Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nas áreas de saneamento e urbanização no estado de Pernambuco Recife - PE, 12 de julho de 2007 Meu querido companheiro Eduardo Campos, governador do estado de Pernambuco e sua esposa Renata Campos, Nossa querida companheira Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil e coordenadora do PAC, Meus queridos companheiros ministros, Márcio Fortes, das Cidades; Sérgio Machado Rezende, da Ciência e Tecnologia; e Geddel Vieira, da Integração Nacional, Meu caro João Lira Neto, vice-governador de Pernambuco, Deputado Guilherme Uchôa, presidente da Assembléia Legislativa de Pernambuco, Desembargador Fausto Valença de Freitas, presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Deputados federais, Fernando Ferro, Maurício Rands, Pedro Eugênio, Wolney Queiroz, e o líder do governo na Câmara, que chegou atrasado porque não teve vôo ontem à noite, o nosso companheiro José Múcio, que está aqui no meio de vocês, Meu querido companheiro João Paulo, prefeito de Recife, Minha querida companheira Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente da Caixa Econômica Federal, Meu querido companheiro Luciano Coutinho, presidente do BNDES, Meu caro José Zenóbio Teixeira, diretor-geral da Agência de Desenvolvimento do Nordeste, Meus amigos e amigas, Deputados e deputadas estaduais, Senhores prefeitos e prefeitas aqui presentes, E cumprimentando o companheiro João Paulo, quero cumprimentar todos os prefeitos, dizendo a vocês que tem um tal de Lula, que falou aqui, que poderia ser contratado pelo Silvio Santos para imitar o Silvio Santos, porque eu nunca ouvi voz tão parecida, Meus companheiros e minhas companheiras.
Eu estava ouvindo a explicação da ministra Dilma Rousseff, e eu já ouvi essa exposição da Dilma em Minas Gerais, ouvi essa exposição da Dilma em São Paulo, ouvi essa exposição no Rio de Janeiro, na semana passada ouvi em Fortaleza, agora estou ouvindo em Recife, à tarde vamos ouvir em Salvador, depois vamos ouvir em Belém, depois vamos ouvir em Manaus, depois vamos ouvir no Rio Grande do Sul, no Paraná, porque nós vamos percorrer o Brasil inteiro anunciando essas obras do PAC.
Por enquanto, nós estamos anunciando as obras de habitação e saneamento básico.
Nós não estamos anunciando as outras obras porque o PAC não é apenas os 146 bilhões do saneamento e habitação, o PAC, na verdade, são 504 bilhões de reais que nós queremos envolver na economia até 2010.
São ferrovias, rodovias, pontes, gasodutos, linhas de transmissão, hidrelétricas e muitas outras obras, portos e aeroportos, de que o Brasil tanto precisa.
Mas nós demos prioridade à questão do saneamento básico.
E por que nós demos prioridade?
Porque nem sempre, no Brasil, a classe política levou muito a sério a questão do saneamento básico na periferia das cidades.
E pouco a gente via, também, companheiro João Paulo, pelo Brasil afora, investimentos no tratamento de água.
A impressão que a gente tem é que não são muitos os administradores públicos brasileiros que têm a dimensão da importância de colocar uma manilha embaixo da terra, sabendo que não vão poder colocar o nome de um parente naquela manilha para homenagear e para tirar fotografia durante a campanha.
Quando você tem uma dimensão humana da administração pública, não começa mais a pensar no nome de quem você vai colocar na manilha.
Você começa a pensar na saúde de uma criança correndo na rua, em frente à sua casa, sem precisar pisar em esgoto a céu aberto.
A gente, então, começa a pensar que aquele dinheiro que está soterrado embaixo da terra, recolhendo esgoto e, ao mesmo tempo, transportando água potável para aquela casa é, possivelmente, o maior investimento na área de saúde que um governo, que um prefeito podem fazer neste País e em qualquer país do mundo.
Vocês poderiam perguntar: “mas por que o presidente Lula foi pensar logo em priorizar o saneamento básico?” Porque tudo o que a Dilma apresentou aqui, e depois o Márcio falou do FNHIS, são os 2 bilhões para atender as pessoas mais pobres das cidades, com obras até 10 milhões de reais.
Nós temos o PAC-Funasa, são 4 bilhões de reais, e nós também vamos anunciá-lo logo, logo, em Brasília, separado deste PAC, porque é outra finalidade.
No PAC-Funasa nós vamos assumir a responsabilidade de, até 2010, fazer esgotamento sanitário e levar água potável a 90% das nações indígenas deste País; nós vamos levar, pelo menos, 50% de esgotamento sanitário e de água potável aos quilombos brasileiros; e vamos levar os outros 3 bilhões e 400 milhões do PAC-Funasa para priorizar dois tipos de cidades: primeiro, cidades com até 50 mil habitantes.
Mas as cidades não serão escolhidas apenas porque têm 50 mil habitantes.
No PAC-Funasa nós vamos escolher as cidades que tenham maior incidência da doença de Chagas, para combater esse mal que ainda mata muita gente e, também, no Norte do País nós vamos escolher as cidades que tenham maior índice de malária, para que a gente também possa começar a diminuir outra doença crônica numa determinada região do nosso País.
Quando a gente concluir todo o PAC-Funasa, o FNHIS e esse PAC, certamente, sem medo de errar, mesmo os adversários vão reconhecer que foi o maior investimento em saneamento básico já feito na história do nosso querido País.
E, certamente, há pelo menos uns 40 anos Pernambuco não via um montante de verba destinado a saneamento básico como está vendo agora.
Não sei se vocês atentaram para o que a Luciana falou.
Ela vai receber R$ 280 milhões e o orçamento dela é de R$ 240 mi.
Significa que o dinheiro não vai caber no cofre dela.
Sabe aqueles aventais de vender pastel, cheios de bolsos aqui na frente?
Ela vai ter que fazer.
Agora, o que é importante?
O importante - o Eduardo disse uma coisa aqui e eu queria chamar a atenção dos prefeitos, dos vereadores, dos deputados - é que o dinheiro disponibilizado, o projeto feito, nós precisamos transformar esse projeto e esse dinheiro em obras concretas, porque aí vai gerar emprego, vai gerar riqueza e vai dinamizar a economia brasileira.
Agora, eu queria chamar a atenção do povo aqui também. Às vezes a gente vem e faz tudo isso que nós estamos fazendo aqui e, na semana seguinte, o companheiro começa a pensar: “cadê a obra na minha vila, cadê a obra que não vem e prometeram?”. É que é assim mesmo, entre a gente vir aqui, dizer que tem o dinheiro, o governador dizer que tem o projeto, a gente assinar, até terminar o processo de licitação, com o tanto de lei que tem, com o Tribunal de Contas, com um monte de coisas, às vezes leva quatro meses, cinco meses, para a gente começar a obra. É uma coisa mais difícil do que a galinha botar um ovo, é complicado porque lá elas sofrem, mas botam o ovo.
Aqui, a gente sofre, sofre, e às vezes o ovo demora mais tempo do que deveria.
Eu estava dizendo para o Eduardo: quanto tempo a gente vai demorar para começar essas obras?
Ele disse: “se tudo correr bem, quando chegar o mês de fevereiro, isso aqui estará em obra”.
Ora Meu Deus, se a gente conseguir colocar, no mês de fevereiro, 1 bilhão e 600 milhões de reais em obras de saneamento básico no estado de Pernambuco, vai ser a maior quantidade de obras da história do estado de Pernambuco para cuidar de um problema como esse.
Eu queria pedir a compreensão de vocês para isso, a compreensão de que quando a gente sair daqui, a obra não vai começar.
O que nós estamos dizendo para os prefeitos e o governador?
O projeto de vocês é bom, está avaliado, vocês têm projeto executivo e têm projeto básico, por conta disso o dinheiro está disponibilizado.
Uma parte do Orçamento-Geral da União, uma parte financiamento do estado e das prefeituras.
O dinheiro está lá, então, todos os prefeitos e o governador sabem que tem uma quantia em dinheiro disponibilizada para eles.
Agora, é preciso que a gente agilize o segundo passo, que é fazer todo o processo de apresentação de documentos, aquele negócio todo, fazer licitação, e sabe o que acontece na licitação?
Você faz uma licitação, aí um empresário “A” ganha, o “B” perde.
O que acontece no Brasil?
O “B” vai para a justiça e aí a justiça pára. Às vezes fica seis, sete anos, às vezes está tudo bem, e o Tribunal de Contas diz: “Tem um problema, pára”.
Quando está tudo mais ou menos bem, aparece um companheiro representando o Instituto Ambiental do estado ou o Instituto Ambiental Nacional e fala: “Está errado, pára”.
E todas essas paradas que vão dando, às vezes demora um ano, dois anos e a coisa não acontece.
Por isso é que é preciso haver, Eduardo, um esforço do governo, junto com os prefeitos, e do governo e prefeito junto com a sociedade, junto com o Tribunal de Contas do estado, Junto com o Ministério Público, junto com o Instituto de Meio Ambiente, para que a gente assuma o compromisso: se a gente quer ou não quer que este País melhore, se a gente quer ou não que as coisas aconteçam neste País, porque é complicado meu caro, o Geddel sabe o que ele está passando.
Então, eu queria pedir essa compreensão e queria dizer para vocês o seguinte, quando eu ouço as pessoas falarem: “Ah, porque o fulano de tal tem enchente”.
Eu fui visitar o canal da malária esses dias e eu queria dizer para você, Eduardo, pense num “cabra” que desde os 11 anos de idade se habituou a viver com enchente.
Pense num “cabra” que com 11 anos de idade morou numa rua chamada Auriverde, na Vila Carioca em São Paulo, em que chegava o final do ano já dava dor de barriga e disenteria mesmo, porque a gente sabia que ia encher.
Pense num “cabra” que morou num cortiço em que, num único quintal, moravam 8 famílias, 30 pessoas, com um banheiro só, sem descarga, sem água encanada, pense, meu filho.
Pense o que é 20 pessoas se levantando às seis horas da manhã e só ter um desaguadouro.
Pense o que é pegar água do poço, colocar num baldinho e puxar uma cordinha, amarrar.
E água fria, porque não dava para esquentar para todo mundo, ou tomava banho de bacia dentro da cozinha.
Pense num “cabra” que, um dia, saiu dessa rua Auriverde e foi morar na rua Verão, numa casa nova, com cheiro de tinta, em junho de 1963.
E, em janeiro de 1964, acordou à meia-noite, com rato disputando espaço com barata, com merda boiando na ponta do nariz, com água batendo no colchão, e teve que se levantar à noite para levantar o colchão, para levantar a mãe, para tirar as irmãs.
E, a partir da primeira enchente, toda desgraçada que vem é pior do que a primeira.
Parece que a casa afunda toda, e vai ficando maior, e aí não pára mais.
Pense num “cabra” que achava que a enchente de um metro de água era muito, e mudou-se para outra rua mais alta, que não dava enchente e, no primeiro ano, deu um metro e meio de água dentro de casa.
Eu sei que eu vivi tudo isso na década de 60, e eu sei que tem muita gente que vive, hoje, em 2007, porque não foi feito o que deveria ter sido feito pelos governantes brasileiros.
Então, esse Programa precisa dar certo.
Nós vamos perceber o quanto é bom a pessoa se levantar de manhã, poder abrir a torneira e tomar um copo d\água.
João Paulo, pense num “cabra” que tem um pocinho na porta da sua casa e, quando dá a primeira enchente, o que enche de água suja é o poço.
Eu, que já estava acostumado, em Caetés, a buscar água nos caçuás, numa jumenta velha, e tinha que separar as fezes do cabrito, do bode, da vaca, tinha que separar os caramujos e colocar aquela água barrenta para assentar, para poder beber. É por isso que quando eu fui embora para São Paulo, a barriguinha deste tamanho, a canelinha deste tamanho, aquilo era verme, e é o que muitas crianças têm hoje.
Então, esse é um projeto que não é do governo Lula.
O movimento social, o movimento de moradia, o movimento dos sem-teto, as pessoas que se organizam nos bairros e brigam por isso, na verdade, são os heróis por terem nos convencido a fazer esse PAC.
Por isso eu queria agradecer aos companheiros das federações dos moradores que estão aqui.
Nós somos governantes, viu, Eduardo, e muitas vezes - você é jovem, já tem experiência, o João Paulo já tem experiência - nós precisamos ter mais paciência. Às vezes a gente fica irritado porque o movimento está nas ruas, gritando, xingando.
A gente pensa que é tão bom que não devia ser xingado.
Eles xingam e a gente fica nervoso “mas esses \cabras\ estavam do nosso lado ontem, porque estão nos xingando hoje?” É porque a angústia deles é diferente da nossa.
Quando estamos disputando, nós podemos fazer tudo.
Quando ganhamos, a gente só pode fazer o que é possível fazer, e eles continuam achando que a gente pode fazer tudo.
Então, essa paciência que nós temos que ter, essa relação com a sociedade é que pode permitir que a gente possa construir uma nação verdadeiramente nova, uma nação em que a democracia seja uma conquista da sociedade, baseada no fortalecimento das suas instituições.
Não pode ser uma relação entre o companheiro presidente e o companheiro cidadão.
Não, é entre o Estado brasileiro e a sociedade brasileira, nós precisamos mudar essa relação.
Pois bem, meus companheiros.
Eu já passei por tudo que é desgraça que vocês possam imaginar que um ser humano passou.
Já pensaram?
Pensem mais.
Eu fui ao Canal da Malária, com a Luciana, com a Maria Fernanda, com o João Paulo e vários companheiros.
A coisa mais dignificante foi ver uma senhora - tinha dado enchente na casa dela dois dias atrás, uma fedentina podre na casa dela, aquele chão de terra molhado - com uma mesinha limpinha, com a cama limpinha, com a esperança de que nós íamos fazer.
Nós colocamos o dinheiro lá, e está fazendo agora, não é, Luciana?
E quando estiver pronto eu quero ir visitar a mesma casa e a mesma mulher, para a gente poder dar sinais para essa gente, porque nós temos que ter consciência, Eduardo, e você já passou por isso.
Eu estou vendo aqui o Severino, que também já passou por isso.
Eu sei o que é a vingança da elite brasileira, eu sei o que é, muitas vezes, o ódio de classe demonstrado, às vezes, desnecessariamente.
Aos 60 anos eu sou um homem sem ódio, ninguém vai me deixar nervoso, nem meus companheiros reivindicando me deixam nervoso e nem meus adversários xingando me deixam nervoso.
Eu tenho um objetivo, o objetivo é provar que este País pode dar certo, o objetivo é provar que o povo pode viver melhor, o objetivo é provar que o Brasil pode se transformar numa potência e não ser um País eternamente em desenvolvimento, em vias de desenvolvimento, um País do futuro.
Este País tem tudo para dar um salto de qualidade e o Eduardo disse uma coisa importante.
Esses dias eu estava num lugar e os meus companheiros do Sem-Terra estavam com uma faixa “Reforma Agrária”. É uma coisa que está na minha cabeça, na minha consciência.
Agora, as pessoas podem criticar que nós não fizemos tudo, é justo, mas é justo as pessoas reconhecerem que, em quatro anos, nós desapropriamos 32 milhões de hectares contra 18 milhões em 8 anos do governo passado.
As pessoas querem aumento de salário, é verdade.
Os companheiros nem conseguem tomar posse e já tem uma greve.
Eu aprendi a conviver com greve porque fiz as mais importantes deste País, mas o que eu não acho justo é as pessoas não reconhecerem as coisas.
Nós demos, em média, para algumas categorias que estão querendo fazer greve, 60%, numa inflação de 28%.
Obviamente que eu não acho que as pessoas precisem se conformar com o salário que ganham.
Eu digo sempre o seguinte: quem se contenta com o que ganha não merece o que ganha.
Todos nós temos que brigar cada vez mais, querer cada vez mais, é assim a vida e é bom que seja assim.
A gente ganha 10, precisa de 15, ganha 15, precisa de 20, a gente não pode parar.
O que nós precisamos é não perder a compreensão do limite de quem tem que dar, e se a gente não quiser ficar olhando o adversário, a gente tem que olhar para a casa da gente.
Quem tem filho aqui?
Quantas vezes os filhos pedem uma coisa e você é obrigado a dizer não?
Não é que você não goste do filho.
Quantas vezes a mulher pede para o marido: “Olha, vamos trocar a geladeira, vamos trocar a televisão”.
E quantas vezes você é obrigado a falar não para a sua pessoa amada?
Você está diante de uma situação em que você está colocando o desejo com a possibilidade.
O desejo é fazer, mas quando você olha para o seu contracheque, não dá, então tem que dizer não.
No governo é a mesma coisa, às vezes os meninos têm que dizer não porque não tem, e porque também a gente não pode gastar tudo com folha de pagamento.
Levar água, levar saneamento básico, levar asfalto, levar guia, levar sarjeta, melhorar a saúde, o povo precisa disso.
Nós, no Brasil, Eduardo, muitas vezes queremos pagar pouco imposto e ter muito benefício, não tem lógica, não cabe.
As pessoas falam da Alemanha, falam da França.
Veja quanto as pessoas pagam de imposto lá.
Ninguém reclama porque o Estado pode atendê-los.
Agora, aqui, as pessoas acham: “Eu quero pagar o menos possível e ter o máximo possível”.
Essa conta não fecha.
Eu acho extremamente importante a gente fazer essas discussões mais abertas entre companheiros, porque os adversários não querem discutir isso.
Os adversários querem, na verdade, é impedir que as coisas aconteçam neste País.
A mediocridade de algumas pessoas que acham que elas só terão chance de vencer na vida se eu fracassar.
Agora, se eu fracassar, o fracasso não é meu.
Aquele “cabra” que morou dentro da água, aquele “cabra” que bebeu água do açude em Caetés, aquele “cabra” que bebeu água não filtrada, mas assentada, aquele “cabra” que comia uma vez por dia, quando tinha, virou presidente da República.
Então, as pessoas não vão me prejudicar, até porque os que querem me prejudicar, quando eu não for mais presidente, vão me convidar para fazer palestra para eles e vão pagar.
Quem vai ser prejudicado é o povo deste País, são milhões e milhões de mulheres, crianças, jovens que estão abandonados há meio século.
Como é que a gente recupera isso?
Se não houver, por parte da sociedade, a compreensão de que a disputa eleitoral termina quando conta os votos, contou os votos, não tem mais situação e oposição, pode ter no Congresso, mas para administrar, todo mundo tem que assumir a responsabilidade.
Hoje, Eduardo, eu sou um homem convencido de que só Deus, na sua grandeza infinita, pode impedir que a gente faça as coisas que nós temos que fazer neste País, doa a quem doer.
Nós vamos elevar o padrão de vida dessa sociedade, nós vamos elevar o padrão de vida do povo, fazer essas crianças terem esperança, porque hoje esses jovens que a gente vê na televisão, todo santo dia cometendo violência, são os filhos da década de 80, são jovens que foram nascidos até na época do milagre brasileiro, mas um milagre brasileiro que não sabia que tinha crianças, homens e mulheres neste País.
E nós, agora, temos um estoque acumulado de quase quatro milhões e meio de jovens que já abandonaram a escola, 30% das meninas de 15 a 17 anos estão fora da escola, já com gravidez precoce.
E a gente tem medo de discutir planejamento familiar, o Estado tem medo de dizer que vai dar preservativos, o Estado tem medo de dizer que vai educar, em nome do quê?
A classe média brasileira já aprendeu a ter planejamento familiar.
Perguntem aqui, todo mundo aqui tem um ou dois filhos.
Não é que sejam mais frágeis do que os que têm dez, é que eles aprenderam mais, eles sabem que eles só podem ter o que eles podem criar, se quiserem escola de qualidade, se quiserem comida de qualidade, se quiserem moradia de qualidade.
Agora, se a pessoa não está preparada e enche a casa de dez, quem vai criar?
E também uma outra coisa.
Uma outra coisa que nós precisamos cuidar, neste País, Eduardo, eu sei que houve um tempo em que a esquerda não gostava que a gente falasse isso, isso era atrasado, até falar em pátria era atrasado, João Paulo.
Então, na década de 70, se a gente falasse pátria, “esse cara é conservador”.
Naquele tempo não tinha a palavra neoliberal, era outra coisa qualquer, de direita.
Para mim tem uma coisa sagrada, que é a questão da família.
Se a família estiver bem, tudo está bem, se a família estiver mal, tudo está mal.
Cuidar da família é permitir que a família cuide dos seus, porque senão as pessoas não cuidam e acham que o Estado vai cuidar.
O Estado nem sabe onde a pessoa mora, quem sabe é a mãe e o pai.
Portanto, cuidar, acabar com a desagregação da estrutura da família brasileira, aquele negócio de filho brigar com pai, de pai brigar com mãe, ninguém fica feliz dentro de casa, as pessoas não querem nem chegar em casa porque sabem que é um inferno.
Como é que a gente vai construir uma nova sociedade, se não tiver harmonia entre as pessoas, se os filhos não virem os seus pais como seus mestres, como espelho do que eles querem ser?
Como é que a gente vai construir?
Nesse aspecto, meus companheiros, a televisão brasileira precisa contribuir, e contribuir muito, é preciso ter espaço para a educação, é preciso ter espaço para as boas práticas e para as boas maneiras, porque uma sociedade, a gente não constrói de forma anárquica, cada um querendo fazer o que bem entende, uma sociedade é regida por normas às quais todos nós estamos submetidos.
A norma que fiscaliza desde uma obra que a gente vai fazer até o nosso procedimento, porque nós temos liberdade para tudo, desde que a nossa liberdade não interceda na vida dos outros.
Este é um País que nós vamos construir.
Nós aprendemos muito no primeiro mandato.
Aliás, eu nunca me queixei porque tenho as costas calejadas de apanhar.
Eu digo sempre o seguinte: um nordestino que não morre de fome até os cinco anos de idade, depois, pode ter certeza de que ele vai viver muito.
Eu sei que tem gente incomodada, agora, com a ZPE.
Fizemos a ZPE no Senado, está aprovada, tem gente que é contra a ZPE, Zona de Processamento de Exportação. “Vai acabar com a indústria não sei de onde, não sei das quantas”.
Não.
O que nós queremos é tornar o Brasil mais equânime.
O Nordeste não pode continuar sendo, no mapa brasileiro, reprodutor de pobres.
Nós temos o direito de crescer como todos tiveram o direito de crescer.
Nós não queremos tirar nada de ninguém, o que nós queremos é nos recolocar no mapa deste País, para todo mundo saber que nós não somos apenas estados exportadores de pobres para os estados mais ricos.
Nós não queremos ser só pedreiros, nós queremos ser engenheiros, nós queremos ser médicos, daí por que nós temos que investir na educação no Nordeste, na formação de doutores, nas universidades.
Por que o Nordeste tem que ser, por mais um século, a parte atrasada do Brasil?
Nós não queremos nenhuma parte atrasada, nós não queremos comer o pedaço de pão de nenhum irmão de outra parte do Brasil.
Nós queremos, apenas, que o pão seja partilhado de forma justa.
E que na nossa mesa dessa ceia santa, da partilha mais justa da riqueza brasileira, pelo amor de Deus, vamos descobrir logo quem são os Judas e vamos tirá-los da nossa mesa.
Muito obrigado, companheiros, que Deus abençoe todos vocês.