Por Ana Lúcia Andrade e Paulo Sérgio Scarpa, do JC Na semana em que a bancada estadual do PSDB expôs suas diferenças e uma total desarmonia entre seus pares, o dirigente-mor do partido, senador Sérgio Guerra, falou ao JC.

Deixou claro que reconhece a falta de unidade do grupo, mas atribuiu aos perfis diferentes dos parlamentares o principal motivo da diferença de comportamento.

Guerra diz que é preciso entender a existência de tucanos simpatizantes, e até aliados, do governo Eduardo Campos (PSB).

JORNAL DO COMMERCIO – O PSDB já começou a discutir a sucessão municipal do Recife?

SÉRGIO GUERRA – Não.

A gente tem que se preocupar com a sucessão proporcional.

Essa é a prioridade. É óbvio que a melhor proposição para a gente (oposição) é ter vários candidatos.

Mas vamos ver como se comportam os demais partidos.

O DEM tem o nome óbvio de Mendonça Filho.

O PMDB está nessa indefinição entre Raul Henry e Cadoca.

O PPS tem o nome de Raul Jungmann.

E nós temos vários nomes: o de Terezinha Nunes, o de Pedro Eurico…

Mas isso (candidatura própria à PCR) tem que ser visto com mais um pouco de amadurecimento.

Nesse momento, o PSDB tem o projeto de confirmar sua base rural e procurar crescer nas cidades metropolitanas e na Câmara do Recife.

JC – O senhor descarta então uma candidatura à Prefeitura do Recife?

GUERRA – Nesse momento eu tenho essa possibilidade de ir para a presidência nacional do PSDB.

Como é que eu posso ser candidato aqui com esse projeto?

Há cerca de cinco meses o presidente Fernando Henrique Cardoso me perguntou se era o caso de eu assumir a presidência do partido.

Eu respondi que se fosse um encaminhamento normal eu gostaria muito. É bom pra mim e estou em condições de ajudar.

Ele me disse que não via dificuldades para isso e me falou da composição de um conselho, composto pelas lideranças maiores do partido, e a criação de uma diretoria com base profissional mais forte.

Ele defende que haja gente mais profissional na administração do PSDB e com dedicação exclusiva para organizar de fato o partido.

Eu nunca fiz campanha.

Só nos últimos 15 dias é que comecei a conversar com a bancada federal e a buscar o apoio deles.

Foi o único gesto parecido com campanha que eu tive até agora.

Como isso vai evoluir não sei.

O PSDB tem uma maneira muito complicada de equacionamento político.

Tem grandes lideranças que quando se entendem são capazes de resolver tudo.

Eu próprio acho precoce tratar disso porque o atual presidente do partido (Tasso Jereissati) vai governar até o último momento, com toda certeza.

JC – Quando o senhor fala que o PSDB precisa ver com mais amadurecimento a candidatura própria à PCR significa que a legenda ainda não criou condições para esse projeto?

GUERRA – O partido ainda não foi atrás disso.

Por hora estamos interagindo com o PPS e com as portas abertas para conversar. É isso que existe.

JC – O senhor avaliza a posição da deputada Terezinha Nunes, de que chegou a hora de o PSDB fazer oposição a Eduardo Campos?

GUERRA – A questão da bancada é dela, não é minha.

A posição da deputada não é necessariamente a da bancada.

JC – Mas isso ficou evidente durante o episódio da CPI da Celpe.

Terezinha ressaltou, inclusive, a existência de divergências sérias no grupo, que, segundo ela, permanecerão, e denunciou existir governistas dentro do PSDB…

GUERRA – Pelo que sei, alguns parlamentares da bancada na Assembléia não têm a mesma atitude que Terezinha tem em relação ao governo do Estado. É o caso de Carlos Santana (ex-prefeito de Ipojuca) que, ainda na campanha, me procurou para dizer que por questões locais votaria em Eduardo Campos.

Tem que se entender isso.

Nós nos formamos na mesma área que Eduardo e o PSB se desenvolveram.

JC – É o que diferencia a oposição que Terezinha faz da do restante da bancada tucana?

GUERRA – Ela pode responder melhor do que eu.

JC – Mas como o senhor as diferencia?

GUERRA – Pedro Eurico também faz oposição com nitidez.

Agora, é fato que a bancada tem verdadeiramente atitudes diferentes.

Mas todos são tucanos.

Certos parlamentares têm uma relação com o governo do Estado diferente de outros.

São parlamentares que têm bases no interior, que vão disputar eleições municipais, e que não têm a história que Terezinha teve por exemplo.

Nossa bancada é formada por pessoas diferentes.

Somos uma bancada aberta.

Já na campanha tivemos parlamentares que não votaram em Mendonça Filho.

Nem por isso foram punidos.

Evidente que esses têm de ter em relação ao governo Eduardo uma atitude diferente daqueles que são historicamente contrários não apenas a Eduardo, mas à política do PSB.

Terezinha tem o espaço dela. É preciso que os outros também tenham o seu.

O importante é que o conjunto da bancada se entenda.

Quando for possível eu ajudar nisso, ajudarei.

Mas se for o caso de eu entrar para dizer que um ou outro tem razão não vou entrar.

O partido precisa de todos.

Precisa ser forte, precisa ter votos para melhorar na eleição municipal e mais ainda na de 2010.

JC – Mas essa divisão da bancada não põe em dúvida a posição do PSDB em relação ao governo Eduardo Campos?

GUERRA – Nossa atitude não é de confronto com Eduardo.

Até porque é muito precoce esse confronto.

O governo dele ainda não se estruturou de uma maneira objetiva.

Há uma necessidade de tempo para que ele se consolide.

Não vamos produzir radicalidade.

Na minha opinião isso não constrói.

Nem é a nossa marca.

Estou sendo muito claro.

JC – Mas o senhor concorda com as críticas à interferência do governo na definição dos principais cargos da CPI da Celpe?

GUERRA – À distância, quero chamar bem a atenção para isso porque não quero me meter nessas questões, eu acho que houve um equívoco inicial quando o governo indicou um oposicionista para relator (Raimundo Pimentel).

Essa indicação era tarefa da oposição.

Esse tipo de equívoco, que fere o funcionamento parlamentar, produz desequilíbrio.

Isso não faz sentido parlamentar e prejudica o funcionamento da própria CPI.

As CPIs já são instrumentos muito desmoralizados.

Se essa, que trata de um assunto popular como o da energia elétrica, não tiver essa estruturação de conjunto, ela tem uma grande tendência a não dar certo, a não produzir resultados.

JC – Quando o senhor conclui que a aliança cumpriu seu papel, e não se estrutura mais no antigo modelo, o senhor coloca o PSDB em que caminho?

GUERRA – A aliança se estruturou em torno de Jarbas e, em outro momento, da sucessão dele.

Não funcionou.

Ela não foi aprovada.

Nesse instante, nós só temos chance como partidos se pensarmos Pernambuco de outro jeito.

Não podemos repetir o discurso que fizemos antes.

Com os compromissos que tínhamos antes.

No caso do Recife, impõem-se várias candidaturas.

Nós do PSDB temos nomes.

Mas é cedo para pensar sobre isso.

Eu próprio tenho uma dificuldade para resolver porque não tem sentido eu imaginar disputar a Prefeitura do Recife se eu estiver na presidência nacional do meu partido.

JC – Mas não me refiro apenas ao episódio eleitoral.

O PSDB se situa em que campo político com o fim da aliança?

GUERRA – Digo e repito: o PSDB não tem posição radical ao governo Eduardo Campos.

Achamos que não é o caso.

Seria precoce um intenso combate ao que ele está fazendo.

Está claro que o governador tem intenção de resolver várias questões do Estado.

Mas são questões que dependem de forma muito forte do governo federal.

Se o governo Lula confirmar o que prometeu, Eduardo tem grandes chances de fazer um bom governo.

Mas tenho dúvidas se as ações chegarão aqui como o governo do Estado espera.

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) está empacado no sentido geral.

As obras estruturantes para o Nordeste estão, em grande parte, apenas anunciadas.

Mas a gente tem que ajudar Pernambuco.

Se esses projetos forem concretizados não tem como deixar de elogiar: seja o governador ou o presidente da República.

Mesmo sendo adversários deles.

Temos que ter equilíbrio porque não é uma situação fácil.

Ao contrário do que dizem, Pernambuco não vai bem.

As atividades econômicas que prevalecem aqui são as mesmas de dez anos atrás.

Não houve mudança econômica substantiva em Pernambuco.

Os anos da gestão Jarbas criaram as condições para que os projetos ditos estruturantes ganhem substância.

São eles que mudarão o padrão da economia do Estado.

Mas eles não se deram nos últimos oito anos e creio que terão muita dificuldade de se concretizar nos próximos quatro.