Quando a desobediência civil educa Por Edilson Silva Ontem, dia 7 de junho, uma delegação composta por 34 pessoas embarcou às 03h40 do aeroporto do Recife com destino ao aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, para participar do 1º Congresso Nacional do PSOL.

Antes de chegar ao Rio de Janeiro, conexão em Congonhas, São Paulo, onde esperamos mais de uma hora por atraso.

Normal.

Após embarque, mais de uma hora dentro da aeronave em solo.

Não muito normal, mas absolutamente tolerável.

Em vôo, mudança de rota, com o pouso sendo transferido do aeroporto Santos Dumont para o aeroporto do Galeão, muito distante do centro do Rio de Janeiro.

A delegação do PSOL procurou saber da tripulação se o translado de um aeroporto para o outro estaria garantido, recebendo do comandante do vôo uma resposta positiva.

Normal, estas coisas acontecem.

No desembarque procuramos o primeiro funcionário da empresa aérea Tam, que nos garantiu o translado e indicou o despachante que se encontrava no piso superior, que providenciaria este serviço corriqueiro nestas ocasiões.

Ao encontrarmos o despachante da Tam, fomos recebidos com um sonoro “não”, seguido de grosserias e gritos por parte do funcionário, que “optou” por não falar com os representantes do grupo e dirigir-se diretamente ao conjunto das pessoas, em tom ameaçador, praticamente enxotando-nos do aeroporto.

Ao solicitarmos falar com seu superior hierárquico, disse-nos que ele era a autoridade máxima da Tam para aqueles casos, numa arrogância visivelmente treinada.

Muitíssimo anormal e já muito revoltante.

Insistimos e procuramos o superior do despachante.

Encontramos um sujeito ainda mais arrogante, desrespeitoso e irônico.

Colocamos a ele que faríamos um protesto no aeroporto contra a situação, não apenas sobre o transporte acordado e de direito que nos foi negado, mas também contra a forma absurda como a Tam estava tratando a situação com os passageiros.

A resposta dele: fiquem à vontade.

E nós Ficamos.

Procuramos uma porta aberta que nos permitisse ter acesso ao pátio de manobras das aeronaves.

Achamos e descemos até a pista, cerca de 40 passageiros.

Em menos de dez minutos surgiu um supervidor geral da Tam, nos garantindo o transporte e, tão ou mais importante naquele momento, educadamente, usando inclusive as famosas palavrinhas mágicas “por favor” e “com licença”.

Saimos da pista assim que fomos tratados com um mínimo de respeito.

A Tam, imediatamente após a desocupação da pista buscou envolver a Infraero e a Polícia Federal no caso.

Após ouvir nossos argumentos, ainda no saguão das esteiras onde pegávamos nossas malas, um educadíssimo delegado da Polícia Federal, Sr.

Denis, descartou qualquer atitude nossa que justificasse uma ação na sua esfera.

Ao perceber que a imprensa já se deslocava em massa para o local, a Tam buscou desviar o foco do caso.

Orientou um de seus funcionários a prestar queixa por agressão sofrida por alguns passageiros.

O tiro saiu pela culatra, pois os protestos no saguão foram se ampliando e a imprensa teve ainda mais tempo para fazer a cobertura e esticar as reportagens.

Alguns passageiros também prestaram queixa contra os funcionários da Tam na Delegacia do Aeroporto.

Já no meio da tarde, o supervidor que havia garantido o translado para o Santos Dumont procurou-nos, visivelmente envergonhado, para avisar que a diretoria da Tam, em função da forte repercussão negativa em toda a imprensa, havia determinado que o transporte não fosse mais efetivado.

Não sabemos se o episódio trará alguma mudança no comportamento da Tam, que em função dos últimos problemas envolvendo o transporte aéreo parece ter orientado seus funcionários a agir com dureza, aspereza e truculência com passageiros sabedores de seus direitos e com um mínimo de disposição de reclamar.

Certamente o saldo deste episódio não foi positivo para esta empresa.

Os recursos que ela gasta em publicidade para polir sua imagem pública são muitíssimo maiores que a disponibilização de um simples transporte terrestre para cumprir seus compromissos com “seus” passageiros.

Por nosso ato recebemos muitas manifestações de apoio.

De policiais, passageiros, funcionários do aeroporto, jornalistas.

Todos indignados com a prepotência destas empresas.

Mas é verdade que recebemos críticas também.

Alguns nos procuraram para perguntar: vocês não acham que exageraram?

E são perguntas como estas que nos fazem refletir mais.

Quantos de nós já não sentiram a angústia da sensação de impotência diante de uma situação?

Numa enorme fila de banco, em que a lei de limitação de tempo dentro da agência não é respeitada e o funcionário lhe manda procurar o Procon.

A conta telefônica errada, sempre a mais, que precisamos gastar ainda mais dinheiro e tempo para corrigir.

Esta sensação é terrível e revoltante.

Foi assim que nos sentimos no aeroporto.

Então, ousamos quebrar o protocolo, pois as grandes empresas já têm todo um aparato para discutir nas vias legais os reflexos de suas irresponsabilidades.

A Tam tem um corpo jurídico robusto, covarde até, para ser mais preciso, para discutir e protelar nos tribunais milhares de ações.

E é esse comportamento que eles esperam da população. “Não está satisfeito?

Entre na justiça.” Entraremos na justiça, sim.

Mas optamos também em mostra-lhes que há limite para tudo, e que uma hora, a coisa sai do controle deles.

Se não ousassemos, estaríamos agora numa outra fila, de reclamações.

Valeu a pena a ousadia.

PS:Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao Governo do Estado em 2006 e escreve todas as sextas-feiras para o Blog de Jamildo