Ana Lúcia Andrade, repórter de Política do JC Silvio Burle, repórter do Blog O ex-deputado Joaquim Francisco (DEM) está mergulhado no silêncio desde que saiu derrotado das urnas de 2006, quando tentou a reeleição à Câmara Federal.

Mas não deixou de fazer política.

Dividindo, agora, a atividade com a advocacia, o ex-parlamentar tem andado pelo interior e não perdeu o antigo hábito de conferir o “termômetro” das ruas populares do Recife.

No último dia 1º, Joaquim aceitou conversar com o JC.

Atribuiu sua derrota à legenda, o ex-PFL, e confessou que a dificuldade de se eleger pelo partido – hoje apeado das três esferas de Poder – ficou ainda maior.

Reconhece que não tem disponibilidade para o trabalho de soerguer a legenda, mas avisa que pretende retornar ao Parlamento em 2010.

O partido?

Ainda vai avaliar.

Antes, porém, vai se dedicar à eleição da esposa, Sílvia Cavalcanti, que pretende disputar um mandato de vereadora do Recife.

Joaquim Francisco revela, ainda, a conversa que manteve com o governador Eduardo Campos (PSB).

Elogia os primeiros meses de sua gestão e avisa aos que ousam criticá-lo pelo diálogo e disposição que pretende manter com o governador: “Você pode ser altivo, consciente, ideologicamente definido, sem precisar ser burro.

O ambiente estranho a mim é um ambiente de ódio, de raiva, de vingança.

Não vejo sucesso nisso não”.

JORNAL DO COMMERCIO – O que o senhor tem feito depois que perdeu as eleições?

Abandonou a política?

JOAQUIM FRANCISCO – Não.

Estou na fase de fixação do meu escritório de advocacia, mas olhando o futuro com olhos de político.

Depois de mais de 30 anos de vida pública não tenho desgosto, mágoa, nem estou desiludido.

Tive 75 mil pessoas que confiaram em mim e espero que outros mais continuem a ter confiança.

Um episódio eleitoral não significa dizer um julgamento.

Até porque a legenda (ex-PFL) é que dificultou a minha eleição.

Apesar de ter tido 74 mil votos, não consegui me eleger.

JC – O olhar para o futuro é em que direção?

JOAQUIM – Na do mandato de deputado federal.

Aproveitarei esse momento para enriquecer meu currículo com outras atividades, como a advocacia, consultoria, palestras, artigos, mas não se desloca da cabeça de um homem público – a não ser que seja por trauma – o espírito público.

JC – Já que o senhor atribui sua derrota à legenda, na hipótese de disputar outro mandato, será ainda pelo Democratas?

JOAQUIM – Nós temos aí uma reforma política.

Espero que pelo menos algumas medidas sejam tomadas.

Só então vou avaliar os partidos…

Sem dúvida que agora é muito mais difícil disputar uma eleição pelo PFL. É preciso muita garra, muita disposição, muita convicção, e muita rua.

Esse partido me encontra hoje afastado, em pouca movimentação política.

Não tenho disponibilidade de tempo para viajar pelo Estado ajudando a ampliar a base.

Uma parcela do povo me mandou procurar outra atividade.

E eu tenho que consolidá-la.

Mas tenho três anos ainda.

Agora, já minha mulher, se decidir disputar um mandato de vereadora do Recife, terá um pouco mais de pressa.

JC – E ela tem essa pretensão?

JOAQUIM – Tem analisado.

Ela gosta do serviço público, fez um excelente trabalho na Cruzada de Ação Social (em seu governo) no interior do Estado e especificamente no Recife, quando fui prefeito e ela presidente da LAR.

Por onde tenho andado as pessoas têm se referido a ela de forma muito positiva.

E acho que nesse momento, uma pessoa com a experiência que ela tem, com os serviços prestados, com o amor por essa causa de servir ao próximo…

Eu sempre digo que o político da família mesmo é ela.

Eu sou apenas o acompanhante.

JC – O senhor tem mantido, recentemente, alguns contatos com o governador Eduardo Campos?

JOAQUIM – Estive com ele há 20 dias (a entrevista foi concedida no dia 1º de junho) e lhe disse da minha disposição.

Tenho vários títulos de ‘ex’: ex-prefeito, ex-governador.

Não posso me negar a colaborar com um programa que diga respeito ao Estado.

Com uma refinaria que lutei por ela, um estaleiro, um programa de estradas, só porque o governador não é o que eu gostaria que fosse?

Se nós queremos ser maduros para, inclusive, construir programas, refundar um partido, por que não construir uma coisa diferente?

Eu falo isso por convicção e prática.

Quando assumi a Prefeitura do Recife meu primeiro encontro foi com os ex-prefeitos da cidade.

Quando fui buscar dinheiro para Suape no governo, convidei todos.

Eu vejo assim.

JC – Essa conversa pode evoluir para uma aproximação política ou o senhor descarta essa possibilidade?

JOAQUIM – Não conversamos sobre política, efetivamente.

Não vejo obstáculos para se conversar.

Muita gente não sabe mas eu construí o Hospital Geral do Agreste e fui convidado por Arraes para a inauguração.

Ele trouxe a fábrica da Maizena para Garanhuns e eu o convidei (Arraes) para a inauguração.

JC – O que o senhor está querendo dizer com isso?

JOAQUIM - Estou querendo dizer que Pernambuco tem uma certa rebeldia para com a estreiteza.

O povo do Estado está começando a entender que as brigas não levam a nada.

Acho que como homem público rompi certas amarras, o que foi importante para Pernambuco.

Você pode ser altivo, consciente, ideologicamente definido, sem precisar ser burro.

Um ambiente estranho a mim é um ambiente de ódio, de raiva, de vingança.

Não vejo sucesso nisso não.

JC – Como o senhor avalia os primeiros meses do governo Eduardo?

JOAQUIM – É um governo equilibrado, sensato.

Ele tem muita experiência parlamentar, e apesar da idade nova, o que não é defeito, é qualidade, mas apesar da pouca experiência no Executivo tem procurado ouvir.

Acho que esse é o caminho.

Esse debate de quem fez mais ou quem fez menos não me lembro de nunca ter deixado de haver.

A exceção talvez tenha sido eu e Miguel Arraes.

Não perdemos tempo com esse tipo de coisa, talvez pela escola.

Estudamos na escola do espírito público, do querer fazer.