamos que dar mais tempo para os efeitos do governo Lula aparecerem.

Olhei bem pra ele, com sua camisa de botão, por dentro da calça, manga comprida, sapato vistoso, barba impecável e uma chave de carro pendurada no bolso da calça.

E lembrei-me dele há uns quatro anos atrás, com sua camiseta de malha surrada, por fora da calça, calça jeans desbotada, uma sandália de couro e um cartão de passe-fácil na carteira.

A resposta foi inevitável: “as coisas mudaram para você, não para o povo”.

PS: Edilson Silva é presidente do PSOL/PE, foi candidato ao Governo do Estado em 2006 e escreve às sextas para o Blog de Jamildo