Do Caderno C Para Guimarães Rosa, ser poeta é estar metido numa certa forma de velhice.
Isso talvez explique a precocidade de Bernardo Valença, que, aos 16 anos, lança hoje seu primeiro livro, Onomatopéia do silêncio (Bagaço, 81 páginas), na União Brasileira dos Escritores (UBE).
São, ao todo, 64 poemas, que tematizam o amor, a natureza, o Carnaval, os modos de vida, a família (um dos poemas é dedicado ao avô, o ex-governador Miguel Arraes).
Tudo tratado muito despretensiosamente, o que foi bem-percebido por Jommard Muniz de Brito no prefácio, que assim define os textos: “Alguns valem por uma crônica.
Outros, pela sinceridade do pensar”.
De fato, trechos como “Foi de tristeza e vergonha, não foi só cachaça” (Entorpecido) ou “Com o tempo a gente descobre/Como as pessoas são por dentro” (Encontros) não o deixam mentir.
Na simplicidade, Valença procura sublimar a idade curta.
Bastante pé-no-chão, o próprio poeta busca fugir da pompa ao se definir: “Um jovem poeta não tem muita influência.
Eu escuto Chico Buarque, Noel Rosa, gosto de ler Drummond, mas meu conhecimento literário ainda não é muito grande, não, o que eu venho procurando corrigir”, diz, modesto, em entrevista JC.
No bate-papo, só um assunto ele prefeiriu deixar em aberto: por que Onomatopéia do silêncio? “É o título de uma das poesias, e eu acho que define muito, ele tem várias faces, você pode intrepretá-lo de vários modos, desde o mais banal até o mais complicado.
Eu tenho uma forma de interpretar, que nem é tão banal nem tão complicada, mas não vou dizer, para não influenciar a leitura dos outros”, afirma, valendo-se de uma estratégia que, no fim das contas, é a pedra fundamental da poesia: a linguagem cifrada, o jogo da construção de sentidos que se estabelece entre autor e leitor (A.L.).
PS: O Lançamento de Onomatopéia do silêncio, de Barnardo Valença.
Hoje, a partir das 18h, na UBE (Rua Santana, 202, Casa Forte).