Por Luciano Siqueira Podemos ter uma cidade melhor ou pior, conforme seja o nível de participação da juventude na vida social e política.

A afirmação é do prefeito Patrick Jarry, de Nanterre, cidade francesa vizinha a Paris que é governada pelo Partido Comunista desde 1930 - portanto, há precisos 77 anos ininterruptos, descontando-se o breve e doloroso período de ocupação nazista, na II Guerra Mundial.

O prefeito de então, informa Jarry, foi encarcerado pelo exército de Hitler, mas após a libertação foi eleito e retornou à chefia do governo local.

Nanterre é a derradeira etapa de nossa viagem, que se iniciou por Beijin, Nimgbo e Shanghai e se prolongou até Guanghzou, na China.

O encontro com o prefeito Jarry teve a intenção de explorar as possibilidades de cooperação entre Nanterre e Recife, que poderá se iniciar com a troca de idéias e experiências sobre a promoção do protagonismo juvenil como política pública.

Jarry interessou-se pelo nosso programa Que História é essa?, que atualmente envolve cerca de 2 mil jovens no Recife.

Ele fez referência a iniciativas desenvolvidas em Nanterre.

Colocamo-nos de acordo quanto à importância estratégica da juventude no processo de elevação da consciência cidadã em nossas cidades.

Aí na província (ainda estamos em Nanterre, de onde enviamos esse breve comentário), temos refletido sobre o assunto.

Na coletânea de artigos nossos publicada pela Editora Anita Garibaldi sob o título O Vermelho é Verde-Amarelo, abordamos o programa Que História é essa? sob essa perspectiva, num artigo escrito em junho de 2003.

Sem desconhecer o peso das obras de pedra e cal, do estímulo às atividades econômicas no município e das políticas sociais básicas, mencionamos a contribuição que nos cabe dar para a formação de uma avançada consciência social, assentada na idéia de que os usuários dos nossos programas são sujeitos de direitos e partícipes da transformação social.

Algo difícil de mensurar e de traduzir através de gráficos, quadros ou tabelas, ausente dos relatórios de gestão, porém definidor do êxito ou do fracasso de todo governo que se coloque numa perspectiva libertária.

Daí a absoluta importância de se gerar oportunidades e formas de interagir com o cidadão de modo a construir um processo comum de aprendizado - técnicos e povo - que resultem na superação dos mecanismos usuais de dependência do indivíduo em relação ao Estado e na elevação da sua consciência política.

Este o sentido maior da busca do protagonismo juvenil na vida democrática da cidade.

O Que História é essa? É parte desse esforço, com significativo êxito.

Adolescentes de 15 a 18 anos, inscritos no Programa Agente Jovem e egressos do PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), participam de um jogo - o RPG Social - em que “contracenam” com atores que encarnam personagens da História, reproduzindo cenas marcantes do passado, relacionando-as com a vida hoje.

Ninguém é expectador.

Todos tomam parte ativa na brincadeira.

Para isso, submetem-se a uma preparação prévia de dois meses, discutindo os assuntos contidos no Almanaque do Agente Jovem e fazendo visitas monitoradas a locais que tenham a ver com o tema.

Ao final, percebem-se os impactos sobre o modo de ver a vida e a postura participativa de pelo menos uma parte dos adolescentes envolvidos, que se descobrem pertencentes a um povo que tem história e se sentem partícipes da continuação dessa história.

Mas o desafio é fazer com que a participação juvenil ultrapasse os limites dos programas governamentais e se torne desejo espontâneo e influência efetiva nos destinos da cidade através dos seus fóruns democráticos.

O que reforça a importância do diálogo entre Nanterre e Recife sobre o tema, que pretendemos aprofundar.

PS: Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e escreve para o Blog de Jamildo todas as quarta-feiras.