Por Ana Lúcia Andrade e Paulo Sérgio Scarpa Da Editoria de Política do Jornal do Commercio Apontado pelo prefeito João Paulo (PT) como um de seus preferidos à sucessão em 2008, o secretário de Planejamento Participativo, Obras e Desenvolvimento Urbano e Ambiental, João da Costa, abre o jogo.
Diz que tem uma identidade muito forte com o governo João Paulo – sua expressiva votação para a Assembléia mostrou isso – e revela estar convencido de que o candidato à sucessão do prefeito “tem que expressar o governo porque quem vai ser julgado são as duas administrações João Paulo”.
Em entrevista ao JC, em seu gabinete, na terça-feira (5), o secretário falou porque optou pelo retorno ao Executivo, ao invés de exercer o mandato de deputado estadual para o qual foi eleito com 65.097 dos votos, ocupando a posição de terceiro mais votado.
E chama a atenção do PT para que o partido tenha maturidade e consiga “pactuar minimamente as relações internas” na condução do processo sucessório. À frente do programa carro-chefe das duas administrações petistas na capital, o Orçamento Participativo, João da Costa cumpre, neste sábado (9) pela manhã, uma intensa agenda administrativa – nada mal para quem é apontado pelo prefeito como uma forte alternativa às eleições do próximo ano.
O secretário libera nada menos do que meio milhão de reais, R$ 550 mil, precisamente, em obras para a cidade do Recife.
Vários bairros serão contemplados com recursos para a execução de obras definidas pelas seus próprio moradores.
Jornal do Commercio – Por que o senhor decidiu não exercer o mandato de deputado estadual?
João da Costa – Porque estou muito envolvido com esse projeto que a gente está desenvolvendo no Recife.
São projetos que não estão muito distantes das prioridades que eu daria ao mandato.
Até por ter tido quase 44 mil votos no Recife, ter sido o mais votado da capital, uma votação praticamente concentrada na Região Metropolitana.
Fiz o discurso do desenvolvimento urbano e da participação na gestão pública.
O que estou fazendo aqui para a base que me elegeu é o que defenderia na Assembléia.
Mas aqui tenho condições de executá-las.
JC – O senhor vai concluir então o trabalho?
Fica até o final do mandato do prefeito João Paulo?
Costa – Fico.
JC – É uma decisão já tomada?
Costa - A decisão tomada foi a de voltar para cá (Prefeitura).
O que vai acontecer daqui para lá…
A gente não pode prever o futuro.
A motivação de voltar para cá foi para concluir bem o mandato de João Paulo.
As outras discussões fazem parte de circunstâncias.
De um processo que não está definido.
JC - Como surgiu sua candidatura a deputado estadual?
Costa - Houve algumas motivações.
Pela relação que tenho com João Paulo não poderia me lançar candidato sem ter conversado com ele.
E sem ter recebido seu incentivo.
Agora todo o trabalho que a gente fez, defendendo algumas teses no Executivo, são pouco defendidas no Legislativo.
Não se tem um porta-voz da participação popular como a gente executa aqui.
Os conceitos de desenvolvimento urbano que são vitais para qualquer modelo de desenvolvimento de Pernambuco.
Eu não vi nenhum candidato com compromissos claros com essas teses.
JC – Mas quando o senhor teve a oportunidade de levar essas teses ao Legislativo optou em voltar para o Executivo.
Costa – É porque aqui posso executá-las.
Aqui posso colocar um debate público fazendo.
Quando a gente renova o Orçamento Participativo, coloca ele em outras bases, isso tem mais espaço na sociedade do que se eu estivesse fazendo um pronunciamento na Assembléia Legislativa.
JC – A que o senhor atribui sua votação expressiva para a Assembléia Legislativa numa primeira disputa eleitoral?
Costa - João Paulo teve uma contribuição decisiva.
Porque eu fiz minha campanha baseado no que a gente estava fazendo no governo.
E o governo é identificado com a figura dele.
Mas não foi só pelo seu apoio. É pela identidade que eu tenho com o governo e que o governo tem com a figura de João Paulo.
JC – Quando João Paulo expressou a preferência pelo seu nome para sucedê-lo, seguido de outros dois fiéis assessores, foi só uma deferência ou há um projeto concreto de que o sucessor dele deve sair desse núcleo?
Costa - A gente vem construindo um projeto político que tem em João Paulo sua principal expressão.
Achamos que pela trajetória que ele construiu ele seria uma liderança.
A gente apostou nisso e construiu isso há 20 anos. É evidente que o candidato à sucessão de João Paulo tem que expressar o governo porque quem vai ser julgado são as duas administrações dele.
Mas também tem que ter a capacidade de articular os partidos que formam a aliança que governa Pernambuco.
Tem que ser um candidato que permita ter uma representatividade suficiente para poder disputar com competitividade.
JC – O senhor preenche esses requisitos?
Costa – Essas circunstâncias vão se formando.
Não há um candidato competitivo antes do processo se estabelecer.
A eleição vai discutir o seguinte: a sociedade quer continuar esse projeto ou quer uma mudança de rumo?
Esse será o julgamento.
Veja o que aconteceu com João Paulo na reeleição: ele tinha 54% de rejeição, era o terceiro, mas a população, no processo eleitoral, achou melhor que esse projeto continuasse para fazer o que ainda não tinha sido feito.
JC – Mas escolha de João Paulo deu-se em um ambiente interno de muito mais entendimento do que hoje.
O PT está muito dividido para as eleições de 2008…
Costa - O PT tem condições de amadurecer politicamente.
A gente tem uma responsabilidade dentro e fora do PT que é de nossa geração.
Pernambuco tem nos próximo 15 anos uma oportunidade histórica que talvez não tenha tido nos últimos 50.
E quem quer se propor a ser dirigente político para esse próximo período tem que ter maturidade.
Ou o PT tem isso ou pode perder o bonde da história.
Pode perder a oportunidade política de continuar um projeto que está dando certo.
O partido precisa entender que é mais importante tratar a perspectiva da continuidade de um bom projeto do que olhar para dentro.
A gente já avançou em alguns consensos: o de não ter prévias e o de que João Paulo deve coordenar o processo.
Temos que construir o consenso de que, para que o PT consiga aglutinar os aliados e tenha condições de disputar bem a sucessão, tem que se compor internamente.
Pactuar minimamente as relações internas.
JC – O senhor é uma alternativa para continuar esse projeto do PT?
Costa – Sou colocado por algumas pessoas como essa alternativa.
Pelo próprio prefeito, pelo resultado que obtive nas eleições de 2006, pelo trabalho que venho realizando na gestão, pela trajetória de militância no partido, pela experiência de ter coordenado várias eleições.
Mas a candidatura do PT tem que surgir a partir de uma pactuação interna.
Não se pode querer ser candidato de qualquer jeito e inviabilizar um projeto que vem dando certo.
Acho que a gente tem de considerar o que fizemos pela cidade: a retirada de 5 mil famílias das palafitas e melhoria as condições de vida dessa população, a redução praticamente a zero do risco de morte por desabamento de 400 mil pessoas, o investimento de R$ 300 milhões em áreas da cidade com a população decidindo, são conquistas importantes.
JC – O senhor é quem mais se identifica com essas conquistas?
Costa – Tenho uma identidade muito grande com o governo João Paulo.
Fui o mais votado no Recife (em 2006) e tive quase o dobro do segundo colocado.
Acho que houve uma identidade da cidade com meu trabalho.
E estou convencido de que a eleição será o julgamento das duas gestões do prefeito João Paulo.
Vamos ter uma eleição difícil: depois de dois mandatos, João Paulo não sendo mais o candidato.
São circunstâncias que dificultam mais o partido evoluir e construir a continuidade do projeto.
Isso requer maturidade.
JC – O candidato que for melhor identificado como representante dessas gestões larga mais forte?
Costa - Eu acho que sim.
Se a população, claro, quiser continuar com esse perfil de gestão.
Agora também pode ser que daqui para 2008 haja outros fatores que sejam mais fortes do que esse.
Por exemplo: o desempenho do governo Lula, do governo Eduardo, as perspectivas de articulação das forças que querem construir esse campo em Pernambuco. Às vezes isso se torna mais forte. É evidente que no PT há disputa sobre os rumos do partido.
Agora, o PT governa hoje o Recife, tem perspectiva de continuar dirigindo esse processo, mas isso vai exigir do partido olhar não apenas a sua correlação de forças internas, mas o papel que pode ter na disputa estadual.