Por Sérgio Montenegro Filho Alguém acredita que o caso Renangate vai ser o último escândalo a abalar os alicerces do Parlamento brasileiro?
Pois bem.
Depois de tanta lama que o cidadão comum já viu jorrar daquela Casa, seria até normal apostar que não houvesse mais quem pusesse a mão no fogo - ou na urna - por nenhum dos atuais integrantes do Legislativo.
Com o perdão da generalização.
Mas há quem o faça.
Pesquisa realizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP), revela um dado preocupante: 76% da população desconfiam do Congresso Nacional.
O mais alarmante, porém, é saber que outros 24% ainda confiam nos congressistas, depois de tudo o que se viu ali.
O resultado do levantamento, inclusive, foi obtido bem antes do caso envolvendo o presidente do Senado.
Data de junho de 2006.
Foram 2.004 entrevistas realizadas em todo o País, mas somente agora os números foram divulgados.
Outro dado inquietante - e, em princípio, contraditório - é que apenas 68% dos mesmos entrevistados dizem preferir a democracia a qualquer outro sistema, embora o Parlamento seja tido como símbolo da liberdade.
A leitura pelo avesso diz que outros 32% dos brasileiros já apostam em outras soluções, digamos, menos democráticas.
Bom, se serve como alívio, em 1989 - na época da primeira eleição direta presidencial pós-64 - uma pesquisa semelhante revelou que apenas 51% dos brasileiros preferiam a democracia.
Coordenador da pesquisa, o professor José Álvaro Moisés, da USP, analisa que é como se os brasileiros amassem a democracia como um ideal, mas odiassem as instituições por desconfiar do seu funcionamento prático.
Uma reação que, segundo ele, não representaria perigo real e imediato, mas a longo prazo pode ser problemática sim.
Se os dados iniciais não bastam aos nossos políticos como advertência, tem mais: 31,5% dos entrevistados acreditam que a democracia pode funcionar sem partidos e 28,7% acham que ela funciona mesmo sem o Congresso Nacional.
Ou seja, um terço da população brasileira está disposta a dispensar os seus representantes no Legislativo, bem como as legendas pelas quais eles são eleitos.
E, se isso também não tirar o sono dos senhores parlamentares, vem o desfecho, em tom “saudosista” e de arrepiar: 51,8% dos entrevistados da pesquisa concordam com a idéia de que, se houver uma situação de grave impasse no País, o governo pode resolver o problema passando por cima das leis, do Congresso e das demais instituições. É o cenário dramático de um filme de terror que muita gente não gostaria mais de ver.
Mas a julgar pelos seus atos, a maioria dos políticos não se incomoda em estimular a idéia de ressuscitar um monstro que pode devorar, inclusive, eles próprios.