Por Josias de Souza De volta de uma viagem de nove dias ao Reino Unido, à Índica e à Alemanha, Lula reagiu com impaciência ao vazamento para a imprensa de diálogos de seu irmão captados pelos grampos telefônicos da Operação Xeque-Mate.

Oficialmente, mandou dizer, por meio da assessoria de imprensa, que não vai comentar o assunto.

Em privado, destilou irritação: “Esse negócio de segredo de Justiça virou uma piada no Brasil”, disse a um auxiliar.

Lula retornou ao Brasil neste sábado (9).

No final da tarde, voou para São Bernardo do Campo, cidade onde mantém um apartamento e onde também mora o primeiro-irmão Vavá.

Ali, pretende passar o final de semana.

Nas primeiras avalizações do episódio envolvendo seu irmão, feitas em reserva, Lula considerou que não há nos diálogos expostos no noticiário nada que possa embaraçá-lo ou comprometer o seu governo.

Longe disso.

Ainda assim, acha que, por trás dos vazamentos, esconde-se a intenção de deixar sua administração em maus lençóis.

Lula ecoa uma queixa que se tornou comum nos meios políticos desde que as mega-operações da Polícia Federal passaram a impor constrangimentos a figurões do governo e do Congresso.

O tema já havia sido debatido, há duas semanas, em reunião do conselho político, que congrega os dirigentes dos partidos do consórcio governista.

Na presença de Lula, as lideranças partidárias queixaram-se da divulgação clandestina de dados sigilos dos inquéritos e de supostos excessos cometidos pela PF na execução de mandados de prisão. Àquela altura, a polícia ainda não aplicara o xeque-mate na quadrilha de caça-níqueis que estendeu os seus tentáculos até a casa de Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão mais velho de Lula.

A bola da vez era, então, Silas Rondeau, desalojado do ministério de Minas e Energia sob a acusação de ter recebido propina de R$ 100 mil da Gautama, aquela construtora da Operação Navalha, sucedânea da Operação Furacão.

Presente à reunião, Lula deu razão aos queixosos.

Chegou mesmo a encomendar ao ministro Tarso Genro (Justiça) a apuração de responsabilidades pelos vazamentos.

Não há, por ora, notícia acerca da identificação dos responsáveis.

Em manifestações feitas nos dias subseqüentes à reunião do conselho, Tarso realçou uma coincidência: os vazamentos costumam ocorrer depois que os advogados dos acusados têm acesso às peças dos inquéritos.

Alheios aos queixumes, os agentes da PF realizaram, entre segunda (4) e quarta-feira (6), um congresso nacional na cidade de Fortaleza (CE).

Foi organizado pela Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais).

Ao final do encontro, divulgou-se uma “Carta de Fortaleza”.

O documento traz, nas entrelinhas, respostas a algumas das críticas que vêm sendo dirigidas ao trabalho da polícia.

O texto anota, por exemplo, que a PF é órgão de Estado e, como tal, deve agir “desvinculado das posições ideológico-partidárias dos governos.” Os policiais defenderam, de resto, “a divulgação universalizada das atividades da Polícia Federal junto aos meios de comunicação, sem privilégios a qualquer segmento da mídia”.

Uma clara referência à condenação dos vazamentos seletivos.

O problema é que, à luz da lei, os processos que retratam os resultados “das atividades” da PF deveriam correr em segredo.