Por Edílson Silva Nas últimas semanas a administração do prefeito João Paulo está enfrentando uma verdadeira batalha para levar adiante a construção do Centro de Entretenimento projetado pelo escritório do arquiteto Oscar Niemeyer, denominado Parque Dona Lindu, em Boa Viagem.

Neste debate nos localizamos entre os que defendem a predominância do verde em áreas públicas, mas também estamos entre os que defendem espaços públicos verdadeiramente democráticos e blindados contra sua captura por grupos já bem favorecidos economicamente.

De forma apaixonada, polêmicas confrontam Verde versus Concreto e Parque versus Centro de Entretenimento.

Como pano de fundo, estes debates pairam sobre questões como o espaço público versus espaço privado, que, por sua vez, suscitam um debate sobre a democracia. É percebível também que tem muita gente pegando carona nesta polêmica para tirar proveito eleitoral.

Não estamos entre estes, por isso afirmamos previamente que, independente dos rumos desta polêmica, a administração de João Paulo, para aqueles que possuem um mínimo de honestidade intelectual, é indiscutivelmente acima da média daquelas que o antecederam.

No entanto, do nosso ponto de vista, a polêmica em torno deste Parque realça um ponto fraco gritante na gestão João Paulo: o desrespeito às questões ambientais.

A proposta de construir este Centro de Entretenimento, valorizando o concreto em detrimento do verde natural que poderia ser o ponto alto daquela rara área livre em Boa Viagem, se soma à autorização para a construção das duas torres na área da antiga Mesbla Náutica e ao concreto e asfalto da Via Mangue.

No caso das duas torres, além de burlar a legislação que impede a construção de prédios em terrenos adjacentes a cursos d\água, a Prefeitura revelou complacência com a privatização de uma área privilegiada - um espaço próximo a um dos mais movimentados terminais urbanos do Recife, o do Cais de Santa Rita - que poderia estar à disposição da população, devolvendo-lhe inclusive a vista para o mar, que naquele trecho da cidade parece não existir.

O caso da Via Mangue, a via expressa que pretende ligar o bairro do Pina a Setúbal, é ainda mais grave.

Pois, com o nítido objetivo de favorecer a especulação imobiliária para estufar ainda mais os bolsos já conhecidos, a Via Mangue invadirá manguezais e pavimentará terrenos virgens para possibilitar a construção de arranha-céus, o que afetará irremediavelmente o vigoroso ecossistema que existe entre os bairros de Boa Viagem e Imbiribeira, onde vivem comunidades que sobrevivem deste ecossistema, como a Ilha de Deus.

Tudo isso aponta que, especialmente em tempos de aquecimento global, a sociedade não pode confiar nos governos.

As ações locais impulsionadas pela própria sociedade civil podem fazer muita diferença em quase todos os aspectos, inclusive na preservação do meio ambiente.

Pequenas ações e gestos em defesa de um ecossistema podem compor um robusto esteio capaz de conter certas degradações e promover a valorização ambiental, elevando a qualidade de vida da população.

Assim, a luta em defesa do meio ambiente precisa mobilizar as comunidades e ganhar capilaridade.

No caso do Parque Dona Lindu, a luta contra a construção do Centro de Entretenimento proposto pela Prefeitura extrapolou os limites comunitários da zona sul, alcançando outros pontos da cidade e ganhando repercussão nacional, significando, entre outras coisas, uma tomada de consciência da população sobre suas responsabilidades políticas e ambientais.

Nesta perspectiva, a luta contra a construção de um Centro de Entretenimento no Parque Dona Lindu passou a ser também um símbolo de mobilização pela preservação ambiental.

E é neste contexto que apoiamos a luta dos moradores de Boa Viagem contra o projeto proposto pela Prefeitura do Recife.

PS: Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao governo do Estado em 2006 e escreve às sextas-feiras para o Blog do Jamildo