A República por um triz Por Jayme Asfora Crise ética?
Hoje acredito que, há muito, superamos a fase da crise ética.
Chegamos a um ponto em que uma das bases de sustentação da República brasileira está afundando.
Essa base, que responde pelo nome de Senado Federal, sofre um desgaste jamais visto em toda a sua história.
E não adianta comparar o escândalo envolvendo o presidente Renan Calheiros com alguns já ocorridos porque nunca houve um impacto tão avassalador na instituição como o ocorrido agora.
Estamos falando de um senador, presidente da Casa, envolvido em graves denúncias de favorecimento ilícito a empresas contratadas pelo setor público e que, em troca, arcou com suas despesas pessoais.
Não vamos continuar com essa hipocrisia de que trata-se apenas de um caso extraconjugal mantido por Calheiros.
Estamos falando do envolvimento ilícito desse senador com uma empreiteira.
O mínimo que poderíamos esperar do parlamentar era o seu afastamento da Presidência do Senado, enquanto as acusações sejam investigadas. É totalmente intolerável que ele mantenha-se em atividade e menos ainda na cadeira de presidente.
Além disso, durante esse período vem utilizando-se abertamente da estrutura funcional que o cargo lhe garante - que inclui gabinete no senado, servidores, imóvel funcional, entre outros - para discutir sua defesa pessoal.
O que vemos diante de nós?!
Uma tentativa aberta de inocentar o senador sem que uma investigação mínima ocorra.
Nos últimos anos, o Brasil conseguiu alcançar patamares econômicos significativos até diante dos mercados internacionais.
Mas não podemos deixar que o nosso desempenho econômico nos deixe cegos diante dos fatos. É preciso dar ouvidos às poucas vozes de respeito que ainda sobram naquela casa.
Diante da tentativa voraz de alguns colegas de decretar sumariamente a inocência de Calheiros, os peemedebistas Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon não se acanharam de solicitar o afastamento do acusado, pelo menos, do cargo de presidente.
Está na hora de salvaguardar a imagem do Senado, em detrimento a qualquer preocupação com esse ou aquele ocupante de uma de suas cadeiras.
O que está em jogo é a democracia brasileira.
Chega de jogos e manobras.
Toda essa situação também acelera a necessidade de uma reforma política urgente. É preciso acabar com a eterna troca de favores entre políticos e empresas.
O financiamento público de campanha é uma das soluções para garantir uma maior independência dos mandatos ao mesmo tempo em que democratiza as oportunidades de renovação da política brasileira. É preciso encontrar caminhos que preservem a dignidade do País.
Lidamos hoje com crimes previstos na Constituição.
Não é possível fechar os olhos para essa situação e empurrar para debaixo do tapete mais um escândalo.
E está nas mãos desse mesmo Congresso oferecer a resposta que o povo pede.
Uma reforma política ampla e concreta.
Talvez assim, ainda seja possível consertar o Brasil.
PS: Jayme Asfora é presidente da OAB-PE e escreve para o Blog às quintas.