Bispo diz que Lula mentiu para o Brasil Jornal O TEMPO, de Minas Gerais “Lula mentiu para o Brasil.” A frase enfática do bispo da Diocese de Barra (BA), dom Luís Flávio Cappio, que em outubro de 2005 fez greve de fome em protesto contra a transposição do rio São Francisco, exprime a indignação do religioso com o início das obras.
O canal, que levará água do rio para o semi-árido nordestino, começará a ser aberto na próxima quarta-feira em Cabrobó, no sertão pernambucano, segundo o comandante da tropa do Exército instalada na cidade, major Aristocles Batista.
Por telefone, dom Luís Cappio disse ontem ao Jornal O TEMPO que o acordo firmado pelo presidente Lula para que ele encerrasse a greve de fome que durou 11 dias não foi cumprido. “O presidente assinou um documento afirmando que abriria um diálogo sobre alternativas à transposição e não cumpriu com sua palavra.
Ele mentiu para o Brasil e demonstrou a falta de seriedade desse governo com o povo, nos empurrando um projeto goela abaixo, numa total falta de respeito”, criticou o bispo.
Período militar Para dom Luís Cappio, “a presença do Exército em Cabrobó, para dar início às obras, remonta o período militar no país.
Estamos vivendo uma ditadura militar, com a imposição dessas obras que serão tocadas pelo Exército”, disse.
O bispo de Barra classifica a transposição do São Francisco como uma agressão ao meio ambiente, à economia e ao povo brasileiro. “Do ponto de vista ecológico, a agressão se dá pelo fato de retirarem água de um rio que está morrendo, agonizando.
O projeto não se justifica economicamente, pois há alternativas mais baratas para acabar com a seca no Nordeste.
Portanto, estarão jogando dinheiro público pelo ralo.
Por fim, essa água retirada do São Francisco não será usada para matar a sede dos pobres, mas para atender grandes projetos oligárquicos, como a produção de camarão”, afirmou dom Luís Cappio.
O Ministério da Integração Nacional vai investir na transposição R$ 4,5 bilhões, recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A proposta é levar água a 12 milhões de nordestinos que sofrem com a seca no Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Greve de fome Dom Luís Cappio deu início à greve de fome no dia de 26 de outubro de 2005, um dia após se instalar na capela de São Sebastião, localizada na zona rural de Cabrobó.
A pequena igreja fica a 500 metros do rio São Francisco, na propriedade da família de Isaura Pereira da Silva, 69.
Na época, ela morava com o marido, Lídio Pereira da Silva, 68, filhos e netos, ao lado da capela.
Dona Isaura se emociona ao relembrar dos 11 dias de penitência feita pelo bispo. “Dom Luís chegou num domingo e nós colocamos uma mesa de café, mas ele só quis tomar um pouquinho de suco, comeu um pedacinho de bolacha e disse que aquela seria sua derradeira refeição. À noite ele celebrou uma missa.
No outro dia o bispo começou a greve de fome e garantiu que só se alimentaria depois que chegasse a resposta da carta que ele tinha enviado ao Lula”, contou.