Greve nos serviços públicos Por Sérgio Goiana Quando o assunto é serviço público há sempre um estigma de preconceito.

Culpa das nossas elites que o idealizaram para atender seus próprios interesses e não o da maioria do nosso povo.

Resultado: temos um país campeão de distorções sociais e com uma demanda incalculável por políticas públicas.

E não se iludam: por mais que um novo governo tente mudar essa realidade, levar-se-á décadas para colocar as coisas num patamar aceitável.

Enquanto isso, haja pancadas nos servidores e nos serviços públicos, como se fossem esses e não aqueles os verdadeiros responsáveis pelo caos em que se encontra o Estado brasileiro.

Como sindicalistas exigimos, há anos, mudanças estruturais nos serviços públicos, para que ele possa cumprir seu papel social junto à população.

Infelizmente, entra governo, sai governo e o discurso é sempre o mesmo: é preciso cortar gastos em nome da redução do déficit fiscal.

Trocando em miúdos: necessitamos de mais e mais recursos para pagar os juros das infindáveis dívidas interna e externa.

Sobre isso não fala a mídia, não fala governos.

Mal informada, a sociedade continua creditando aos servidores e aos serviços públicos todas as mazelas do país.

Antes de se discutir a regulamentação da greve nos serviços públicos, melhor seria se discutir que Estado queremos para nosso povo.

Se esse, que tem prevalecido ao longo da nossa história, elitista e de costas para a maioria dos brasileiros; ou um outro, radicalmente democrático e popular, que serviria acima de tudo aos interesses dos mais necessitados.

Ai sim, em um segundo momento, faríamos de forma amadurecida e objetiva a discussão sobre as paralisações no setor.

Mas, sem mudanças efetivas e fundamentais, estaremos perdendo energia e tempo.

O essencial hoje é mudar a face do Estado brasileiro.

Da água para o vinho, preferencialmente.

Para quem vê o problema de fora, talvez não acredite no que estamos falando.

Todavia, sem a realização de concursos públicos, sem a reestruturação do Estado, pela ótica dos excluídos, e sem mais recursos para setores vitais como saúde, educação, meio ambiente, segurança, reforma agrária, proteção ao trabalho, de nada adiantara ficar discutindo limites para greve de servidores.

Até porque quem conhece nossa história sabe que nunca precisamos de autorização para ir às ruas, são exemplos as greves da década 70 e do inicio dos anos 80.

E não seria agora que iriamos pedir autorização.

O Governo Federal apesar de ter aliviado a tensão existente entre os servidores que vivam em constante ameaça, tem esquecido de fazer a revolução necessária ao resgate da cidadania e da dignidade de nosso povo.

Sérgio Goiana é presidente da CUT Pernambuco.