Por Sérgio Montenegro Filho Da Editoria de Política do JC Embora seja um nome presente na política nacional há vários anos, nunca a família Calheiros esteve tão em evidência no País como nas últimas semanas.

No entanto, as denúncias envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e outras que recaíram sobre seu irmão, o deputado federal Olavo Calheiros (PMDB-AL), terminaram tirando a tranqüilidade de um terceiro representante do clã no Congresso Nacional, o deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB), alagoano radicado em Pernambuco.

Mesmo tendo construído sua carreira numa trajetória ideológica e política diametralmente oposta a dos irmãos, os acontecimentos recentes levaram Renildo a um “mergulho forçado”.

Abertamente, ele evita qualquer comentário sobre o assunto, mas amigos do parlamentar comunista afirmam que em nenhum momento ele descuida do caso envolvendo seus irmãos, sobretudo Renan.

Tem participado ativamente de todas as reuniões, se mantém em contato direto com o senador e seus advogados e não hesita em defendê-lo nas rodas privadas de conversa.

De fato, quem assistiu à TV Senado no dia em que Renan fez seu discurso de defesa, viu o senador entrar no plenário ladeado pelos irmãos.

Os três parlamentares comungam do mesmo entendimento sobre o caso, que acreditam estar sendo superdimensionado por motivos políticos.

Na opinião dos Calheiros, trata-se de uma articulação montada por um grupo de congressistas – parte deles de oposição ao Planalto – interessados em forçar Renan a deixar a presidência da Casa e, assim, deflagrar o processo sucessório para assumir o comando.

Com a insistência do peemedebista em permanecer no cargo – decisão apoiada por Renildo e Olavo – a intensidade dos ataques teria sido ampliada. “Esses irmãos são duros na queda.

Renan não vai sair da presidência, e os outros dois vão apoiá-lo até o fim.

Se quiserem o cargo, vão ter que cassá-lo”, garante um político de bom trânsito junto à família, que pede anonimato devido à delicadeza do tema.

Delicado ou não, o fato é que defensores do clã Calheiros reforçam alguns dos argumentos usados na defesa de Renan.

Um deputado próximo do grupo, por exemplo, lembra que a criação de gado é uma atividade da família há várias gerações, inclusive a do patriarca, Olavo Calheiros, já falecido.

Esse mesmo parlamentar se arrisca a avalizar a lisura dos documentos e notas fiscais apresentados pelo presidente do Senado para comprovar que o dinheiro utilizado para pagar a pensão da filha dele com a jornalista Mônica Veloso vem dos negócios com o gado, e não de empreiteiros com os quais ele tem ligação. “Renan mostra as provas, mas tem gente que não quer ver, porque só está interessada em derrubá-lo”, diz o aliado do peemedebista.

Ao longo dos últimos 35 dias, desde que a revista Veja trouxe as primeiras denúncias, nem Olavo nem Renildo saíram de perto do irmão senador.

Isso não impede que Renildo mantenha intactas as suas convicções políticas.

Pessoas próximas ao parlamentar garantem que ele não se inspirou nos irmãos quando entrou na política.

Tanto que escolheu o PCdoB – partido do qual hoje é vice-presidente nacional – e não o PMDB, como fizeram Renan e Olavo.

Em compensação, há quem compare o jogo de cintura do vice-líder do governo Lula com o do irmão presidente do Senado, embora reconheça que Renan tem dificuldades em se posicionar como oposição a qualquer governo. “Renan é um homem de centro, que se movimenta bem nos círculos de poder.

Renildo faz o mesmo que ele, mas sempre pela esquerda”, diz um colega dos irmãos Calheiros.