Circula na internet texto atribuído ao jogador Zé Roberto, que recentemente deixou o Santos Futebol Clube e a seleção brasileira para voltar à Alemanha, onde vinha morando e já jogou por muito tempo.

Normalmente, não falamos de futebol neste espaço.

Até porque o Blog do Torcedor, também deste JC OnLine, assinado por Marcelo Cavalcante, já cumpre muito bem esta função.

Mas, na verdade, o texto não é sobre futebol. É sobre insegurança, violência.

E ainda que exagere na dose em certos momentos (quando fala de religião, por exemplo), faz um pequeno retrato da enrascada em que o Brasil se meteu, enquanto se multiplicam em Brasília e por todos os lados escândalos envolvendo supostos representantes do povo.

Vale a pena ler. “JOGADOR ZÉ ROBERTO SE DESPEDE DO BRASIL Inicialmente gostaria de expressar minha gratidão ao Brasil.

Foi com prazer que por muito tempo defendi a camisa canarinho e me orgulhei de ser brasileiro.

Infelizmente este país não faz mais parte de mim.

Por muitos anos, vivi com minha família na Alemanha e me identifiquei completamente com o país.

A despeito de certos intolerantes e racistas, que são minoria, minha família se integrou totalmente ao modo de vida alemão.

Minhas filhas mal falam português e são totalmente fluentes em alemão.

Para voltar ao Brasil, isto pesou muito.

Queria que elas se sentissem, como me sentia, brasileiro.

Queria que conhecessem o meu país, que falassem a minha língua nativa, queria mostrar o lado bom do Brasil, um pouco diferente daquilo que volta e meia aparece nos noticiários da TV alemã.

A tentativa foi em vão.

Muito embora tenhamos ficado em uma cidade muito acima da média do padrão de vida brasileiro, os males que a assolam me parecem regra, não exceção na vida brasileira.

Não nos era permitido andar sem seguranças; minhas filhas não podiam em hipótese alguma passear ou brincar na rua; ir à praia que fica a menos de 100m de nosso apartamente também era contra a recomendação do que nos passavam os seguranças e companheiros de clube.

Todo o tempo que estivemos no Brasil, ainda que livres fisicamente, éramos reféns psicológicos.

Mesmo sendo um ídolo local, o risco parecia nos acompanhar a cada esquina virada, a cada momento em que passeávamos.

A sombra do sequestro ocorrido dois anos atrás com outro ídolo local, Robinho, nos perseguia por todos os lados.

Assistir o noticiário televisivo alimentava ainda mais nossos medos.

Por sorte, minhas filhas não entendem muito bem o português.

Se entendessem, descobririam um país em que o crime está por todos os lados: está nas escolas, está nas faculdades, está no Judiciário, está no Congresso e está até mesmo na família do presidente.

Imagino o choque cultural para elas, criadas em um país com padrões morais tão rígidos.

Me ponho no lugar delas, penso como deve ter sido desagradável esta estadia no Brasil.

O que pensavam quando dizíamos que elas não podiam andar livremente nas ruas?

O que pensavam quando dizia que era melhor não dizer às amigas que eram minhas filhas?

Como entendiam que não brincar na rua, que não passear em parques e que sempre andar com aqueles homens que não conheciam, era o melhor para elas?

Minhas filhas devem ter detestado o Brasil.

Foi com muita alegria que receberam a notícia de que voltaríamos à Alemanha.

Além da segurança, há a questão da discriminação.

Embora etnicamente muito diferente da população local, minhas filhas sempre foram respeitadas e nunca vistas com menosprezo.

Aqui no Brasil, onde todas as raças se misturaram e não dá para saber quem é o que, sofríamos com um tipo de discriminação inimaginável para elas: éramos vistos como anormais por nossa religiosidade.

Por aqui imaginam que negros sofram de racismo na Alemanha, mas praticam uma intolerância inexplicável por sermos evangélicos.

Ou, como é dito pejorativamente por aqui, somos \CRENTES, palavra carregada de maus juízos.

Dentro do futebol, jogadores como eu que se organizam em grupos chamados de ´Atletas de Cristo´, são vistos com ressalvas,especialmente pela mídia que acompanha o esporte.

Por todos estes motivos, levo minha família de volta à Europa.

Pelo meu sucesso e também pelas nossas escolhas, o Brasil se tornou um suplício para aqueles a quem mais amo.

Batalhei a vida inteira para sair da pobreza e ter sucesso profissional.

Acima de tudo isto, sempre busquei construir uma família feliz e correta.

Hoje, a felicidade de minha família tem como pré-requisito afastá-las do Brasil.

Por isto que, ainda que com tristeza, faço o melhor para elas.”