Maria Luiza Borges Enviada especial à China, na missão da Fecomércio Ir às ruas para comprar de uma simples caneta ao mais sofisticado equipamento eletrônico na China é tarefa para profissional.
Digo: para mercador profissional.
No comércio de rua, ou mesmo nas lojas, barganhar é a ordem.
E dizem que os chineses mais tradicionais ficam tristes se você não fizer isso.
Nunca os preços são os que eles pedem.
Geralmente, buscam vender pela metade do preço que começam pedindo.
Para quem não está acostumado esse exercício teatral pode parecer perda de tempo e gasto de energia desnecessário.
Mas quando você entra no jogo de cena, pode acabar achando graça.
Da primeira vez que fui a um mercado, ainda em Pequim, no primeiro dia da missão empresarial, me assustei.
Os chineses pegam você pelo braço e geralmente não lhe deixam ir enquanto não fecham o negócio, às vezes por um décimo do preço inicial.
Isso pode levar 5, 10 minutos.
Imagina para comprar lembrancinhas para a família inteira? É um dia de vai-não-vai.
Com a barreira da língua, toda loja chinesa tem uma máquina de calcular. É nela que eles escrevem o preço inicial.
Aí o cliente digita sua oferta, 10% do pedido.
O chinês faz careta, muxoxo, e digita outro preço, já quase a metade.
Aí é a sua hora de você mostrar desinteresse.
Faz que vai embora, volta e bota 20% do preço.
Até o ponto em que o vendedor aceita sua oferta.
Quando isso acontece, é como se você tivesse assinado um contrato.
Nem pense em desistir da compra.
Só tem uma exceção essa política de barganha.
Os mercados do governo Chinês.
Neles, vale o que está escrito.
No máximo um desconto-padrão de 10%.
Os guias locais (vinculados a uma agência estatal), várias vezes levaram o grupo da missão empresarial a um desses mercados – de cloisonné (artesanato em cobre), de pérolas, de seda.
Em geral, os preços eram salgados, mas havia uma vantagem: poder pagar com cartão.
Sim, porque, na China, pode sair de casa sem o seu… ele não serve para nada…
Demorei uma semana para descobrir o porquê de ninguém querer saber dos dois abandonados cartões que eu levava na bolsa.
Quem me revelou o motivo foi uma simpática vendedora de uma loja de eletrônicos em Xangai.
Raridade entre as raridades, era uma das únicas que falava inglês.
E me disse que todas as transações internacionais passavam pelo Banco da China (mais uma estatal nessa história), que retinha 5% de taxa.
E a gente ainda reclama da CPMF…
Já pensaram que loucura vai ser se eles não repensarem isso até os Jogos Olímpicos de 2008?
PS: Será por isto que a economia deles cresce tanto?
Os recursos não ficam na mão do governo, para serem desperdiçados?